A
novela é dividida em duas fases. Na primeira, nos quatro capítulos iniciais,
José Inocêncio (Leonardo Vieira) chega às roças de cacau de Ilhéus, na Bahia e
finca seu facão ao pé de um jequitibá , fazendo uma promessa: não morrer. A
árvore passa a representar sua sorte, força e existência, acompanhando a
trajetória do personagem ao longo de toda a narrativa. Corre a lenda de que ele
morrerá quando o facão for engolido pela terra. Com
o passar dos anos, valente, trabalhador e obstinado, José Inocêncio constrói um
verdadeiro império do cacau, e se casa com a doce e ingênua Maria Santa
(Patrícia França), por quem devota um amor incondicional. Ela lhe dá quatro
filhos, mas morre ao dar à luz João Pedro, rejeitado desde então pelo pai, que
o culpa pela morte de seu grande amor.
Na
segunda fase da novela, o coronel José Inocêncio (Antonio
Fagundes) é um contador de histórias, que mantém uma aura mística a seu
redor. Um dos episódios que não cansa de contar é que seu amigo, o turco Rachid
(Luiz Carlos Arutin), costurou sua pele com linha e agulha depois de ela ter
sido arrancada por um bando de jagunços assim que chegou à região. José
Inocêncio é um homem reconhecido pelo senso de justiça, e querido pelos
empregados, que lhe são inteiramente fiéis. Como Deocleciano (Leonardo Brício
na primeira fase e Roberto Bomfim na segunda), amigo e companheiro inseparável,
casado com Morena (Regina Dourado) - ambos trabalham e vivem na fazenda de
cacau, e são adorados por João Pedro (Marcos
Palmeira), de quem cuidaram desde criança –; e a fiel Inácia (Chica
Xavier), empregada da fazenda, que ajudou na criação dos meninos e tem grande
devoção ao patrão. É uma mulher simples e sensível, que costuma ter visões e
prever o destino das pessoas.
Os
filhos José Augusto (Marco Ricca), José Bento (Tarcísio Filho) e José Venâncio
(Taumaturgo Ferreira) moram e trabalham na cidade grande. Já o caçula João
Pedro (Marcos
Palmeira), que nunca deixou a fazenda, mantém-se ao lado do pai, mesmo
sofrendo com sua indiferença. A desavença do fazendeiro com o filho mais novo
rege diversas tramas paralelas da história. A relação dos dois piora com a
chegada de Mariana (Adriana
Esteves), por quem João Pedro se apaixona. Ele a leva para trabalhar na
fazenda do pai sem saber que a jovem é neta de Belarmino (José
Wilker), inimigo de José Inocêncio morto na primeira fase da novela, e que
sua intenção é se aproximar da família somente para se vingar. Ela não contava,
no entanto, que se apaixonaria pelo coronel, a quem chama carinhosamente de
“painho”. Depois
de anos viúvo e sofrendo com a perda de Maria Santa, José Inocêncio se apaixona
por Mariana e decide se casar com a moça, num duro golpe para João Pedro, que
se vê obrigado a sufocar o amor que sente pela jovem. A notícia do
casamento faz com que José Augusto, José Bento e José Venâncio exijam que o pai
divida seus bens entre os filhos. Interessados na herança, os três, liderados
por José Bento, acham que Mariana é uma aproveitadora, de olho apenas na
fortuna do coronel. Eles chegam à fazenda do pai dispostos a enfrentá-lo, e
diversas tramas se desenrolam a partir daí.
O
primogênito, José Augusto, escolheu a profissão de médico para agradar ao pai,
não tem nenhuma vocação para a medicina. Solteiro, ele é simpático,
mas mentiroso, e tem dificuldade em gerir a própria vida. José Bento é
formado em direito, e é tão mimado quanto seus irmãos, acostumados desde pequenos
a receber tudo de mão beijada. Ele vive com Valquíria (Cláudia Lira) no Rio de
Janeiro, mas os dois mantêm uma relação sem amor. O terceiro filho de José
Inocêncio, José Venâncio, trabalha como engenheiro, mas também é sustentado
pelo pai. No início da história, está casado com Eliana (Patrícia Pillar), com
quem não é feliz. Fria e oportunista, Eliana não quer ter filhos – a principal
desavença do casal –, temendo que a gravidez estrague seu corpo. Desiludido com
seu casamento, José Venâncio conhece a doce e feminina Buba (Maria Luisa
Mendonça), que o leva a romper o relacionamento com Eliana. Buba, no entanto,
esconde dele que é hermafrodita. Ao descobrir o segredo de seu novo amor, José
Venâncio se vê diante da dificuldade de encarar o problema. O rapaz vai para a
fazenda do pai na Bahia, mas acaba morto em uma tocaia preparada para atingir
José Inocêncio. Posteriormente, Buba se envolve com José Augusto e, incentivada
por este, faz uma cirurgia e deixa de ser hermafrodita.
