segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Especial Novelas: Rainha da Sucata (1990)


Ambientada em São Paulo, a trama de Rainha da Sucata retrata o universo dos novos-ricos e da decadente elite paulista contrapondo duas personagens femininas, a emergente Maria do Carmo (Regina Duarte) e a socialite falida Laurinha Figueroa (Glória Menezes). Maria do Carmo enriquece com os negócios do pai, o vendedor de ferro-velho Onofre (Lima Duarte), e se torna uma bem-sucedida empresária, mas mantém os hábitos de seu passado humilde. Ela mora com o pai e a mãe, Neiva (Nicette Bruno), no bairro de Santana, na zona norte de São Paulo. Apaixonada por Edu Figueroa (Tony Ramos), que a desprezara e humilhara na juventude, ela decide “comprá-lo”: propõe casar-se com ele para ajudar sua família, de origem tradicional, mas à beira da falência. 

Edu aceita a proposta, e a emergente, após o casamento, vai morar no casarão dos Figueroa, nos Jardins, sofisticado reduto da cidade. Na nova casa, Maria do Carmo passa a viver um pesadelo por causa de Laurinha, madrasta de Edu, que é obcecada pelo enteado e faz tudo para conquistá-lo, não deixando a “sucateira” em paz. Além do mau casamento e da perseguição de Laurinha, a empresária começa a ver seus negócios darem errado por culpa do administrador Renato Maia (Daniel Filho), em quem ela confiava plenamente. Renato, na realidade, é um corrupto que aplica um golpe em Maria do Carmo.

No final da novela, após muitas armações, Laurinha se atira de um edifício na Avenida Paulista. Antes, porém, colabora para a morte do marido, Betinho (Paulo Gracindo), que sofre de diabetes: ela lhe oferece bombons e chocolates, e troca seus medicamentos; Betinho tem uma crise de hiperglicemia e morre. A vilã ainda consegue incriminar Maria do Carmo, arrancando um brinco de sua orelha antes de pular do prédio, para parecer que foi empurrada pela rival. A emergente, no entanto, consegue se livrar da acusação. Sem dinheiro, Maria do Carmo volta a vender sucata, mas chega ao fim da trama nos braços de Edu, que se confessa verdadeiramente apaixonado por ela.

Tramas Paralelas

Dona Armênia:
Uma das personagens mais marcantes de Rainha da Sucata é dona Armênia (Aracy Balabanian), uma mãe superprotetora, que controla a vida dos três filhos, Geraldo (Marcello Novaes), Gerson (Gerson Brenner) e Gino (Jandir Ferrari), aos quais se refere, com sotaque carregado, como “minhas filhinhas”. Dona de um visual  extravagante e de um sotaque que mistura armênio e português, Dona Armênia é proprietária de uma escola de para-quedismo e de um terreno na Avenida Paulista, onde foi construído um prédio comercial. Neste edifício fica o escritório da Do Carmo Veículos e a Sucata, empresa e casa de shows de Maria do Carmo (Regina Duarte). Dona Armênia vive ameaçando a empresária, dizendo que implodirá o prédio e o jogará “na chon”, expressão que se tornou marca da personagem e ganhou popularidade entre os telespectadores, transformando-se em bordão. Dona Armênia desperta a paixão de Seu Moreiras (Flávio Migliaccio), dono da quitanda do bairro. 

O Professor e a Bailarina:
Outra trama de sucesso foi o triângulo amoroso formado por Adriana Ross (Claudia Raia), a “bailarina da coxa grossa”, o professor gago Caio Szimanski (Antonio Fagundes, em inédito papel cômico na TV) e a sensual Nicinha (Marisa Orth), que ficou conhecida como Purgante, apelido dado por Adriana.


