Juca de Oliveira |
Os
habitantes do fictício vilarejo de Bole-Bole estão mobilizados em torno de um
plebiscito para a troca do nome da cidade para Saramandaia. Duas facções
promovem uma intensa campanha. O coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) lidera os
“tradicionalistas”, usando justificativas históricas para a conservação do nome
original. Os “mudancistas”, liderados pelo coronel Tenório Tavares (Sebastião
Vasconcelos), têm o apoio do vereador João Gibão (Juca
de Oliveira), autor do projeto: eles alegam vergonha do nome Bole-Bole,
relacionado a um episódio ocorrido com D. Pedro II na cidade.
Sônia Braga |
Inspirado
no realismo fantástico, Dias Gomes apresentou um painel de personagens exóticos
para, por meio da ficção, abordar questões políticas, culturais e
socioeconômicas, transformando a cidade fictícia da novela em um microcosmo do
Brasil. O coronel Zico Rosado põe formigas pelo nariz; Dona Redonda (Wilza
Carla) explode de tanto comer; a sensual Marcina (Sônia
Braga) provoca queimaduras com o calor do corpo; o professor Aristóbulo
Camargo (Ary
Fontoura) se transforma em lobisomem nas noites de quinta-feira. Além
disso, sob a aparente corcunda, o pacato João Gibão esconde um par de asas.
No
primeiro capítulo da novela, durante uma discussão sobre a mudança do nome da
cidade, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) fica tão vermelho que o coração vai
parar na boca. Ele consegue engoli-lo de volta, mas é dado como morto – o povo
acha que ele não engoliu direito. Como era contra a substituição do nome
Bole-Bole, os tradicionalistas logo passam a considerá-lo como o primeiro
mártir de sua causa, dizendo que ele morreu de “indignação cardíaca”. O
defunto, porém, volta à vida durante seu cortejo fúnebre.
Eloísa Mafalda |
Interesses
políticos e econômicos estão por trás da discussão sobre a mudança do nome da
cidade. O coronel Tenório Tavares defende a troca, pois pretende lançar no
mercado a cachaça Saramandaia, nome que fez questão de registrar antes mesmo da
realização do plebiscito. A bebida será concorrente da cachaça Bole-Bole,
produzida por seu inimigo, Zico Rosado, defensor ferrenho da manutenção do nome
da cidade. A briga, extensiva aos partidários de um e outro, reflete a disputa
política entre os dois coronéis, que agem através de meios lícitos e ilícitos
para se manter no poder.
No
capítulo 13, são apurados os votos do plebiscito, que dá vitória ao nome
Saramandaia, em uma disputa apertada. Os tradicionalistas tentam impedir a
mudança, e pedem ao professor Aristóbulo para entrar com um mandado de
segurança para anular o plebiscito mas, alguns meses depois, o resultado é
homologado. Como vários acontecimentos trágicos se sucedem – a explosão de Dona
Redonda, uma seca interminável e a morte do filho do prefeito –, o povo é induzido
a atribuir o azar à troca do nome da cidade, levando Zico Rosado a se
aproveitar da fé popular para tentar fazer com que Saramandaia volte a ser
Bole-Bole. Mas o novo nome é mantido.
Tramas
Paralelas
Antônio Fagundes |
João
Gibão e Marcina:
João Gibão (Juca de Oliveira) e Marcina (Sônia Braga) são apaixonados, mas ele se esquiva dela para não revelar que tem asas, levando-a a acreditar que não é amada. A moça também tem suas esquisitices: volta e meia é acometida por uma febre muito alta que a deixa com o corpo em brasa, não raro provocando queimaduras em quem a toca. Até seu lençol carrega a marca do calor. Dr. Rochinha (José Augusto Branco) receita-lhe casamento como cura. Diante da frieza de João, que evita uma maior aproximação para que ela não descubra suas asas, Marcina passa a provocar-lhe ciúmes. Os dois terminam o namoro, e ela se aproxima do delegado Petronilho (Carlos Gregório). Seus pais logo querem vê-la casada com o rapaz que, no entanto, não está disposto a romper seu voto de castidade. Não suportando ficar distante de sua amada, João a pede em casamento, e o pai da noiva, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho), embora um “tradicionalista”, acaba aceitando. É somente na lua de mel que Marcina descobre o segredo de João, e acaba revelando a descoberta para sua mãe, Maria Aparadeira (Eloísa Mafalda).
