O autismo, um dos temas abordados na novela global "Amor à Vida", com a personagem Linda (interpretada pela atriz Bruna Linzmeyer), é um transtorno bem mais comum do que se imagina. Estudo divulgado em 20132 pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, mostrou que ele afeta uma em cada 50 crianças. Apesar da frequência, ainda há pouca informação sobre o transtorno, o que cerca o assunto de mitos, que, muitas vezes, prejudicam. Veja o que é Mito e o que é Verdade sobre o Autismo.
1 –
Não Há Cura para o Austismo - VERDADE
Autismo é um transtorno do desenvolvimento que pode gerar diferentes graus de
comprometimento. Mas o tratamento é fundamental e, quanto antes iniciado,
melhor. A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, vice-presidente da ONG
Austismo & Realidade, afirma: "O que pensamos ser mais relevante é
obter melhor tratamento para que as pessoas se tornem mais independentes e
tenham mais qualidade de vida. Devemos lidar como o tema como se fosse uma
doença crônica, não esperando que aquela pessoa deixe de ser autista".
2
- Autistas têm um mundo próprio - MITO
Para o psicólogo Daniel Del Rey, não existe isso de "mundo próprio".
O universo do autista é o mesmo de todas as pessoas. O que ocorre é que ele
sente e interage com o entorno de forma diferente. Para Cássia Leal da Hora,
psicóloga especializada em autismo, o indivíduo traz uma sensibilidade
sensorial alterada que o faz se isolar socialmente, parecendo aos olhos dos
outros que vive à parte, o que não é verdade. "Este é um mito antigo.
Diziam isso há muitas décadas, quando se conhecia pouco sobre o assunto. Eles
não têm um mundo próprio, mas dificuldade em conhecer outras pessoas. Não podem
ficar isolados, pois precisam fazer mais contato com outras pessoas. Pais,
familiares e professores são considerados coterapeutas neste sentido", diz
a psicóloga Cristiane Silvestre de Paula.
3
- Autistas são super inteligentes - MITO
Como formam um grupo muito heterogêneo, cada autista é de um jeito. Todos
mostram similaridade na dificuldade social, mas, do ponto de vista intelectual,
podem apresentar performances muito distintas. Existem muitos com inteligência
normal e uma parcela apresenta intelecto acima da média. Estes últimos não raro
mostram habilidades intelectuais globalmente aumentadas ou têm uma capacidade
mental específica mais desenvolvida - como a matemática, a memória, o domínio
de tecnologia, a pintura, ou a música. Segundo a psicóloga Cristiane Silvestre
de Paula, estima-se que cerca de 10% dos autistas sejam muito inteligentes.
"Eles têm o que chamamos de ilhas do conhecimento - são bons em um certo
tema.
4 –
Pessoas com a Doença preferem ficar Sozinhos – PARCIALMENTE VERDADE
O fato é que alguns indivíduos que sofrem com o transtorno se incomodam com
interações prolongadas e contextos sociais muito caóticos e barulhentos.
"Porém, muitos apresentam interesse em se relacionar socialmente, mesmo
não possuindo as habilidades necessárias para fazê-lo", pondera Lygia
Teresa Dorigon, psicoterapeuta especializada em autismo. "Não são poucos
os que buscam convívio social e se ressentem quando não são
bem-sucedidos", complementa Daniel Del Rey, professor do Curso de Intervenção
Precoce em Crianças com Atraso no Desenvolvimento e/ou Desenvolvimento Atípico
no Núcleo Paradigma. Já a vice-presidente da ONG Autismo & Realidade, a
psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, diz que elas têm tendência a querer
ficar sozinhas. "A teoria é que haja uma dificuldade na região do cérebro
que lida com a cognição social e nosso papel é fazer com que essas pessoas
interajam com outras".
5 –
O Ambiente Familiar é o principal Detonador da Doença – MITO
O autismo não é desencadeado por questões familiares, por mais complicadas que
possam ser. A psicóloga Lygia Teresa Dorigon ressalta: "A falta de
incentivo e encorajamento enfatizam sintomas decorrentes do diagnóstico, mas
não deflagra um transtorno desse tipo". A também psicóloga Cristiane
Silvestre de Paula afirma que o ambiente não influencia, porém, a participação
dos pais é essencial para o prognóstico: "Eles não devem esconder ou negar
a situação, muito menos ficar nesta situação por anos, mas procurar ajuda
especializada, isso é essencial".
6
- A maioria dos autistas tem problemas de comunicação, interação social e
comportamento repetitivo – VERDADE
Tais características são as mais comuns entre os indivíduos do espectro
autista. "No entanto, o nível de comprometimento em cada uma dessas áreas
varia imensamente", assegura Daniel Del Rey. O neurologista Leandro Teles
complementa dizendo que a cada dia surgem descrições de formas mais brandas da
doença, com inteligência normal ou acima da média, linguagem bem desenvolvida e
sem estereótipos sérios. "Tais casos são de diagnóstico bem mais
complicado e podem até passar despercebidos na sociedade. Por isso, muitos
pesquisadores acreditam que possa haver muito mais gente dentro do espectro
benigno do que dentro do espectro clássico, mas ainda sem diagnóstico."
7
- Autistas não gostam das pessoas – MITO
Gostam, sentem falta e saudade, prazer na companhia e apego aos demais.
