sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Recordando a Carreira: 74 anos de Cláudio Marzo


Irmãos Coragem (1970)
Quando recebeu a proposta para trabalhar na Globo, ainda nos primeiros meses de 1965, Cláudio Marzo estava muito atarefado. Aos 25 anos, morava em São Paulo, fazia parte do Grupo Oficina e encenava uma versão de Toda Donzela Tem um Pai que é Uma Fera, de Gláucio Gil. Não bastasse, ainda dublava 40 filmes para uma série americana chamada Mr. Novac. O ator, no entanto, não pensou duas vezes. Meses após o golpe militar de 1964, e aos primeiros indícios de censura à atividade artística, tudo que ele queria era se mudar para o Rio de Janeiro e ter um contrato assinado com uma nova emissora de televisão.

Minha Doce Namorada (1971) com Regina Duarte
E foi assim que Cláudio Marzo acabou por escrever o seu nome na história da televisão brasileira, ao fazer parte do primeiro grupo de atores contratados pela Globo, inaugurada em 26 de abril de 1965. “Por coincidência, a Globo tinha comprado esses filmes que eu dublava. Então, já contratado, eu continuava em São Paulo, até terminar as dublagens. Queria ter vindo antes, estava doido para vir para o Rio”, lembra. Foi por conta desse pequeno atraso que o ator acabou escalado não para a primeira, mas para a segunda novela da emissora no horário das 19h, A Moreninha, de Graça Mello, que contou com apenas 35 capítulos.

Plumas e Paetês (1980) com Elizabeth Savalla
Cláudio Marzo chegou à Globo com uma boa experiência no ramo. Paulista, nascido em 26 de setembro de 1940, filho de uma família de operários e descendente de italianos, ele abandonou os estudos aos 17 anos para trabalhar como figurante na TV Paulista, canal 5, pertencente às Organizações Victor Costa. Depois, foi contratado pela TV Tupi, onde atuou numa produção sobre Chopin. “Deixei até o cabelo crescer para viver o músico, ninguém naquela época tinha cabelo comprido”, pontua. Foi a partir do seu trabalho na TV Tupi que acabou no Teatro Oficina. “Sempre tive vontade de ser ator, achava uma coisa fantástica. Os atores me emocionavam. Achava interessante você transmitir emoções e consciência de mundo para as pessoas. Na época, eu acreditava, ingenuamente até, que o teatro pudesse modificar o mundo”, recorda.

Pantanal (1990) na TV Manchete
O ator guarda com carinho as lembranças do tempo em que atuou ao vivo na televisão. “Era muito emocionante, porque era ao vivo, não tinha a tecnologia de hoje. As coisas aconteciam na hora. Tinha certo calor de teatro. Você ensaiava o tempo que fosse necessário, ia lá e entrava em cena, como num palco: acendia a luzinha da câmera, você estava na casa do espectador. Podia errar, mas não podia corrigir. Era uma coisa vibrante”, descreve com saudades.
A produção de novelas, no entanto, era cada vez mais frequente e contava com novos recursos. Cláudio Marzo participou de várias nesse período, até que, em 1969, atuou ao lado de Regina Duarte em Véu de Noiva, de Janete Clair. Oitava novela das oito da emissora, com um total de 204 capítulos, Véu de Noiva foi a primeira telenovela contemporânea da Globo, uma resposta à tendência iniciada por Beto Rockfeller, exibida pela TV Tupi. Foi também a primeira telenovela a ganhar uma trilha sonora original, com músicas escolhidas por Nelson Motta.
O par romântico Cláudio Marzo e Regina Duarte caiu no gosto popular. E voltou a ser escalado em Irmãos Coragem, de Janete Clair, produzida em 1970. Na trama, o ator viveu um dos irmãos Coragem, Duda, um craque dos campos de futebol. Foi mais um sucesso de público. “Eu não queria fazer sucesso em televisão. Eu queria ser ator de teatro, entende? E achava que, na minha cabeça, na época, fazer sucesso em televisão era uma coisa que te queimava. Novela, televisão, isso era uma coisa inferior. Mas eu precisava trabalhar”, confessa.

Fera Ferida (1993)
Carinhoso, de Lauro César Muniz, lançada em 1973, trouxe de volta Cláudio Marzo e Regina Duarte. Mas foi na década de 1980 que ele participou de duas produções que marcariam sua carreira. Em Brilhante, novela de Gilberto Braga exibida em 1981, interpretou o motorista Carlos, que vivia um romance com sua patroa, Chica Newman, interpretada por Fernanda Montenegro. O público torceu pelo casal, a despeito do preconceito que os personagens enfrentaram na trama. Já na minissérie Quem Ama Não Mata, de Euclydes Marinho, que foi ao ar em 1982, o ator contracenou com Marília Pêra, vivendo com ela um casal que entra em discórdia porque não consegue ter filhos, chegando até a violência. “Essa minissérie teve uma importância muito grande, porque era o assunto do momento. Eu estava vivamente interessado naquilo. Usamos cinco, seis câmeras, câmeras altas, câmeras baixas, câmeras aqui, câmeras ali. Foi uma coisa muito interessante”, relembra.

Era Uma Vez (1998)
Cláudio Marzo se afastou da Globo no início de 1988, e só voltou para a emissora em 1993. Antes disso, participou de duas novelas na extinta TV Manchete: Kananga do Japão, de Wilson Aguiar Filho, em 1989, e Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, no ano seguinte, um grande sucesso de audiência e que ele destaca como um dos mais bonitos trabalhos que já fez na televisão.

De volta à Globo em 1993, atuou em Fera Ferida, de Walther Negrão, no papel do coveiro Orestes Fronteira. Dois anos depois, foi convidado para participar do remake de Irmãos Coragem, dessa vez vivendo o poderoso coronel Pedro Barros, justamente quem perseguia a família Coragem. Em 2007, na Globo, atuou na novela Desejo Proibido, de Walther Negrão, e na minissérie Amazônia – De Galvez a Chico Mendes, de Gloria Perez, no papel de Ramalho Jr, ex-governador do Acre. O último trabalho na Globo foi no seriado Guerra e Paz, em 2009. O ator interpretou o capitão Guerra.


Desejo Proibido (2007)
A carreira de Cláudio Marzo também inclui grandes trabalhos no cinema. Foram nada menos do que 35 longas-metragens, entre os quais O Homem Nu, dirigido por Hugo Carvana, com roteiro de Fernando Sabino, em 1990, que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no conceituado Festival de Gramado. “Gosto muito de cinema. Adoro ver cinema. Acho que gosto mais de ver do que de fazer”, pondera.

Fonte: Memória Globo

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