segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Especial Novelas - Renascer (1993)


A novela é dividida em duas fases. Na primeira, nos quatro capítulos iniciais, José Inocêncio (Leonardo Vieira) chega às roças de cacau de Ilhéus, na Bahia e finca seu facão ao pé de um jequitibá , fazendo uma promessa: não morrer. A árvore passa a representar sua sorte, força e existência, acompanhando a trajetória do personagem ao longo de toda a narrativa. Corre a lenda de que ele morrerá quando o facão for engolido pela terra.  Com o passar dos anos, valente, trabalhador e obstinado, José Inocêncio constrói um verdadeiro império do cacau, e se casa com a doce e ingênua Maria Santa (Patrícia França), por quem devota um amor incondicional. Ela lhe dá quatro filhos, mas morre ao dar à luz João Pedro, rejeitado desde então pelo pai, que o culpa pela morte de seu grande amor.

Na segunda fase da novela, o coronel José Inocêncio (Antonio Fagundes) é um contador de histórias, que mantém uma aura mística a seu redor. Um dos episódios que não cansa de contar é que seu amigo, o turco Rachid (Luiz Carlos Arutin), costurou sua pele com linha e agulha depois de ela ter sido arrancada por um bando de jagunços assim que chegou à região. José Inocêncio é um homem reconhecido pelo senso de justiça, e querido pelos empregados, que lhe são inteiramente fiéis. Como Deocleciano (Leonardo Brício na primeira fase e Roberto Bomfim na segunda), amigo e companheiro inseparável, casado com Morena (Regina Dourado) - ambos trabalham e vivem na fazenda de cacau, e são adorados por João Pedro (Marcos Palmeira), de quem cuidaram desde criança –; e a fiel Inácia (Chica Xavier), empregada da fazenda, que ajudou na criação dos meninos e tem grande devoção ao patrão. É uma mulher simples e sensível, que costuma ter visões e prever o destino das pessoas. 

Os filhos José Augusto (Marco Ricca), José Bento (Tarcísio Filho) e José Venâncio (Taumaturgo Ferreira) moram e trabalham na cidade grande. Já o caçula João Pedro (Marcos Palmeira), que nunca deixou a fazenda, mantém-se ao lado do pai, mesmo sofrendo com sua indiferença. A desavença do fazendeiro com o filho mais novo rege diversas tramas paralelas da história. A relação dos dois piora com a chegada de Mariana (Adriana Esteves), por quem João Pedro se apaixona. Ele a leva para trabalhar na fazenda do pai sem saber que a jovem é neta de Belarmino (José Wilker), inimigo de José Inocêncio morto na primeira fase da novela, e que sua intenção é se aproximar da família somente para se vingar. Ela não contava, no entanto, que se apaixonaria pelo coronel, a quem chama carinhosamente de “painho”. Depois de anos viúvo e sofrendo com a perda de Maria Santa, José Inocêncio se apaixona por Mariana e decide se casar com a moça, num duro golpe para João Pedro, que se vê obrigado a sufocar o amor que sente pela jovem. A notícia do casamento faz com que José Augusto, José Bento e José Venâncio exijam que o pai divida seus bens entre os filhos. Interessados na herança, os três, liderados por José Bento, acham que Mariana é uma aproveitadora, de olho apenas na fortuna do coronel. Eles chegam à fazenda do pai dispostos a enfrentá-lo, e diversas tramas se desenrolam a partir daí. 

O primogênito, José Augusto, escolheu a profissão de médico para agradar ao pai, não tem nenhuma vocação para a medicina. Solteiro, ele é simpático, mas mentiroso, e tem dificuldade em gerir a própria vida. José Bento é formado em direito, e é tão mimado quanto seus irmãos, acostumados desde pequenos a receber tudo de mão beijada. Ele vive com Valquíria (Cláudia Lira) no Rio de Janeiro, mas os dois mantêm uma relação sem amor. O terceiro filho de José Inocêncio, José Venâncio, trabalha como engenheiro, mas também é sustentado pelo pai. No início da história, está casado com Eliana (Patrícia Pillar), com quem não é feliz. Fria e oportunista, Eliana não quer ter filhos – a principal desavença do casal –, temendo que a gravidez estrague seu corpo. Desiludido com seu casamento, José Venâncio conhece a doce e feminina Buba (Maria Luisa Mendonça), que o leva a romper o relacionamento com Eliana. Buba, no entanto, esconde dele que é hermafrodita. Ao descobrir o segredo de seu novo amor, José Venâncio se vê diante da dificuldade de encarar o problema. O rapaz vai para a fazenda do pai na Bahia, mas acaba morto em uma tocaia preparada para atingir José Inocêncio. Posteriormente, Buba se envolve com José Augusto e, incentivada por este, faz uma cirurgia e deixa de ser hermafrodita.