Outro
personagem importante na trajetória de José Inocêncio (Antonio
Fagundes) é Teodoro (Herson Capri), vizinho de sua propriedade, que vive de
olho em suas terras. Autoritário e mau-caráter, Teodoro é casado com Yolanda
(Eliane Giardini), a quem chama de Dona Patroa, uma mulher submissa que finge
não saber das traições do marido. Os dois têm uma filha, Sandra (Luciana
Braga). A certa altura, Yolanda dá uma reviravolta em sua vida e abandona
Teodoro em busca de sua felicidade. Ele, por sua vez, casa-se com a
interesseira Eliana (Patrícia Pillar). O inescrupuloso fazendeiro foi o
responsável pela morte de José Venâncio, e é assassinado durante a trama. O
crime levanta suspeitas sobre alguns personagens da novela, entre eles José
Inocêncio, João Pedro (Marcos
Palmeira) e o matador Damião (Jackson Antunes). Damião havia sido
contratado por Teodoro para acabar com a vida de José Inocêncio, mas acaba
virando empregado e fiel seguidor do homem que deveria matar. No fim,
descobre-se que Teodoro foi morto por Mariana.
A
mágoa de José Inocêncio com João Pedro só é superada no leito de morte, no
capítulo final da trama. José Inocêncio, cansado e com a saúde debilitada, vai
à cidade sozinho e sofre um acidente na volta para a fazenda. Uma forte chuva
cai sobre a região, e João Pedro decide ir atrás do pai. No caminho, ele
encontra o facão aos pés do jequitibá praticamente coberto pela terra.
João retira o facão do pai e põe o seu no mesmo lugar, repetindo o gesto de Zé
Inocêncio de anos atrás. Com muita dificuldade, José Inocêncio consegue chegar
em casa, mas se recusa a receber medicação, e agoniza. Nesse momento, João
Pedro se aproxima do pai, que pede um abraço do filho como perdão por tantos
anos de indiferença. A cena é uma das mais emocionantes da novela. Após a
reconciliação, José Inocêncio morre e é recebido por Maria Santa. João Pedro
consegue finalmente esquecer Mariana e termina a novela ao lado de Sandra, com
quem tem uma filha. Mariana, sozinha, deixa a fazenda de cacau.
Tramas
Paralelas:
Tião
Galinha:
Um dos personagens de maior destaque de Renascer é o catador de
caranguejos Tião Galinha (Osmar Prado), porta-voz do autor na denúncia das
precárias condições de vida e trabalho no Brasil. Ele se muda com os filhos e a
mulher, Joaninha (Tereza Seiblitz), dos manguezais para a zona do cacau com a
esperança de melhorar de vida. A ingenuidade e a ignorância de Tião fazem com
que ele acredite que o sucesso alcançado pelo coronel José Inocêncio (Antonio
Fagundes) se deve ao fato de ele ter criado um diabo dentro de uma garrafa, seu
amuleto. Segundo a crença popular, o diabinho da garrafa fecha o corpo de quem
o possui e traz prosperidade quando urina em cima dos cacaueiros. Tião Galinha
se agarra a essa ideia e transforma sua vida em um tormento, para desespero de
sua mulher.
A
novela trouxe ainda a discussão sobre o celibato religioso e a corrupção
política no Brasil através de Padre Lívio (Jackson Costa), que se apaixona por
Joaninha. Em diversos diálogos, Padre Lívio discursa a favor da reforma
agrária, questiona os governos militares e chega a debater sobre um possível
fechamento do Congresso Nacional.
Cenas
Marcantes
A
primeira fase de Renascer foi uma atração à parte. O diretor Luiz
Fernando Carvalho conferiu uma linguagem cinematográfica aos capítulos
iniciais, que ganharam direção de fotografia de Walter Carvalho, e a novela
recebeu muitos elogios de crítica e público. A empatia dos atores Leonardo
Vieira e Patrícia França, ambos estreantes em novela, encantou os
telespectadores. Destaque também para a atriz Fernanda
Montenegro, que deu vida à personagem Jacutinga, dona de um bordel na zona
cacaueira de Ilhéus. Grande amiga de José Inocêncio (Leonardo Vieira/Antonio
Fagundes), ela se torna uma figura importante na vida de Maria Santa
(Patrícia França) e dos filhos do casal.
Produção
O
norte-americano Bob Clark, que já colaborara na produção dos efeitos especiais
da novela Vamp (1991), deu assessoria para a gravação da cena em que
o jovem José Inocêncio (Leonardo Vieira) tem a pele arrancada por jagunços ao
chegar em Ilhéus.
