À medida
que se aproxima do final e a audiência melhora, “Salve Jorge” consegue a
façanha de piorar. A novela está cada vez mais confusa, inverossímil e
irritante. Focada quase exclusivamente no conflito da gangue
de Livia contra a heroína Morena e a delegada Helô, a novela relegou a segundo
plano, quando não esqueceu, as inúmeras outras tramas que foram esboçadas em
algum momento.
O herói da trama, Theo, virou um personagem sem sentido, quase um
zumbi. Transou “por vingança” com Livia, que se apaixonou por ele e passou a assediá-lo. Morena, seu
grande amor, não contou a ele que tiveram uma filha e o mandou passear.
Erica,esperando um filho dele, também o dispensou. Seu chefe, o coronel Nunes,
o puniu. Só sobrou a mãe, Aurea, sempre ao seu lado. Protegida pela Policia Federal, Morena fica num
apartamento que não dispõe de segurança alguma. Sempre que alguém bate à porta,
um policial espia pela fresta para ver quem é. A organização de Livia descobriu
o local e montou uma arapuca para a heroína dentro de um túnel, no Rio. Morena
escapou andando com o bebê nos braços.
Sabe-se
lá como, já tarde da noite, a mãe e seu bebê chegaram à Igreja de São Jorge,
que funciona 24 horas por dia. Rezava quando encontrou-se com Erica, que por
coincidência também buscou a igreja no mesmo horário para chorar por Theo (“Foi
São Jorge que te mandou aqui”, diz Morena para a rival). Nada mais natural,
depois de um diálogo inacreditável, a heroína deixou sua filha com Erica e
fugiu. Já a vilã Wanda foi presa pela enésima vez porque brigou com um taxista.
Um bom exemplo das dificuldades de “Salve Jorge”
pode ser visto em uma cena do capítulo de quarta-feira (17). Elcio, o rival de
Theo, encontra-se com Livia, que o patrocina, no hotel onde ela mora (a grande
vilã da novela, uma personalidade famosa, mora em hotel desde o primeiro
capítulo). Elcio pede uma bebida e ela diz: “O frigobar é seu”. “Vingativa”,
diz o militar antes de beijá-la. Enquanto se beijam, toca o celular de
Livia e ela faz a careta que se vê na imagem acima. O texto da cena é grosseiro
e a direção mergulha no exagero. O conjunto é tosco, constrangedor para quem
assiste.
A quem critica os exageros e a falta de lógica de “Salve Jorge”, Gloria
Perez diz que é preciso saber “voar”. A autora reivindica o título de herdeira
de Janete Clair (1925-1983), a rainha do melodrama na TV. Mas, como já observou
o pesquisador e críticoNilson Xavier, em “Salve Jorge”
Gloria está mais próxima de Gloria Magadan (1920-2001), a cubana que fez
sucesso na Globo no final dos anos 60 com tramas rocambolescas e sem sentido,
de forte apelo popular.
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