Outro personagem importante na trajetória de José Inocêncio (Antonio Fagundes) é Teodoro (Herson Capri), vizinho de sua propriedade, que vive de olho em suas terras. Autoritário e mau-caráter, Teodoro é casado com Yolanda (Eliane Giardini), a quem chama de Dona Patroa, uma mulher submissa que finge não saber das traições do marido. Os dois têm uma filha, Sandra (Luciana Braga). A certa altura, Yolanda dá uma reviravolta em sua vida e abandona Teodoro em busca de sua felicidade. Ele, por sua vez, casa-se com a interesseira Eliana (Patrícia Pillar). O inescrupuloso fazendeiro foi o responsável pela morte de José Venâncio, e é assassinado durante a trama. O crime levanta suspeitas sobre alguns personagens da novela, entre eles José Inocêncio, João Pedro (Marcos Palmeira) e o matador Damião (Jackson Antunes). Damião havia sido contratado por Teodoro para acabar com a vida de José Inocêncio, mas acaba virando empregado e fiel seguidor do homem que deveria matar. No fim, descobre-se que Teodoro foi morto por Mariana.

A mágoa de José Inocêncio com João Pedro só é superada no leito de morte, no capítulo final da trama. José Inocêncio, cansado e com a saúde debilitada, vai à cidade sozinho e sofre um acidente na volta para a fazenda. Uma forte chuva cai sobre a região, e João Pedro decide ir atrás do pai. No caminho,  ele encontra o facão aos pés do jequitibá  praticamente coberto pela terra. João retira o facão do pai e põe o seu no mesmo lugar, repetindo o gesto de Zé Inocêncio de anos atrás. Com muita dificuldade, José Inocêncio consegue chegar em casa, mas se recusa a receber medicação, e agoniza. Nesse momento, João Pedro se aproxima do pai, que pede um abraço do filho como perdão por tantos anos de indiferença. A cena é uma das mais emocionantes da novela. Após a reconciliação, José Inocêncio morre e é recebido por Maria Santa. João Pedro consegue finalmente esquecer Mariana e termina a novela ao lado de Sandra, com quem tem uma filha. Mariana, sozinha, deixa a fazenda de cacau.

Tramas Paralelas:

Tião Galinha:
Um dos personagens de maior destaque de Renascer é o catador de caranguejos Tião Galinha (Osmar Prado), porta-voz do autor na denúncia das precárias condições de vida e trabalho no Brasil. Ele se muda com os filhos e a mulher, Joaninha (Tereza Seiblitz), dos manguezais para a zona do cacau com a esperança de melhorar de vida. A ingenuidade e a ignorância de Tião fazem com que ele acredite que o sucesso alcançado pelo coronel José Inocêncio (Antonio Fagundes) se deve ao fato de ele ter criado um diabo dentro de uma garrafa, seu amuleto. Segundo a crença popular, o diabinho da garrafa fecha o corpo de quem o possui e traz prosperidade quando urina em cima dos cacaueiros. Tião Galinha se agarra a essa ideia e transforma sua vida em um tormento, para desespero de sua mulher.

A novela trouxe ainda a discussão sobre o celibato religioso e a corrupção política no Brasil através de Padre Lívio (Jackson Costa), que se apaixona por Joaninha. Em diversos diálogos, Padre Lívio discursa a favor da reforma agrária, questiona os governos militares e chega a debater sobre um possível fechamento do Congresso Nacional. 