Curiosidades:
Inicialmente, Bumba-Meu-Boi seria
o título da novela, mas após pesquisas de opinião feitas pela TV Globo, a
história foi batizada de Renascer.
A
apresentação do último capítulo de Renascer fugiu ao padrão.
Devido à exibição de uma partida de futebol, metade do capítulo foi ao ar
na sexta-feira, e a outra metade, no sábado. O último capítulo foi reprisado no
domingo, na íntegra, após o Fantástico. A mudança se deu por conta da
final do Campeonato Brasileiro daquele ano, que seria disputada na sexta-feira,
às 21h30, por Internacional e São Paulo. Como o capítulo final tinha 80 minutos
de duração, e não uma hora como os anteriores, não daria tempo de exibi-lo na
íntegra. A direção da emissora, avaliando a importância da partida de futebol e
da novela, optou por dividir o último capítulo em duas partes.
Renascer marcou
a estreia de Benedito Ruy Barbosa no horário nobre da TV Globo depois
do sucesso obtido com a novela Pantanal (TV Manchete,
1990).
Benedito
Ruy Barbosa começou a trabalhar no projeto de Renascer no início
dos anos 1970, após escrever a novela Meu Pedacinho de
Chão (1971), exibida pela TV Globo. O autor rodou três mil quilômetros no
sertão baiano colhendo informações, impressões e histórias que desenvolveu
posteriormente na trama.
A
atriz Patrícia França, que vinha do sucesso da minissérie Tereza
Batista (1992), estreava em novelas na TV Globo, ao lado do também
iniciante Leonardo Vieira. O trabalho dos dois atores na primeira fase
de Renascer rendeu-lhes um convite para integrar o elenco da novela
seguinte das 18h, Sonho Meu (1993), de autoria de Marcílio Moraes, na
qual voltaram a protagonizar um par romântico.
Renascer foi
a primeira novela de Jackson Antunes, Maria Luisa Mendonça, Marco Ricca, Paloma
Duarte e Isabel Fillardis na TV Globo.
Benedito
Ruy Barbosa explorou na novela lendas e personagens com que se deparou em
uma viagem à Bahia – como a história do diabo trancafiado na garrafa. O
personagem de Jackson Antunes, Damião, foi inspirado em um ex-matador que o
autor conheceu nessa viagem, chamado “Seu Visita”.
A crendice do diabinho dentro da garrafa já havia sido usada por Benedito Ruy Barbosa em outra novela de sua autoria, Paraíso (1982).
Osmar
Prado define o simplório Tião Galinha como um representante do povo
brasileiro subjugado pelo poder econômico, e atribui a força do personagem à
identificação do povo com a dor de alguém tão desprovido de tudo quanto o
catador de caranguejos da novela. O ator citou o final do personagem (e suas
últimas palavras) como o símbolo de sua condição de explorado. O bilhete
deixado por Tião após se enfocar em sua cela dizia o seguinte: “Quem trabalha e
mata a fome não come o pão de ninguém. Quem ganha mais do que come sempre ganha
o pão de alguém.”
Além
de Osmar Prado, vencedor do prêmio de melhor ator coadjuvante, a
Associação Paulista de Críticos de Arte elegeu Antonio Fagundes como
melhor ator e Regina Dourado como melhor atriz coadjuvante do ano de 1993.
Jackson Antunes, que interpretava Damião, foi premiado como
revelação. Renascer foi considerada, ainda, a melhor novela do ano
pela APCA.
O bordão do personagem de José Wilker (Belarmino) – “É justo, é muito justo, é justíssimo” – nasceu de um improviso. O ator esquecera sua fala durante a gravação de uma cena trabalhosa, que envolvia o diretor de fotografia Walter Carvalho, e, sem graça de ficar em silêncio, criou a fala que se tornou marca de seu personagem.
A
novela foi reapresentada entre 14/08/1995 e 01/03/1996,
em Vale a Pena Ver de Novo.
Renascer foi
vendida para Bolívia, Chile, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana,
Uruguai e Venezuela, entre outros países.
Ações
Socioeducativas
Por
meio da história da personagem Buba (Maria Luisa Mendonça), a novela abordou o
hermafroditismo e o preconceito que o acompanha. Renascer também
falou sobre o universo dos meninos de rua. O tema foi sugerido num congresso da
Unicef para autores latino-americanos de novelas, do qual
participaram Benedito Ruy Barbosa e Gloria Perez. Através dos
personagens Teca (Paloma Duarte), Neno (Cassiano Carneiro) e Pitoco (Oberdan
Junior), o autor discutiu temas como gravidez precoce, violência e preconceito,
além de mostrar o drama e os anseios pessoais de cada jovem. Teca engravida
precocemente, e é acolhida por José Inocêncio (Antonio Fagundes). A chacina da
Candelária, no Rio de Janeiro, ocorrida no ano de exibição da novela, fez com
que o autor mudasse o destino do pai do filho de Teca, que morre assassinado.
