Texto por Marina Lorenzini
Tendo em vista o possível
Fim do Mundo Maia no dia 21 de dezembro de 2012, nada melhor que escolher o
filme “Melancolia”, de Lars von Trier, para falar sobre. O filme
conta a história do fim do mundo e o comportamento humano diante essa situação
de morte iminente. Um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a
Terra. Nesse meio tempo Justine (Kristen Dunst) está se casando e sua irmã
Claire (Charlotte Gainsbourg) lhe prepara uma grande recepção num castelo.
Entretanto, o que aparentemente deixaria Justine feliz, acaba deixando-a num
mar de dúvidas e arrependimentos logo em sua festa. São pequenas coisas que
acabam levando-a ao ponto extremo do cansaço de fingir felicidade em função das
pessoas ao redor.
Sorrisos por
conveniência, discursos familiares e de trabalho, tensão jogada pra baixo do
tapete, enfim, tudo maquiando bem a cerimônia de recepção, a fim de mostrar que
todos ali estão cumprindo seu dever de estarem felizes. Devido a
fragilidade emocional, Justine é mostrada na segunda parte do filme já sozinha
e numa profunda depressão. O casamento não dá certo e ela agora está com a
família da irmã. O fim do mundo, que de modo geral causaria pânico
e tristeza nas pessoas, em Justine acaba causando um fortalecimento, uma
sensação de alívio por saber que o fim está próximo, que finalmente sua
tristeza desaparecerá. Por isso, ela aceita de braços abertos o que está por
vir.
O diretor Lars, na
segunda parte do filme, faz um contraste sobre o comportamento das pessoas e
sobre como elas são realmente. Claire, a irmã de Justine, que passa a primeira
parte do filme agindo de forma séria, firme e sensata, entra em desespero ao
descobrir que em poucas horas tudo, deixará de existir. Claire tem marido e
filho, o que lhe dá segurança e motivo para seguir sempre em frente, mas com o
fim do mundo, ela perderia tudo que lhe faz ser.
Dessa forma, quem toma o
controle devido a calma aceitação do fim, é Justine. Lars diz que a reação de
Claire representa a maioria das pessoas, já Justine, que se abala com
acontecimentos aparentemente banais e sem grande significado, não se preocupa
com o fim de tudo. Outro personagem que vale a pena citar é
Kiefer, marido de Claire, que passa o filme todo como o homem da ciência e
sempre confiante, tem um final trágico e um comportamento muito mais
desesperado que o das duas mulheres, apesar de contido e silencioso.
A trilha sonora do
filme, pra deixá-lo ainda mais tenso e aflito, mesmo que não haja grandes
discussões ou cenas de explosão e gente gritando pelas ruas (que é o que
estamos acostumados a ver quando se trata de filme sobre o fim do mundo), é o
prólogo da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Quem conhece a música,
mas ainda não assistiu o filme, já começa a entender e imaginar como ele é e
como nos sentimos quando estamos de frente à tela. O roteiro foi
baseado na peça "As Criadas" de Jean Genet, que conta a história de
duas empregadas que acabam matando a patroa. Outra citação de arte é uma das
mais marcantes cenas do filme, onde mostra Justine com seu vestido de noiva
sendo levada pela correnteza do rio, referência à pintura Ophelia, de John
Everett Millais.
É dessa forma serena que
segue o fim do mundo. Sem grandes movimentações, acontecimentos ou notícias
preocupantes. O mundo simplesmente acaba, e esse nem é o ponto principal do
filme, que é alimentado unicamente pelo comportamento e reação de cada um
diante o inevitável. Lars conseguiu mostrar que é possível falar sobre, e até
demonstrar pânico junto com calmaria diante do que poderíamos considerar como a
pior das catástrofes.
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