Cenas Marcantes
A primeira fase de Renascer foi uma atração à parte. O diretor Luiz Fernando Carvalho conferiu uma linguagem cinematográfica aos capítulos iniciais, que ganharam direção de fotografia de Walter Carvalho, e a novela recebeu muitos elogios de crítica e público. A empatia dos atores Leonardo Vieira e Patrícia França, ambos estreantes em novela, encantou os telespectadores. Destaque também para a atriz Fernanda Montenegro, que deu vida à personagem Jacutinga, dona de um bordel na zona cacaueira de Ilhéus. Grande amiga de José Inocêncio (Leonardo Vieira/Antonio Fagundes), ela se torna uma figura importante na vida de Maria Santa (Patrícia França) e dos filhos do casal.

Produção
O norte-americano Bob Clark, que já colaborara na produção dos efeitos especiais da novela Vamp (1991), deu assessoria para a gravação da cena em que o jovem José Inocêncio (Leonardo Vieira) tem a pele arrancada por jagunços ao chegar em Ilhéus.

Curiosidades:
Inicialmente, Bumba-Meu-Boi seria o título da novela, mas após pesquisas de opinião feitas pela TV Globo, a história foi batizada de Renascer.

A apresentação do último capítulo de Renascer  fugiu ao padrão. Devido à exibição de uma partida de futebol, metade do capítulo foi ao ar na sexta-feira, e a outra metade, no sábado. O último capítulo foi reprisado no domingo, na íntegra, após o Fantástico. A mudança se deu por conta da final do Campeonato Brasileiro daquele ano, que seria disputada na sexta-feira, às 21h30, por Internacional e São Paulo. Como o capítulo final tinha 80 minutos de duração, e não uma hora como os anteriores, não daria tempo de exibi-lo na íntegra. A direção da emissora, avaliando a importância da partida de futebol e da novela, optou por dividir o último capítulo em duas partes.

Renascer marcou a estreia de Benedito Ruy Barbosa no horário nobre da TV Globo depois do sucesso obtido com a novela Pantanal (TV Manchete, 1990). 

Benedito Ruy Barbosa começou a trabalhar no projeto de Renascer no início dos anos 1970, após escrever a novela Meu Pedacinho de Chão (1971), exibida pela TV Globo. O autor rodou três mil quilômetros no sertão baiano colhendo informações, impressões e histórias que desenvolveu posteriormente na trama.

A atriz Patrícia França, que vinha do sucesso da minissérie Tereza Batista (1992), estreava em novelas na TV Globo, ao lado do também iniciante Leonardo Vieira. O trabalho dos dois atores na primeira fase de Renascer rendeu-lhes um convite para integrar o elenco da novela seguinte das 18h, Sonho Meu (1993), de autoria de Marcílio Moraes, na qual voltaram a protagonizar um par romântico. 

Renascer foi a primeira novela de Jackson Antunes, Maria Luisa Mendonça, Marco Ricca, Paloma Duarte e Isabel Fillardis na TV Globo. 

Benedito Ruy Barbosa explorou na novela lendas e personagens com que se deparou em uma viagem à Bahia – como a história do diabo trancafiado na garrafa. O personagem de Jackson Antunes, Damião, foi inspirado em um ex-matador que o autor conheceu nessa viagem, chamado “Seu Visita”. 

A crendice do diabinho dentro da garrafa já havia sido usada por Benedito Ruy Barbosa em outra novela de sua autoria, Paraíso (1982). 

Osmar Prado define o simplório Tião Galinha como um representante do povo brasileiro subjugado pelo poder econômico, e atribui a força do personagem à identificação do povo com a dor de alguém tão desprovido de tudo quanto o catador de caranguejos da novela. O ator citou o final do personagem (e suas últimas palavras) como o símbolo de sua condição de explorado. O bilhete deixado por Tião após se enfocar em sua cela dizia o seguinte: “Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém. Quem ganha mais do que come sempre ganha o pão de alguém.”

Além de Osmar Prado, vencedor do prêmio de melhor ator coadjuvante, a Associação Paulista de Críticos de Arte elegeu Antonio Fagundes como melhor ator e Regina Dourado como melhor atriz coadjuvante do ano de 1993. Jackson Antunes, que interpretava Damião, foi premiado como revelação. Renascer foi considerada, ainda, a melhor novela do ano pela APCA. 

O bordão do personagem de José Wilker (Belarmino) – “É justo, é muito justo, é justíssimo” – nasceu de um improviso. O ator esquecera sua fala durante a gravação de uma cena trabalhosa, que envolvia o diretor de fotografia Walter Carvalho, e, sem graça de ficar em silêncio, criou a fala que se tornou marca de seu personagem. 