João Gibão (Juca de Oliveira) e Marcina (Sônia Braga) são apaixonados, mas ele se esquiva dela para não revelar que tem asas, levando-a a acreditar que não é amada. A moça também tem suas esquisitices: volta e meia é acometida por uma febre muito alta que a deixa com o corpo em brasa, não raro provocando queimaduras em quem a toca. Até seu lençol carrega a marca do calor. Dr. Rochinha (José Augusto Branco) receita-lhe casamento como cura. Diante da frieza de João, que evita uma maior aproximação para que ela não descubra suas asas, Marcina passa a provocar-lhe ciúmes. Os dois terminam o namoro, e ela se aproxima do delegado Petronilho (Carlos Gregório). Seus pais logo querem vê-la casada com o rapaz que, no entanto, não está disposto a romper seu voto de castidade. Não suportando ficar distante de sua amada, João a pede em casamento, e o pai da noiva, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho), embora um “tradicionalista”, acaba aceitando. É somente na lua de mel que Marcina descobre o segredo de João, e acaba revelando a descoberta para sua mãe, Maria Aparadeira (Eloísa Mafalda).
Dina Sfat, Natália do Valle e Ary Fontoura |
Risoleta
e o lobisomem:
O romance de Risoleta com Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura) é um dos chamarizes da novela. Em vez de sentir medo do professor, que todos desconfiam virar lobisomem, a dona da pensão se sente atraída por ele e não descansa até descobrir a verdade. Por várias vezes, em noites de lua cheia, tenta segurá-lo em sua pensão até depois da meia-noite, mas o professor sempre dá um jeito de escapulir. Até que a própria Dona Pupu (Elza Gomes), mãe dele, revela tudo. Risoleta tanto faz que conquista Aristóbulo. Nos capítulos finais, ele passa uma noite de lua cheia com ela e, no dia seguinte, dorme profundamente. O professor não dormia há quase dez anos.
O romance de Risoleta com Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura) é um dos chamarizes da novela. Em vez de sentir medo do professor, que todos desconfiam virar lobisomem, a dona da pensão se sente atraída por ele e não descansa até descobrir a verdade. Por várias vezes, em noites de lua cheia, tenta segurá-lo em sua pensão até depois da meia-noite, mas o professor sempre dá um jeito de escapulir. Até que a própria Dona Pupu (Elza Gomes), mãe dele, revela tudo. Risoleta tanto faz que conquista Aristóbulo. Nos capítulos finais, ele passa uma noite de lua cheia com ela e, no dia seguinte, dorme profundamente. O professor não dormia há quase dez anos.
Wilza Carla |
Seu
Encolheu e dona Redonda:
Dona Redonda (Wilza Carla) e Seu Encolheu (Wellington Botelho) formam um dos casais exóticos da cidade. Ele prevê o tempo com uma simples dor nos ossos, ela não para de comer. Engorda tanto que, um dia, literalmente explode. Tempos depois de sua explosão, nasce uma rosa vermelha no buraco aberto na praça central. A flor, que chega a ficar do tamanho de um guarda-chuva, exala um cheiro forte e nauseabundo – segundo o povo, a gordura de Dona Redonda serve como fertilizante –, fazendo com que os moradores queiram destruí-la. O povo não aguenta mais o odor, que obriga os comerciantes próximos a fecharem as portas e acabou com a feira livre que existia no local. O único a não querer se desfazer da flor é Seu Encolheu, saudoso de sua esposa. Para evitar que ela seja arrancada, ele passa a fazer vigília na praça, armado. A flor, no entanto, é destruída no momento em que, convencido por Padre Romeu (Francisco Dantas) a ir a seu encontro na igreja, Seu Encolheu a deixa sob os cuidados do prefeito Lua (Antonio Fagundes). Ele não percebe a aproximação de um grupo de feirantes e vaqueiros, que dá fim à planta. Tempos depois, Dona Bitela (Wilza Carla), irmã de Dona Redonda, chega à cidade, e começa a engordar muito. Seu Encolheu se apaixona pela cunhada e os dois marcam casamento.
