Irmãos Coragem (1970) |
Quando
recebeu a proposta para trabalhar na Globo, ainda nos primeiros meses de 1965,
Cláudio Marzo estava muito atarefado. Aos 25 anos, morava em São Paulo, fazia
parte do Grupo Oficina e encenava uma versão de Toda Donzela Tem um Pai
que é Uma Fera, de Gláucio Gil. Não bastasse, ainda dublava 40 filmes para uma
série americana chamada Mr. Novac. O ator, no entanto, não pensou duas
vezes. Meses após o golpe militar de 1964, e aos primeiros indícios de censura
à atividade artística, tudo que ele queria era se mudar para o Rio de Janeiro e
ter um contrato assinado com uma nova emissora de televisão.
Minha Doce Namorada (1971) com Regina Duarte |
E
foi assim que Cláudio Marzo acabou por escrever o seu nome na história da
televisão brasileira, ao fazer parte do primeiro grupo de atores contratados
pela Globo, inaugurada em 26 de abril de 1965. “Por coincidência, a Globo tinha
comprado esses filmes que eu dublava. Então, já contratado, eu continuava em
São Paulo, até terminar as dublagens. Queria ter vindo antes, estava doido para
vir para o Rio”, lembra. Foi por conta desse pequeno atraso que o ator acabou
escalado não para a primeira, mas para a segunda novela da emissora no horário
das 19h, A
Moreninha, de Graça Mello, que contou com apenas 35 capítulos.
Plumas e Paetês (1980) com Elizabeth Savalla |
Cláudio
Marzo chegou à Globo com uma boa experiência no ramo. Paulista, nascido em 26
de setembro de 1940, filho de uma família de operários e descendente de
italianos, ele abandonou os estudos aos 17 anos para trabalhar como figurante
na TV Paulista, canal 5, pertencente às Organizações Victor Costa. Depois, foi
contratado pela TV Tupi, onde atuou numa produção sobre Chopin. “Deixei até o
cabelo crescer para viver o músico, ninguém naquela época tinha cabelo
comprido”, pontua. Foi a partir do seu trabalho na TV Tupi que acabou no Teatro
Oficina. “Sempre tive vontade de ser ator, achava uma coisa fantástica. Os
atores me emocionavam. Achava interessante você transmitir emoções e
consciência de mundo para as pessoas. Na época, eu acreditava, ingenuamente
até, que o teatro pudesse modificar o mundo”, recorda.
Pantanal (1990) na TV Manchete |
O
ator guarda com carinho as lembranças do tempo em que atuou ao vivo na
televisão. “Era muito emocionante, porque era ao vivo, não tinha a tecnologia
de hoje. As coisas aconteciam na hora. Tinha certo calor de teatro. Você
ensaiava o tempo que fosse necessário, ia lá e entrava em cena, como num palco:
acendia a luzinha da câmera, você estava na casa do espectador. Podia errar,
mas não podia corrigir. Era uma coisa vibrante”, descreve com saudades.
A
produção de novelas, no entanto, era cada vez mais frequente e contava com
novos recursos. Cláudio Marzo participou de várias nesse período, até que, em
1969, atuou ao lado de Regina Duarte em Véu
de Noiva, de Janete Clair. Oitava novela das oito da emissora, com um total
de 204 capítulos, Véu
de Noiva foi a primeira telenovela contemporânea da Globo, uma
resposta à tendência iniciada por Beto Rockfeller, exibida pela TV Tupi.
Foi também a primeira telenovela a ganhar uma trilha sonora original, com
músicas escolhidas por Nelson Motta.
O
par romântico Cláudio Marzo e Regina Duarte caiu no gosto popular. E voltou a
ser escalado em Irmãos
Coragem, de Janete Clair, produzida em 1970. Na trama, o ator viveu um dos
irmãos Coragem, Duda, um craque dos campos de futebol. Foi mais um sucesso de
público. “Eu não queria fazer sucesso em televisão. Eu queria ser ator de
teatro, entende? E achava que, na minha cabeça, na época, fazer sucesso em
televisão era uma coisa que te queimava. Novela, televisão, isso era uma coisa
inferior. Mas eu precisava trabalhar”, confessa.
Fera Ferida (1993) |
Carinhoso,
de Lauro César Muniz, lançada em 1973, trouxe de volta Cláudio Marzo e Regina
Duarte. Mas foi na década de 1980 que ele participou de duas produções que
marcariam sua carreira. Em Brilhante,
novela de Gilberto Braga exibida em 1981, interpretou o motorista Carlos, que vivia
um romance com sua patroa, Chica Newman, interpretada por Fernanda Montenegro.
O público torceu pelo casal, a despeito do preconceito que os personagens
enfrentaram na trama. Já na minissérie Quem
Ama Não Mata, de Euclydes Marinho, que foi ao ar em 1982, o ator
contracenou com Marília Pêra, vivendo com ela um casal que entra em discórdia
porque não consegue ter filhos, chegando até a violência. “Essa minissérie teve
uma importância muito grande, porque era o assunto do momento. Eu estava
vivamente interessado naquilo. Usamos cinco, seis câmeras, câmeras altas,
câmeras baixas, câmeras aqui, câmeras ali. Foi uma coisa muito interessante”,
relembra.
Era Uma Vez (1998) |
Cláudio
Marzo se afastou da Globo no início de 1988, e só voltou para a emissora em
1993. Antes disso, participou de duas novelas na extinta TV Manchete: Kananga
do Japão, de Wilson Aguiar Filho, em 1989, e Pantanal, de Benedito Ruy
Barbosa, no ano seguinte, um grande sucesso de audiência e que ele destaca como
um dos mais bonitos trabalhos que já fez na televisão.
De
volta à Globo em 1993, atuou em Fera
Ferida, de Walther Negrão, no papel do coveiro Orestes Fronteira. Dois anos
depois, foi convidado para participar do remake de Irmãos
Coragem, dessa vez vivendo o poderoso coronel Pedro Barros, justamente quem
perseguia a família Coragem. Em 2007, na Globo, atuou na novela Desejo
Proibido, de Walther Negrão, e na minissérie Amazônia
– De Galvez a Chico Mendes, de Gloria Perez, no papel de Ramalho Jr,
ex-governador do Acre. O último trabalho na Globo foi no seriado Guerra e
Paz, em 2009. O ator interpretou o capitão Guerra.
Desejo Proibido (2007) |
A
carreira de Cláudio Marzo também inclui grandes trabalhos no cinema. Foram nada
menos do que 35 longas-metragens, entre os quais O Homem Nu, dirigido por
Hugo Carvana, com roteiro de Fernando Sabino, em 1990, que lhe rendeu o prêmio
de melhor ator no conceituado Festival de Gramado. “Gosto muito de cinema.
Adoro ver cinema. Acho que gosto mais de ver do que de fazer”, pondera.
Fonte: Memória Globo
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