A novela foi reapresentada entre 14/08/1995 e 01/03/1996, em Vale a Pena Ver de Novo. 

Renascer foi vendida para Bolívia, Chile, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, entre outros países.

Ações Socioeducativas
Por meio da história da personagem Buba (Maria Luisa Mendonça), a novela abordou o hermafroditismo e o preconceito que o acompanha. Renascer também falou sobre o universo dos meninos de rua. O tema foi sugerido num congresso da Unicef para autores latino-americanos de novelas, do qual participaram Benedito Ruy Barbosa e Gloria Perez. Através dos personagens Teca (Paloma Duarte), Neno (Cassiano Carneiro) e Pitoco (Oberdan Junior), o autor discutiu temas como gravidez precoce, violência e preconceito, além de mostrar o drama e os anseios pessoais de cada jovem. Teca engravida precocemente, e é acolhida por José Inocêncio (Antonio Fagundes). A chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, ocorrida no ano de exibição da novela, fez com que o autor mudasse o destino do pai do filho de Teca, que morre assassinado.  

Elenco:
Antônio Fagundes – José Inocêncio
Adriana Esteves – Mariana
Marcos Palmeira – João Pedro
Patrícia Pillar – Eliana
Herson Capri – Teodoro
Luciana Braga – Sandra
Eliane Giardini – Dona Patroa
Tarcísio Filho – Zé Bento
Maria Luisa Mendonça – Buba (Alcides)
Marco Ricca – Zé Augusto
Regina Dourado – Morena
Roberto Bonfim – Dioclesiano
Osmar Prado – Tião Galinha
Tereza Seiblitz – Joaninha
Taumaturgo Ferreira – Zé Venâncio
Jackson Antunes – Damião
José de Abreu - Eriberto
Paloma Duarte – Teca
Chica Xavier – Inácia
Leila Lopes – Lu
Cosme dos Santos – Zinho Jupará
Luiz Carlos Arutin – Rachid
Nelson Xavier – Norberto
Isabel Fillardis – Ritinha
Jackson Costa – Padre Lívio
Ruy Rezende – Bernardo
Grande Otelo – Seu Francisco
Mara Carvalho – Aurora
Oberdan Júnior – Pitoco
Cecil Thiré – Delegado Olavo
Kadu Moliterno – Rafael
Íris Nascimento – Lurdinha
Cláudia Lira – Valkiria


Participação na 1ª Fase:
Leonardo Vieira – Zé Inocêncio
Patrícia França – Maria Santa
José Wilker – Belarmino
Fernanda Montenegro – Jacutinga
Solange Couto – Inácia
Leonardo Brício - Diocleciano
Cacá Carvalho – Venâcio
Ana Lucia Torre – Quitéria
Gésio Amadeu – Jupará
Cyria Coentro – Morena
Betty Erthal – Nena
Daniele Rodrigues – Marianinha
Pablo Sobral – João Pedro (criança)
Toninho da Cruz – Zinho Jupará (criança)


Trilha Sonora
Nacional 1:
Dito e Feito - Roberto Carlos
Ai Que Saudade De Ocê - Fábio Júnior
Lindeza - Caetano Veloso
Só Para Te Mostrar - Daniela Mercury e Herbert Vianna
O Lado Prático do Amor - Guilherme Arantes
Sport Time - Sunshine Orchestra
Confins - Batacoto e Ivan Lins
Lua Soberana - Sérgio Mendes
Me Diz – Fagner
Parabolicamará - Gilberto Gil
De Volta Ao Começo - Roupa Nova
Mentiras - Adriana Calcanhoto
Em Nome do Amor - Agnaldo Rayol
To Aim - Franco Perini

Nacional 2:
Além da Última Estrela - Maria Bethânia
Cheiro de Saudade - Ney Matogrosso
Eu Quero Meu Amor - Elba Ramalho
Romance - 14 Bis (tema de Teca)
Lavrador - Moraes Moreira
Memórias - Franco Perini
Essa Tal Felicidade - Tim Maia
Sete Desejos - Alceu Valença
Dois Corações - Nana Caymmi
Palavra Acesa - Quinteto Violado
Joaninha - Itamara Koorax
Renascer - Franco Perini

Abertura

Chamada de Elenco

Novelão da Semana

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