Dona Redonda (Wilza Carla) e Seu Encolheu (Wellington Botelho) formam um dos casais exóticos da cidade. Ele prevê o tempo com uma simples dor nos ossos, ela não para de comer. Engorda tanto que, um dia, literalmente explode. Tempos depois de sua explosão, nasce uma rosa vermelha no buraco aberto na praça central. A flor, que chega a ficar do tamanho de um guarda-chuva, exala um cheiro forte e nauseabundo – segundo o povo, a gordura de Dona Redonda serve como fertilizante –, fazendo com que os moradores queiram destruí-la. O povo não aguenta mais o odor, que obriga os comerciantes próximos a fecharem as portas e acabou com a feira livre que existia no local. O único a não querer se desfazer da flor é Seu Encolheu, saudoso de sua esposa. Para evitar que ela seja arrancada, ele passa a fazer vigília na praça, armado. A flor, no entanto, é destruída no momento em que, convencido por Padre Romeu (Francisco Dantas) a ir a seu encontro na igreja, Seu Encolheu a deixa sob os cuidados do prefeito Lua (Antonio Fagundes). Ele não percebe a aproximação de um grupo de feirantes e vaqueiros, que dá fim à planta. Tempos depois, Dona Bitela (Wilza Carla), irmã de Dona Redonda, chega à cidade, e começa a engordar muito. Seu Encolheu se apaixona pela cunhada e os dois marcam casamento.
Castro Gonzaga |
O
ataque das formigas:
A situação do coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) é cada vez mais assustadora: ele não para de botar formigas pelo nariz. Um engenheiro é chamado para avaliar o estado de sua casa, cujas paredes estão cheias de rachaduras, e confirma que a construção corre o risco de desabar, pois as formigas cavaram túneis no assoalho, abalando os alicerces. Carlito (Milton Moraes), Dalva (Ana Maria Nascimento) e Santinha (Ana Ariel) decidem deixar a casa, mas Rosado não quer abandoná-la, já que é uma herança de família. No final da novela, a casa desaba e o coronel é engolido por um enorme buraco, desaparecendo nos escombros.
A situação do coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) é cada vez mais assustadora: ele não para de botar formigas pelo nariz. Um engenheiro é chamado para avaliar o estado de sua casa, cujas paredes estão cheias de rachaduras, e confirma que a construção corre o risco de desabar, pois as formigas cavaram túneis no assoalho, abalando os alicerces. Carlito (Milton Moraes), Dalva (Ana Maria Nascimento) e Santinha (Ana Ariel) decidem deixar a casa, mas Rosado não quer abandoná-la, já que é uma herança de família. No final da novela, a casa desaba e o coronel é engolido por um enorme buraco, desaparecendo nos escombros.
Curiosidades
Em
sua autobiografia, Apenas um Subversivo (Bertrand Brasil, 1988), Dias
Gomes declara que Saramandaia foi a novela que mais lhe deu prazer de
escrever, embora não esteja entre as mais bem produzidas porque “exigia muitos
efeitos especiais, uma tecnologia que a televisão só viria a dominar alguns
anos mais tarde".
Yoná Magalhães e Sebastião Vasconcellos |
O
ator Pedro
Paulo Rangel, que pela primeira vez interpretou um galã, aprendeu a
andar de moto para viver seu personagem, Dirceu. No primeiro dia de gravação,
caiu e quebrou a perna. A direção recorreu a um dublê, e Pedro Paulo passou a
fazer suas cenas encostado, já que não podia se sentar.
Dias
Gomes incluiu no enredo de Saramandaia personagens criados
inicialmente para a novela Roque Santeiro, que havia sido censurada em
1975.
Tarcísio
Meira e Francisco
Cuoco fizeram participações especiais na trama, respectivamente como
D. Pedro I e Tiradentes.
A
novela marcou a estreia de Antonio
Fagundes na TV Globo.
A
Hofer S.A. lançou, na época da novela, a cachaça Saramandaia, consumida pelos
personagens.
