Ambientada na fictícia cidade de Santana do Agreste, no Nordeste brasileiro, a novela Tieta, uma adaptação do romance de Jorge Amado, tem início quando Tieta (Claudia Ohana) é escorraçada da cidade pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), irritado com o comportamento liberal da jovem e influenciado pelas intrigas de sua outra filha, Perpétua (Adriana Canabrava). Humilhada e abandonada pela família, ela segue para São Paulo, fugindo do conservadorismo de sua terra natal. Vinte e cinco anos depois, Tieta (Betty Faria) reaparece em Santana do Agreste, rica, exuberante e decidida a se vingar das pessoas que a maltrataram.
Cássio G. Mendes e Betty Faria |
No dia de sua chegada, está sendo rezada uma missa em sua memória. Ela interrompe a celebração, chamando a atenção de todos na igreja e desfazendo o mal-entendido. A ousada Tieta diz que veio para ficar e acaba mudando a rotina de todos os moradores da pequena cidade. Os que a condenaram na juventude passam a cortejá-la, movidos pela sua fortuna ou atraídos por sua exuberância. Para chocar a família, ela se envolve com o sobrinho, o jovem seminarista Ricardo (Cássio Gabus Mendes), filho de sua rancorosa irmã Perpétua (agora Joana Fomm).
Cláudia Ohana como Tieta |
Os habitantes ainda se veem às voltas com a instalação de uma fábrica de dióxido de titânio na cidade, que, se por um lado trará desenvolvimento, por outro causará um forte impacto ambiental na região. Santana do Agreste, próxima de Aracaju e Salvador, estava parada no tempo até que Ascânio Trindade (Reginaldo Faria), que se mudara de lá quando jovem, volta com o objetivo de trazer o progresso e a civilização ao local. Ele se torna secretário da Prefeitura e, junto com Tieta, promove a modernização da cidade.
Tramas Paralelas:
Arlete Salles e Miriam Pires |
A força feminina
Tieta também apresenta a história de outras personagens femininas marcantes, como Imaculada (Luciana Braga), uma das “rolinhas” do prefeito Artur da Tapitanga (Ary Fontoura), que dá abrigo, alfabetização e comida a meninas, em troca de favores sexuais; Carol (Luiza Tomé), a “teúda e manteúda” amante do coronel Modesto Pires (Armando Bógus), que a tiraniza; a doce e ainda virgem Carmosina (Arlete Salles) que, já adulta, descobre o amor e o sexo; Tonha (Yoná Magalhães), a sofrida mulher de Zé Esteves, pai de Tieta (Betty Faria), que, com sacrifício, consegue se libertar da perversidade do marido; e Elisa (Tássia Camargo), que, em crise com o marido, Timóteo (Paulo Betti), tem sonhos românticos com o ator Tarcísio Meira, chegando a preparar um enxoval para um possível encontro com o ídolo. Já a personagem Dona Milu (Míriam Pires), mãe de Carmosina, fez sucesso com seu bordão: “Mistério!”
Roberto, Reginaldo, José e Paulo |
Ala masculina
Entre os personagens masculinos da novela, destacam-se os Cavaleiros do Apocalipse, como são conhecidos os inseparáveis amigos Timóteo (galã que se sente frustrado por não ser mais solteiro); Amintas (Roberto Bonfim), dono de uma casa de materiais de construção; Osnar (José Mayer), ex-amante de Tieta (Betty Faria) e o mais conquistador do grupo; e Ascânio (Reginaldo Faria), que traz o charme de quem morou na capital. O grupo sempre se reúne no bar do seu Chalita (Renato Consorte).
Perpétua:
Lilia, Joana e Rosane |
A atuação de Joana Fomm fez da traiçoeira beata Perpétua uma das personagens preferidas do público. Extremamente conservadora e sempre de luto, ela guardava no armário uma misteriosa caixa branca cujo conteúdo só foi revelado no final da trama: o órgão genital de seu falecido marido. Perpétua rendeu muitas cenas de humor à novela.