Esposa enganada:
A trajetória da tímida Mariana Szimanski (Renata Sorrah), irmã de Caio (Antonio Fagundes), também ganhou destaque na história. Seduzida pelo mau-caráter Renato Maia (Daniel Filho), que se casa com ela interessado em sua herança, Mariana sofre nas mãos do marido vigarista. Ao longo da novela, ela é alertada pela jornalista Paula (Claudia Ohana) e por Jonas (Raul Cortez), seu admirador, de que Renato é um homem perigoso, capaz de tudo para alcançar seus objetivos; mas, apaixonada, não dá ouvidos aos dois. Somente nos capítulos finais Mariana percebe que foi enganada, e tenta se livrar de Renato. 

Curiosidades:

O autor Silvio de Abreu preparou a sinopse de Rainha da Sucata em um mês, a pedido do vice-presidente de operações da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que lhe encomendou “uma trama com linguagem de novela das 19h, só que para ir ao ar às 20h”. Mas a novela só começou a fazer sucesso mesmo quando o autor juntou o drama à comédia.

Silvio de Abreu escreveu Rainha da Sucata para Regina Duarte, com quem havia trabalhado, como ator, na TV Excelsior. E quis Glória Menezes para fazer a vilã, papel que ela nunca havia feito antes. Além delas, também queria trabalhar com Tony Ramos, que conhecia desde os tempos da TV Tupi, mas com quem ainda não havia trabalhado.  

Devido a problemas de doença na família, Silvio de Abreu atrasou a entrega de capítulos, e contou com a ajuda de Gilberto Braga para equilibrar a trama. Braga escreveu nove capítulos da novela. 

Rainha da Sucata foi a primeira novela do autor Alcides Nogueira como colaborador de Silvio de Abreu, com quem ele viria a trabalhar em outras tramas, como Deus nos Acuda (1992), A Próxima Vítima (1995), Torre de Babel (1998) e As Filhas da Mãe (2001).

A ideia do personagem Caio Szimanski ser gago foi sugestão de seu intérprete, o ator Antonio Fagundes, que fazia seu primeiro papel cômico na TV Globo. Em determinado momento da história, Caio bate a cabeça e se cura da gagueira. O autor Silvio de Abreu, porém, recebeu tantas reclamações do público que, em dois capítulos, Caio voltou a gaguejar.

Para escrever a cena em que Maria do Carmo, ainda jovem, é humilhada pela turma no baile de sua escola, Silvio de Abreu se inspirou no clássico de terror Carrie, a Estranha (1976), de Brian De Palma. Na novela, os colegas de escola atiram lixo sobre a personagem no momento em que ela é coroada rainha da festa. 

Rainha da Sucata estreou em plena efervescência do confisco da poupança pelo governo de Fernando Collor de Mello. Por conta do plano econômico, Silvio de Abreu reescreveu cenas de 30 capítulos que já estavam prontos, e combinou com o diretor Jorge Fernando a regravação de outras para que a trama não ficasse desatualizada. Como a história principal girava em torno da protagonista Maria do Carmo (Regina Duarte), cujo dinheiro outros personagens cobiçavam, ele fez com que o dinheiro da personagem estivesse investido em uma construção, e, por isso, ela era a única que não havia sofrido com o confisco.

Segundo Silvio de Abreu, a personagem Maria do Carmo foi criada com base em uma pesquisa sobre a mudança de mãos do dinheiro, configurando uma nova realidade social que apontava para a ascensão econômica de grupos que, apesar do aumento do poder aquisitivo, não necessariamente adquiriam mais cultura, fazendo-os entrar em choque com as famílias tradicionais.

Três finais diferentes foram escritos para a novela, para manter o segredo sobre o fim da personagem Maria do Carmo.

Claudia Raia engordou dez quilos para viver Adriana, a “bailarina da coxa grossa”. A certa altura, a atriz disse a Silvio de Abreu que não aguentava mais ficar tão acima de seu peso e, a partir daí, o autor criou cenas hilárias em que a personagem começa a fazer uma rígida dieta para tentar conseguir um trabalho. Em uma das cenas, para perder calorias, Adriana se enrola em um plástico de PVC, corre e pula corda na sala de sua casa. 

