A
queda de parte da ciclovia Tim Maia deixou a população perplexa. O
questionamento é: como é possível, apenas três meses depois de inaugurada,
parte da pista, que custou R$ 44,7 milhões, tenha desabado? Muitas são as
hipóteses para que a estrutura não tenha suportado a fúria do mar, mas entre as
principais estão o fato de a força das ondas ter sido subestimada e o de a
pista estar apenas apoiada nos pilares de sustentação.
Luiz
Carneiro, diretor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), diz
que o ideal era que o tabuleiro (a pista) estivesse preso às pilastras:
—
Vimos que o tabuleiro da ciclovia estava apenas apoiado justamente em um lugar
com incidência dessa força que vem de baixo para cima. É uma falha que não tem
desculpa. O projeto tem que levar em consideração o efeito da onda, não só para
o tabuleiro, mas para tudo, inclusive para o pilar.
O
engenheiro civil Roberto Lozinsky, especialista em estruturas metálicas, também
sugere que a falta de fixação da ciclovia aos pilares aliada à força da onda
pode ter causado o acidente. Para ele, ainda há o agravante de que, naquele
trecho da Niemeyer, há uma falha na rocha, que faz com que a onda ganhe ainda
mais força:
—
Ali tem uma diferença geológica. Quando a água entra na fenda, ela adquire uma
força muito maior. A plataforma não estava ancorada devidamente. Pelo que
parece, ela estava simplesmente apoiada.
O
engenheiro Antônio Eulálio, conselheiro do Crea, também disse que a força das
ondas foi subestimada. Ele ressalta ainda que, ao visitar o local do acidente,
percebeu que o trecho que desabou tinha apenas uma viga em sua estrutura,
diferentemente de outras partes da ciclovia, característica que também pode ter
influenciado na queda:
—
O engenheiro desprezou ou subestimou a força das ondas. Quando projetamos
estruturas no mar, como plataformas de petróleo, calculamos o efeito da onda
mais forte dos últimos cem anos para fazer o projeto.
PADRÃO
TÉCNICO
O
consórcio Contemat/Concrejato, responsável pela obra da ciclovia na Avenida
Niemeyer, informou ontem, por meio de nota, que “lamenta profundamente o
acidente” e que “se solidariza com as famílias das vítimas”. Anunciou ainda que
uma investigação interna, com a participação de consultores independentes, foi
aberta para avaliar se alguma atividade sob a responsabilidade do consórcio
contribuiu para o desabamento.
A
empresa diz que, na obra, “executou integralmente todos os requisitos técnicos
previstos no edital de licitação e no projeto básico fornecido pela contratante
(a prefeitura)”. Segundo a nota, “os materiais empregados e a qualidade da
construção seguiram todos os padrões técnicos previstos nas normas”.
A
empresa explicou que obras complexas, como a da ciclovia, seguem as orientações
do projeto básico, desenvolvido a partir de estudos técnicos de viabilidade. A
nota do consórcio diz ainda que a fiscalização das obras foi exercida pela
prefeitura, “não tendo sido apontada qualquer irregularidade”.
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