Para
interpretar o professor Aristóbulo Camargo, que virava lobisomem, Ary
Fontoura se inspirou na lenda do boitatá, a partir de um episódio
ocorrido com um empregado de sua avó.
A
cidade da novela tem uma cadeia atípica. Confortável, possui quadros nas
paredes e vasos com flores. As celas ficam com as portas abertas, mas nunca
houve um caso de fuga. Os presos são muito bem tratados e bebem até cerveja.
Milton Moraes e Rafael de Carvalho |
Dias
Gomes demonstrou cuidado para que a novela não virasse um melodrama. Ele deixa
isso claro em nota no capítulo 58, referente a cenas em que Zélia (Yoná
Magalhães) tenta convencer Lua (Antonio
Fagundes) a autorizar que o filho seja submetido a uma transfusão de
sangue. A nota do autor Dias Gomes dizia: “Em toda esta sequência existem cenas
que podem facilmente descambar para o melodrama. Peço, por isso, a maior
contenção”.
O
autor deixou uma mensagem carinhosa para a equipe ao colocar o ponto final no
último capítulo da novela: “Diretores, produtores, técnicos, atores e a todos
que participaram desta produção. Quando lerem este capítulo, estarei voando,
não com as minhas próprias asas, como Gibão, mas com as asas de um DC-10. Mas
deixo aqui a minha sincera gratidão e o meu caloroso aplauso pelo brilho e pelo
entusiasmo com que atuaram nesta novela. Até breve. Dias Gomes”.
Um
incêndio no prédio da TV Globo, na rua Von Martius, no Jardim Botânico, quase
inviabilizou a exibição da novela. Alguns cenários foram queimados e, por
pouco, as fitas com o material gravado não foram consumidas pelo fogo, junto
com fitas de outros programas. Com o incidente, Saramandaia passou a
ser gravada em um dos estúdios da TV Educativa. Saramandaia passou a
ser editada, respectivamente, em São Paulo e Porto Alegre, indo ao ar com
imagens geradas em São Paulo. Os programas do Jornalismo também foram editados
em São Paulo, e gerados de lá.
Elenco:
Juca de Oliveira – João Gibão
Sônia Braga – Marcina
Castro Gonzaga – Zico Rosado
Yoná Magalhães - Zélia
Antônio Fagundes – Lua Viana
Dina Sfat – Risoleta
Ary Fontoura – Professor Aristóbulo
Wilza Carla – Dona Redonda
Sebastião Vasconcellos – Tenório Tavares
Eloísa Mafalda – Maria Aparadeira
Rafael de Carvalho – Seu Cazuza
Elza Gomes - Pupú
Pedro Paulo Rangel – Dirceu
Milton Moraes – Carlito Prata
Lídia Costa – Leocádia Viana
Ana Ariel – Dona Santinha Rosado
Francisco Dantas – Padre Romeu
Marília Barbosa – Bia
Wellington Botelho – Seu Encolheu
Darcy de Souza – Juju Pimenta
Natália do Valle – Dora
Carlos Gregório – Petronílio
Stênio Garcia – Detetive Geraldo
Alzira Andrade – Fernanda
Cosme dos Santos – Giuseppe
Reynaldo Gonzaga – Epaminondas
Maria Pompeu – Ana Bruta
Ivan de Albuquerque – Germano
Brandão Filho – Maestro Cursino
Chica Xavier – Maria das Dores
José Augusto Branco – Rochinha
Wanda Kosmo – Dona Fifi
Carlos Eduardo Dolabella - Homão
Capim Novo - Luiz
Gonzaga
Sou o Estopim - Sônia Braga
Malaksuma - Geraldo Azevedo
Pra Não Morrer de Tristeza - Ney Matogrosso
Canção da Meia-noite – Almôndegas
Borboleta Sabiá - Alceu Valença
Pavão Mysteriozo – Ednardo
Chão Pó Poeira – Gonzaguinha
Jeca Total - Gilberto Gil
Juritis Borboletas - Geraldo Azevedo
Bole-Bole - Wálter Queiróz
Caso Você Case - Marília Barbosa
Xamêgo - Fafá de Belém
Abertura
Explosão de Dona Redonda
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