Recordando a Carreira: 88 anos de Beatriz Segall
Beatriz
de Toledo Segall nasceu no Rio de Janeiro em 25 de julho de 1926. Foi professora
de francês e começou a estudar teatro no início dos anos
1950. Trabalhou com Henriette Morineau. Em Paris, prosseguiu os
estudos e conheceu Maurício Klabin Segall (filho do pintor judeu
lituano Lasar Segall e da tradutora Jenny Klabin) com quem se casou
em 1954 e teve três filhos: o diretor de cinema Sérgio Toledo
Segall, Mário (arquiteto e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie) e
Paulo. Nessa época, abandonou a carreira para retomá-la somente em 1964. No
início da década de 1970, seu marido foi preso, pois fazia parte da ALN,
fazendo com que passasse por um período de dificuldades.
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Dancin Days |
Véspera
de Natal, dia 24 de dezembro de 1988. No final do capítulo 192 da novela, Odete
Roitman leva três tiros, à queima roupa, e morre. E durante os 13 dias
seguintes, em todos os cantos do país, não se falou em outro assunto: “Quem
matou Odete Roitman?” Vale
Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, ficou marcada
na história da telenovela como um grande sucesso da Globo, assim como na vida
da atriz Beatriz Segall, que até hoje recebe elogios por sua atuação.
É difícil desassociar a sofisticada vilã de Vale
Tudo da vida profissional de Beatriz Segall. Tanto que a atriz passou
muito tempo sendo chamada apenas para interpretar personagens da alta classe.
“O papel da personagem má é sempre um bom papel. Vale
Tudo tinha uma história incrível, um texto primoroso,
inteligentíssimo. Odete Roitman é uma personagem que vai ficar na história; não
por um valor meu, mas por tudo o que a novela reuniu. Até hoje eu sou chamada
de Odete na rua. Em Cuba me chamaram de Dona Odete. Sempre me encabulo quando
tenho que falar da Odete Roitman, fico com medo de parecer pretensiosa, e tenho
certeza de que não sou, mas acho que ninguém na televisão brasileira recebeu um
presente tão grande como esse. Mas criou-se um mito, que atrapalha um pouco, de
sempre fazer papel de chique, de bem-vestida. Eu queria fazer o papel de uma
mulher bem povão, mas o público não aceitou”, resigna-se.
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Água Viva |
Independente do estereotipo que se criou em torno dela, a verdade é que Beatriz
Segall é uma atriz de múltiplos recursos cênicos, criteriosa e exigente. Se na
televisão se consagrou com Odete Roitman e outras personagens de alta classe,
no teatro atuou nos mais diferentes papéis. São quase 70 anos dedicados aos
palcos. “Eu sou muito exigente. Uma pessoa que não se entrega totalmente ao
trabalho é uma coisa que me irrita um pouco. A falta de integridade em relação
ao que se está fazendo é inadmissível”, define-se, em poucas palavras.
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Sol de Verão |
Filha de professores, Beatriz de Toledo Segall nasceu em 25 de julho de 1926,
no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Seu pai foi dono de uma escola.
Assim, naturalmente, ela estudou para ser professora. Mas foi apresentada ao
teatro. Sua primeira peça era um exercício de língua, na Aliança Francesa,
quando viveu Cathos, em As Preciosas Ridículas, de Molière. “No mesmo dia
fui convidada para fazer teatro profissional. E aceitei. Eu estava me achando
um gênio. Um mês antes, meu pai havia sofrido um enfarto e estava
convalescendo. Na noite em que eu ia ao primeiro ensaio, me disse: ‘Você pode
ir, mas me dá um grande desgosto’. E eu não fui. Depois, surgiu a oportunidade
de fazer um filme, A Beleza do Diabo. Não foi nenhum sucesso, mas tive uma
grande lição: eu precisava fazer um curso”, conta.
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Vale Tudo |
Beatriz decidiu que seria atriz. Matriculou-se no curso do Serviço Nacional de
Teatro e iniciou sua carreira. A primeira peça, não lembra o nome, teve como
palco um pequeno teatro em Ipanema, e foi um fracasso. Logo depois fez um
trabalho semiamador, com atrizes que também estavam começando sua carreira,
como Fernanda Montenegro e Nicette Bruno. Foi convidada a entrar na Companhia
dos Artistas Unidos, chefiada por Henriette Morineau (“Foi minha segunda
escola”) e acabou indo para a França estudar teatro e literatura. “Fui
convidada a fazer teatro na França, mas eu era muito ligada ao meu país e minha
família. Eu não podia me imaginar fazendo carreira em outro país, então não
aceitei”, relembra.