Elenco:
Antônio
Fagundes – José Inocêncio
Adriana Esteves – Mariana
Marcos Palmeira – João Pedro
Patrícia Pillar – Eliana
Herson Capri – Teodoro
Luciana Braga – Sandra
Eliane Giardini – Dona Patroa
Tarcísio Filho – Zé Bento
Maria Luisa Mendonça – Buba (Alcides)
Marco Ricca – Zé Augusto
Regina Dourado – Morena
Roberto Bonfim – Dioclesiano
Osmar Prado – Tião Galinha
Tereza Seiblitz – Joaninha
Taumaturgo Ferreira – Zé Venâncio
Jackson Antunes – Damião
José de Abreu - Eriberto
Paloma Duarte – Teca
Chica Xavier – Inácia
Leila Lopes – Lu
Cosme dos Santos – Zinho Jupará
Luiz Carlos Arutin – Rachid
Nelson Xavier – Norberto
Isabel Fillardis – Ritinha
Jackson Costa – Padre Lívio
Ruy Rezende – Bernardo
Grande Otelo – Seu Francisco
Mara Carvalho – Aurora
Oberdan Júnior – Pitoco
Cecil Thiré – Delegado Olavo
Kadu Moliterno – Rafael
Íris Nascimento – Lurdinha
Cláudia Lira – Valkiria
Participação
na 1ª Fase:
Leonardo Vieira – Zé Inocêncio
Patrícia França – Maria Santa
José Wilker – Belarmino
Fernanda Montenegro – Jacutinga
Solange Couto – Inácia
Leonardo Brício - Diocleciano
Cacá Carvalho – Venâcio
Ana Lucia Torre – Quitéria
Gésio Amadeu – Jupará
Cyria Coentro – Morena
Betty Erthal – Nena
Daniele Rodrigues – Marianinha
Pablo Sobral – João Pedro (criança)
Toninho da Cruz – Zinho Jupará (criança)
Trilha Sonora
Nacional 1:
Dito e Feito - Roberto Carlos
Ai Que Saudade De Ocê - Fábio Júnior
Lindeza - Caetano Veloso
Só Para Te Mostrar - Daniela Mercury e Herbert Vianna
O Lado Prático do Amor - Guilherme Arantes
Sport Time - Sunshine Orchestra
Confins - Batacoto e Ivan Lins
Lua Soberana - Sérgio Mendes
Me Diz – Fagner
Parabolicamará - Gilberto Gil
De Volta Ao Começo - Roupa Nova
Mentiras - Adriana Calcanhoto
Em Nome do Amor - Agnaldo Rayol
To Aim - Franco Perini
Ai Que Saudade De Ocê - Fábio Júnior
Lindeza - Caetano Veloso
Só Para Te Mostrar - Daniela Mercury e Herbert Vianna
O Lado Prático do Amor - Guilherme Arantes
Sport Time - Sunshine Orchestra
Confins - Batacoto e Ivan Lins
Lua Soberana - Sérgio Mendes
Me Diz – Fagner
Parabolicamará - Gilberto Gil
De Volta Ao Começo - Roupa Nova
Mentiras - Adriana Calcanhoto
Em Nome do Amor - Agnaldo Rayol
To Aim - Franco Perini
Nacional 2:
Além da Última Estrela - Maria Bethânia
Cheiro de Saudade - Ney Matogrosso
Eu Quero Meu Amor - Elba Ramalho
Romance - 14 Bis (tema de Teca)
Lavrador - Moraes Moreira
Memórias - Franco Perini
Essa Tal Felicidade - Tim Maia
Sete Desejos - Alceu Valença
Dois Corações - Nana Caymmi
Palavra Acesa - Quinteto Violado
Joaninha - Itamara Koorax
Renascer - Franco Perini
Cheiro de Saudade - Ney Matogrosso
Eu Quero Meu Amor - Elba Ramalho
Romance - 14 Bis (tema de Teca)
Lavrador - Moraes Moreira
Memórias - Franco Perini
Essa Tal Felicidade - Tim Maia
Sete Desejos - Alceu Valença
Dois Corações - Nana Caymmi
Palavra Acesa - Quinteto Violado
Joaninha - Itamara Koorax
Renascer - Franco Perini
Abertura
Chamada de Elenco
Novelão da Semana
Nenhum comentário:
Postar um comentário