"Como apresentam dificuldade em aprender com os outros e compreender os
sinais sociais, não sabem, muitas vezes, agir da forma esperada nos diferentes
contextos. Isto pode levá-los ao afastamento. Mas, na medida em que adquirem um
repertório, tendem a se aproximar", analisa a psicóloga Cássia Leal da
Hora. "É fundamental desenvolver pontes e atalhos de modo a facilitar a
troca de afeto com os pacientes autistas, respeitando sempre suas limitações e
percepções do mundo", diz o neurologista Leandro Teles. "Muitas
vezes, eles se isolam porque o entorno os incomoda. Com o trabalho
comportamental, essa tendência tende a se abrandar", complementa o
psicólogo Daniel Del Rey.
8 -
A pessoa com autismo pode gritar, espernear e provocar grande confusão ao redor
– VERDADE
Até porque qualquer criança pode fazer isso, mesmo sem autismo. O que ocorre é
que muitos pacientes, principalmente os casos mais típicos e intensos, têm uma
baixa tolerância a ambientes com muito estímulo e que não passam familiaridade.
A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula conta que isso acontece com algumas
crianças, especialmente as que não têm acompanhamento ou cujo comprometimento é
maior: "O papel do profissional é lidar com esta situação, não só tratar, mas
conscientizar a sociedade. Se a criança está com a mãe num supermercado, por
exemplo, quem está ao redor pensa 'esta mulher não sabe educar seu filho'. As
mães sofrem muito preconceito. Divulgando mais o assunto, as pessoas vão
conhecer e, quem sabe, passem a respeitar mais".
9
- Há vários tratamentos que ajudam a melhorar os sintomas – VERDADE
Como se trata de um transtorno muito heterogêneo, o tratamento deve ser sempre individualizado; quer dizer, o que funciona para um paciente pode não funcionar para outro. De modo geral, são usados métodos multimodais, em que terapias se complementam de forma abrangente. "A meta é sempre reduzir comportamentos e sintomas disfuncionais e consolidar atitudes positivas, buscando um equilíbrio que favoreça a integração, a socialização e o engajamento", diz o neurologista Leandro Teles. Ele explica que podem ser usadas (associadas ou não): análises comportamentais, protocolos de interação interpessoal, terapia com animais, treinamento de linguagem, tratamento medicamentoso (em casos selecionados para controle específico de alguns sintomas), dietas (sempre com suporte especializado e ciente do custo versus benefício) e fisioterapia. Os psicólogos Daniel Del Rey e Cássia Leal da Hora complementam informando que fonoaudiólogos ajudam na aquisição da linguagem e terapeutas ocupacionais treinam habilidades motoras e atividades cotidianas. "O conceito atual é o de que, quanto mais precoce for o diagnóstico e início do tratamento, melhores os resultados. Este é, de modo geral, contínuo, desgastante e caro. Por isso, é fundamental a participação de entidades pró-autistas, de incentivo governamental e de integração especializada de todo o sistema de saúde. Também não podemos nos esquecer de orientar a família, a comunidade e toda a sociedade, pois o preconceito, a falta de acolhimento e de oportunidades são tão ou mais impactantes na qualidade de vida do que o próprio transtorno", conclui Leandro Teles.
Como se trata de um transtorno muito heterogêneo, o tratamento deve ser sempre individualizado; quer dizer, o que funciona para um paciente pode não funcionar para outro. De modo geral, são usados métodos multimodais, em que terapias se complementam de forma abrangente. "A meta é sempre reduzir comportamentos e sintomas disfuncionais e consolidar atitudes positivas, buscando um equilíbrio que favoreça a integração, a socialização e o engajamento", diz o neurologista Leandro Teles. Ele explica que podem ser usadas (associadas ou não): análises comportamentais, protocolos de interação interpessoal, terapia com animais, treinamento de linguagem, tratamento medicamentoso (em casos selecionados para controle específico de alguns sintomas), dietas (sempre com suporte especializado e ciente do custo versus benefício) e fisioterapia. Os psicólogos Daniel Del Rey e Cássia Leal da Hora complementam informando que fonoaudiólogos ajudam na aquisição da linguagem e terapeutas ocupacionais treinam habilidades motoras e atividades cotidianas. "O conceito atual é o de que, quanto mais precoce for o diagnóstico e início do tratamento, melhores os resultados. Este é, de modo geral, contínuo, desgastante e caro. Por isso, é fundamental a participação de entidades pró-autistas, de incentivo governamental e de integração especializada de todo o sistema de saúde. Também não podemos nos esquecer de orientar a família, a comunidade e toda a sociedade, pois o preconceito, a falta de acolhimento e de oportunidades são tão ou mais impactantes na qualidade de vida do que o próprio transtorno", conclui Leandro Teles.
10
- Autismo pode ser hereditário – VERDADE
O psiquiatra Guilherme Polanczyk, coordenador do núcleo de pesquisa de
neurodesenvolvimento inicial de crianças da Faculdade de Medicina da USP conta
que o autismo é uma das doenças psiquiátricas com maior particularidade
genética. "Pode ser transmitida pelos pais ou por mutações espontâneas,
que acontecem no momento da divisão celular", explica. Segundo a psicóloga
e professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Cristiane Silvestre de
Paula, este é um assunto que assusta as pessoas. "Realmente, se já há um
filho autista na família, as chances de outro nascer com o problema são
grandes. Trata-se de uma doença neurobiológica com componentes hereditários. Em
gêmeos monozigóticos é ainda mais comum a ocorrência".
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