“Mulher de branco”
“Mulher de branco”
Um dos principais assuntos da população de Santana do Agreste era a identidade da “mulher de branco”, assombração que atacava os homens da região. O mistério criou suspense entre os telespectadores e só foi revelado no final da trama. A mulher era Laura, personagem de Cláudia Alencar.
Figurino e Caracterização:
Todos os personagens vestiam roupas em algodão e de modelagem muito simples. A única exceção era a protagonista, Tieta (Betty Faria), que sempre se vestia de forma exuberante, com cores fortes e brilhos, abusando de calças compridas justas, bermudas, shorts e saltos bem altos. Tieta também usava muitas joias, além de ter unhas grandes, exageradamente pintadas. Segundo a figurinista Helena Gastal, a breguice da personagem, expressa em roupas com estampas de onça, brincos enormes e até no penteado, foi bem definida pelo supervisor Daniel Filho, à época: “A Tieta é do Agreste, não é de Ibiza". A viúva Perpétua, personagem de Joana Fomm, foi definida pela figurinista Helena Gastal como uma “Mary Poppins do cangaço”: roupa preta, sapato abotinado e um guarda-chuva sempre à mão. Uma alusão à personagem interpretada por Julie Andrews no filme Mary Poppins (1964), de Robert Stevenson.
Curiosidades:
O autor Aguinaldo Silva comemorou o fato de ter conseguido abordar na novela o tema da pedofilia – por meio da trama envolvendo o coronel Artur da Tapitanga (Ary Fontoura) e suas “rolinhas” – sem que os telespectadores ficassem chocados.
Paulo Betti e Tássia Camargo |
Betty Faria recorreu aos ensinamentos da fonoaudióloga Glorinha Beutenmüller para compor Tieta. Para dar conta dos atributos físicos da personagem de Jorge Amado, a atriz contou com a ajuda de um personal trainer, exercitando a musculação para ganhar um corpo mais desenhado.
Aguinaldo Silva ressaltou que, em Tieta, pretendeu fazer uma metáfora sobre a volta da liberdade de expressão na novela brasileira. No capítulo em que Tieta (Claudia Ohana) é expulsa de casa pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), ele arranca aquele dia do calendário e diz: "Faz de conta que esse dia nunca aconteceu". O dia marcado na folhinha é 13 de dezembro de 1968, data em que foi promulgado o AI-5.
Marcos Paulo viveu o vilão Arthurzinho |
Segundo Aguinaldo Silva, muitas tramas que não existiam no original de Jorge Amado foram criadas na novela, para dar conta de uma produção de quase 200 capítulos. O autor afirmou que o romance, como foi escrito, renderia apenas uma minissérie de, no máximo, 30 capítulos. Reynaldo Boury, diretor da novela, contou que Tieta começou a ser produzida a 40 dias de sua estreia. Isto porque a novela prevista para entrar no horário das 20h seria Barriga de Aluguel, de Gloria Perez, que já estava em produção e prestes a ser gravada. Mas José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni – então vice-presidente de operações da TV Globo –, reprogramou Barriga de Aluguel para as 18 horas, e ordenou a produção de Tieta.
Yoná Magalhães como Tonha |
Ary Fontoura homenageou o ator Rafael de Carvalho com sua interpretação do coronel Artur da Tapitanga. Ele tentou imitar o modo de falar do colega que, entre outros trabalhos, viveu o coronel Coriolano na novela Gabriela (1975).
Joana Fomm optou por uma linguagem circense na interpretação da moralista viúva Perpétua. O que, a princípio, pareceu uma temeridade – alguns achavam que ela deveria mudar o tom –, revelou-se um achado. A personagem foi um dos grandes sucessos da novela. Segundo a atriz, as situações propostas pela trama e a harmonia entre os atores resultavam em muitas gargalhadas nas gravações.
José Mayer como Osnar |
José Mayer encontrou em Mangue Seco (Bahia), locação da novela, um acessório que viria a ser uma das marcas visuais de seu personagem, o bem-dotado Osnar: um chapéu usado, pertencente a um morador, que o ator ganhou em troca do modelo que usaria em cena. A ideia foi do próprio Mayer, que vislumbrou no chapéu um elemento que daria mais vivência ao personagem. Além disso, para compor Osnar, o ator se inspirou no diretor Paulo Ubiratan, imitando um de seus gestos corriqueiros: o de sungar as calças.