O personagem de Paulo Gracindo, Betinho, usava uma expressão recorrente quando se referia às atitudes de sua mulher – “coisas de Laurinha” –, que acabou se transformando em um bordão reproduzido pelo público. 

Fato pouco comum na televisão brasileira, Rainha da Sucata mostrou uma cena de suicídio com mais detalhes: a personagem de Glória Menezes se atira do último andar de um edifício na Avenida Paulista, no final da trama. Em outras novelas, quando os personagens se suicidavam, já eram encontrados mortos ou, no máximo, o espectador ouvia um tiro. A repercussão foi tão grande – também por se tratar de uma personagem interpretada por Glória Menezes em uma novela que vinha fazendo sucesso – que uma foto da cena estampou a primeira página do jornal O Globo um dia após a sua gravação.

A atriz Fernanda Montenegro fez uma participação especial na novela, no papel de Salomé Szimanski, mãe de Caio (Antonio Fagundes) e Mariana (Renata Sorrah). 

Aracy Balabanian, que viveu a Dona Armênia na trama, apesar de nascida em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, é filha de armênios, que vieram para o Brasil fugindo da Primeira Guerra Mundial. Dessa forma, pôde emprestar o sotaque e alguns costumes de seu povo de origem à sua personagem, além de auxiliar no trabalho da equipe de produção de arte.

O autor Silvio de Abreu resgatou Dona Armênia (Aracy Balabanian) e seus três filhos, Geraldo (Marcello Novaes), Gerson (Gerson Brenner) e Gino (Jandir Ferrari), na novela Deus Nos Acuda, exibida na TV Globo em 1992. Eles foram interpretados pelos mesmos atores.

Com Rainha da Sucata, a TV Globo deixou de apresentar as cenas do próximo capítulo. A novela passou a terminar em um momento de clímax, e a programação a seguir entrava direto no ar. O objetivo era evitar que o telespectador mudasse de canal no intervalo entre as programações. Além disso, os capítulos ganharam em duração, passando de 45 minutos para cerca de 60 minutos.

Rainha da Sucata marcou as estreias de Marisa Orth e Cleyde Yáconis em novelas da TV Globo. 

Marília Pêra fez uma participação especial na história interpretando ela mesma. A atriz recebia a desastrada personagem Adriana (Claudia Raia) no teatro, no espetáculo que estrelava na época. 

Rainha da Sucata foi o primeiro trabalho de Andréa Beltrão na TV após o sucesso do seriado Armação Ilimitada (1985). A atriz, que ficara mais de um ano dedicada ao teatro, queria fazer outros papéis na televisão. Ela temia ser vista apenas como Zelda, sua personagem no seriado. Coincidentemente, Ingrid, sua personagem na novela, também havia passado muitos anos na França. De tanto assistir a filmes franceses para ajudar na interpretação, Andréa convenceu com seu sotaque, embora nunca tivesse estudado a língua antes.

O músico Guilherme Dias Gomes, filho de Janete Clair e Dias Gomes, era quem dublava Daniel Filhonas cenas em que seu personagem, Renato, tocava trompete.

Rainha da Sucata marcou o reencontro de Nicette Bruno com Silvio de Abreu, com quem já havia trabalhado em teatro, além de ter participado da primeira novela do autor, Éramos Seis, escrita em parceria com Rubens Ewald Filho e exibida na TV Tupi em 1977.

A novela foi reapresentada entre fevereiro e setembro de 1994, em Vale a Pena Ver de Novo. 


Rainha da Sucata fez grande sucesso no exterior, sendo vendida para, entre outros países, Angola, Bolívia, Canadá, Chile, Costa Rica, Estados Unidos, Guatemala, Nicarágua, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. 