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Barriga de Aluguel |
Beatriz voltou para o Brasil trazendo na mala, a pedido de Henriette Morineau,
a peça Gigi, que lançou a atriz Audrey Hepburn ao mundo. Mas não quis
atuar. “Disse a ela que não faria mais teatro, que estava noiva e ia me casar,
que queria ter filhos e ser dona de casa. Eu me casei e fiquei como dona de
casa por 14 anos, sem um minuto de arrependimento”, relembra. Beatriz se casara
com Maurício Segall, filho do pintor Lasar Segall, com quem teve três filhos.
Até que, em 1964, o diretor José Martinez Corrêa a convidou justamente para
substituir Henriette Morineau em uma peça do Teatro Oficina. “Estimulada por
amigos e pelo meu marido, resolvi aceitar; só para provar que não dava. Mas
deu, e estou aqui”, ri.
Teve seu primeiro contato com a televisão, na TV Tupi, no início dos anos 1950.
Não lembra qual foi sua primeira novela, mas recorda-se de ter atuado em Ana,
em 1968, na Record. Na mesma época, com o marido, recuperou o Teatro São Pedro,
em São Paulo, e o administrou até 1974. Também se dedicou ao cinema, atuando em
alguns longas-metragens, como Cléo e Daniel (1970), de Roberto
Freire, e À Flor da Pele (1976) e O Cortiço (1978), de
Francisco Ramalho. Estreou na Globo em 1978, interpretando a ambiciosa Celina em Dancin’
Days, de Gilberto Braga. A novela foi um sucesso, Beatriz agradou em cheio
ao grande público e, por isso, atuou também, no ano seguinte, em Pai
Herói, de Janete Clair, onde viveu a vilã Norah. Na época, participou de um
episódio da série Plantão
de Polícia, quando viveu uma personagem lésbica.
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AEIO Urca |
Em 1980, foi convidada para uma nova dobradinha com Gilberto Braga, desta vez
dando vida a mais uma vilã grã-fina, Lurdes Mesquita, em Água
Viva. Contratada pela TV Bandeirantes, atuou nas novelas Os
Adolescentes, de Ivani Ribeiro, e Ninho da Serpente, de Jorge Andrade.
Também participou do premiado filme Pixote, a Lei do Mais Fraco, de Hector
Babenco. Voltou à Globo em 1982, para atuar em Sol
de Verão, de Manoel Carlos, depois em Champagne,
de Cassiano Gabus Mendes. “Eu devo essa personagem ao Cassiano. Foi a única
pessoa que achou que eu podia fazer o papel de uma mulher pobre, maltratada. Eu
usava um lenço na cabeça, lavava roupa no tanque, essas coisas. Mas o público
não gostou muito”, pontua.
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Sonho Meu |
Voltou a deixar a Globo para atuar em Carmem, escrita por Gloria Perez, na
TV Manchete, mas retornou à emissora em 1988, para viver uma das personagens
mais marcantes da história da televisão brasileira: Odete Roitman, em Vale
Tudo, sua terceira novela com Gilberto Braga. Curiosamente, quase não fez o
papel. Ela estava em cartaz no teatro, quando recebeu o convite do próprio
Gilberto Braga para atuar em sua nova novela. Não aceitou, mas o autor a queria
para o papel de Odete Roitman a qualquer custo. O resto da história todo mundo
conhece: quase 25 anos depois, “Odete Roitman” tem nada menos do que 84.200
citações no Google.
Beatriz Segall participou de sua primeira minissérie na Globo, em 1990: A,E,I,O...
Urca, de Doc Comparato e Antonio Calmon, na qual viveu uma espiã nazista.
Naquele ano, participou também de Barriga
de Aluguel, de Gloria Perez, como miss Penélope Brown. Voltaria a
interpretar a personagem em 2001, na novela O
Clone, também de Gloria Perez. Em 2006, na Record, participou de Bicho
do Mato, de Bosco Brasil e Cristianne Fridman. Ao longo de todo esse tempo, não
abandonou os palcos, com destaque para sua atuação em Emily, de William
Luce, em 1984, e em O Manifesto, de Brian Clark, em 1987 – em ambas as
ocasiões, conquistou o troféu Mambembe de melhor atriz do teatro
brasileiro.
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Anjo Mau |
De
volta à Globo, estrelou na premiada novela Lado
a Lado (2012), na qual deu vida à Madame Besançon, uma rica senhora
francesa que ensinou francês e boas maneiras para a sua empregada, Isabel
(Camila Pitanga). Teatro,
televisão, cinema. Beatriz Segall não revela preferências, ainda que diga
acreditar ter feito poucos longas-metragens, e ter esperanças de atuar mais na
grande tela. O que a tira do sério, na verdade, é a fama de ser uma pessoa
difícil. “Gostaria de saber de onde surgiu isso. Sou um doce de pessoa. Sou
brava porque estou sempre atrás de qualidade, e quando atrapalham essa
qualidade, fico brava. É o meu nível de exigência. Acho que isso é uma
qualidade minha, não um defeito”, encerra.
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