Elenco:
Betty Faria – Tieta
Joana Fomm – Perpétua
Reginaldo Faria – Ascânio Trindade
Armando Bógus – Modesto Pires
Yoná Magalhães – Tonha
José Mayer – Osnar
Cássio Gabus Mendes – Ricardo
Lídia Brondi – Leonora
Paulo José – Gladstone
Marcos Paulo – Arturzinho de Tapitanga
Sebastião Vasconcelos – Zé Esteves
Paulo Betti – Timóteo
Arlete Salles – Carmosina
Ary Fontoura – Coronel Artur de Tapitanga
Tássia Camargo – Elisa
Lilia Cabral – Amorzinho
Luiza Tomé – Carol
Flávio Galvão – Comandante Dário
Cláudia Alencar – Laura
Cláudia Magno – Silvana
Bete Mendes – Aída
Cláudio Correa e Castro – Padre Mariano
Luciana Braga – Imaculada
Roberto Bonfim – Amintas
Françoise Forton – Helena
Otávio Augusto – Marcolino Pitombo
Miriam Pires – Dona Milu
Renato Consorte – Chalita
Elias Gleizer – Jairo
Ana Lucia Torre – Juracy Pitombo
Benvindo Siqueira – Bafo de Bode
Rosane Gofman – Cinira
Liana Durval – Rafaela
Cristina Galvão – Filomena
Roberto Frota – Leôncio
Renata Barbosa – Letícia
Danton Mello – Peto
Guga Coelho – Bentinho
Eduardo Cardoso – Sabino
Jonathan Nogueira – Edimundo
Participações na 1ª Fase:
Cláudia Ohana – Tieta
Adriana Canabrava – Perpétua
Thaís de Campos – Carmosina
José de Abreu – Mascate
José Lewgoy – Leovigildo
Ingra Liberato – Tonha
Leonardo Brício – Amintas
Herson Capri – Lucas
Marcos Winter – Osnar
Edson Fieschi – Ascânio
Christian Esposito – Arthurzinho
Trilha Sonora:
Nacional
Meia Lua Inteira - Caetano Veloso
Tudo o Que se Quer - Emílio Santiago e Verônica Sabino
No Rancho Fundo - Chitãozinho & Xororó
Paixão Antiga - Tim Maia
Paixão de Beata (Neném de Mulher) - Pinto do Acordeon
Tieta - Luiz Caldas (tema de abertura)
Segredos da Noite – Instrumental
Coração do Agreste - Fafá de Belém
Eu e Você - José Augusto & Roupa Nova
Cadê o Meu Amor - Quinteto Violado
Amor Escondido – Fagner
Por Você, com Você - Guilherme Arantes
Tenha Calma - Maria Bethânia
Imaculada - Instrumental
Internacional:
Imaculada - Elba Ramalho
Uma Nova Mulher – Simone
Dancei - Martinho da Vila
Alguém me Disse - Gal Costa
A Lua e o Mar - Moraes Moreira e Pepeu Gomes
Água na Boca - 3 do Nordeste
Urbana - Ary Sperling
Luar do Sertão - Roberta Miranda
Indo e Vindo (One for the Road) - Paulo Ricardo
Vem Morena - Nana Caymmi
Doida Para te Amar - Nando Cordel
Sinceridade (Sinceridad) - João Bosco
Toucan's Dance - Sérgio Mendes
O Comandante /O Bêbado - Banda de Santana do Agreste
Abertura
Chamada de Elenco
Ary Fontoura e Luciana Braga
Primeiro Capítulo
Reginaldo Faria e Lídia Brondi
Ataque da Mulher de Branco
Tieta retorna à Santana do Agreste
Eheh! Mais umas «novidades». Mas uma que nunca esqueci é que a escolha dos actores para as personagens foi baseada no horóscopo. Verdade ou não, na altura saiu na imprensa.
ResponderExcluir