Elenco:
Regina Duarte – Maria do Carmo
Glória Menezes – Laurinha Figueroa
Tony Ramos – Eduardo Figueroa
Aracy Balabanian – Dona Armênia
Paulo Gracindo – Alberto Figueroa
Renata Sorrah – Mariana Szimanski
Antônio Fagundes – Caio Szimanski
Cláudia Raia – Adriana
Raul Cortez – Jonas Queiroz
Nicette Bruno - Neiva
Daniel Filho – Renato Maia
Cláudia Ohana – Paula
Gianfrancesco Guarnieri – Irineu
Andréa Beltrão – Ingrid
Cleyde Yáconis – Isabelle
Flávio Migliaccio - Osvaldo
Patrícia Pillar – Alaíde
Lolita Rodrigues – Maria Helena
Maurício Mattar – Rafael
Laura Cardoso – Iolanda
Mário Gomes – Clóvis
Marisa Orth – Nicinha
Zeni Pereira – Mãe Mercedes
Gilberto Martinho – Alberico
Ida Gomes – Mariza
Ilka Soares – Júlia
Carlos Gregório – Osmar
Neuza Amaral – Dalva
Beatriz Lyra – Odete
Marcello Novaes – Geraldo
Gerson Brenner – Gerson
Jandir Ferrari – Gino
Mônica Torres – Guida
Dill Costa – Vilmar
Aldine Muller – Ângela
José Augusto Branco – Dr. Ademar
Ivan Cândido – Franklin
Maria Helena Dias – Zaíra
Paulo Reis – Guga
Carlos Kroeber – Conde Giacomo di Lampedusa
Gracindo Júnior – Vado
Castro Gonzaga – Julien
Rosita Thomaz Lopes – Estela
Neusa Borges – Juíza InÇes
Nelson Freitas – Marcelo
Humberto Martins – Osvaldinho
André Di Mauro – Manuel
Hilda Rebello – Dona Jorgina


Participação Especial:
Fernanda Montenegro – Salomé Szimanski
Stênio Garcia – Sérgio
Emiliano Queiróz – Giácomo Giovani
Lima Duarte – Onofre Pereira
Milton Moraes – Vicente
Marília Pêra como ela mesma


Trilha Sonora

Nacional
Capa: Cláudia Raia

Me Chama Que Eu Vou - Sidney Magal
Foi Assim (Juventude e Ternura) – Wanderléa
Coração Pirata - Roupa Nova
Cigano – Djavan
Próxima Parada - Marina Lima
A Mais Bonita– Maria Bethânia
Na Captura (Instrumental) – Ary Sperling
Coisas da Vida - Milton Nascimento
Nua Ideia - Gal Costa
Meninos e Meninas - Legião Urbana
Mais Você – Ritchie
Lanterna dos Afogados - Os Paralamas do Sucesso
Naquela Estação - Adriana Calcanhotto
Em Busca do Amor (Instrumental) – Ary Sperling


Internacional
Capa: Cláudia Ohana

Into My Life – Colin Hay Band
All Around The World - Lisa Stansfield
Rebel In Me - Jimmy Cliff
Listen To Your Heart – Sonia
Come Back To Me - Janet Jackson
Forever – Kiss
Inside of You – Howard Thomas & Sarah Bishop
My Romance - Carly Simon
Send Me An Angel" - Real Life
Vision of Love - Mariah Carey
It Had To Be You - Harry Connick Jr
Blue – Geoffrey Williams
Reve D'Amour – Nuages
Too Many Lonely Hearts – Petula Clark

Abertura

Chamada de Elenco

Suicídio de Laurinha

Um comentário:

  1. Claudia Raia foi vítima de um falatório absurdamente maldoso e exagerado sobre seu peso na época de Rainha da Sucata. E ela não estava gorda, a não ser para padrões neuróticos da mídia. Na verdade ela chegou a pesar 73 kg, o que, para sua altura de 1,80m, corresponde a um IMC de 22,5. Um peso normal, portanto. E ela estava lindona e não precisava emagrecer.

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