segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dica de Cinema: O fim do Mundo, segundo Lars Von Trier



Texto por Marina Lorenzini

Tendo em vista o possível Fim do Mundo Maia no dia 21 de dezembro de 2012, nada melhor que escolher o filme “Melancolia”, de Lars von Trier, para falar sobre. O filme conta a história do fim do mundo e o comportamento humano diante essa situação de morte iminente. Um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a Terra. Nesse meio tempo Justine (Kristen Dunst) está se casando e sua irmã Claire (Charlotte Gainsbourg) lhe prepara uma grande recepção num castelo. Entretanto, o que aparentemente deixaria Justine feliz, acaba deixando-a num mar de dúvidas e arrependimentos logo em sua festa. São pequenas coisas que acabam levando-a ao ponto extremo do cansaço de fingir felicidade em função das pessoas ao redor.

Sorrisos por conveniência, discursos familiares e de trabalho, tensão jogada pra baixo do tapete, enfim, tudo maquiando bem a cerimônia de recepção, a fim de mostrar que todos ali estão cumprindo seu dever de estarem felizes. Devido a fragilidade emocional, Justine é mostrada na segunda parte do filme já sozinha e numa profunda depressão. O casamento não dá certo e ela agora está com a família da irmã. O fim do mundo, que de modo geral causaria pânico e tristeza nas pessoas, em Justine acaba causando um fortalecimento, uma sensação de alívio por saber que o fim está próximo, que finalmente sua tristeza desaparecerá. Por isso, ela aceita de braços abertos o que está por vir.

O diretor Lars, na segunda parte do filme, faz um contraste sobre o comportamento das pessoas e sobre como elas são realmente. Claire, a irmã de Justine, que passa a primeira parte do filme agindo de forma séria, firme e sensata, entra em desespero ao descobrir que em poucas horas tudo, deixará de existir. Claire tem marido e filho, o que lhe dá segurança e motivo para seguir sempre em frente, mas com o fim do mundo, ela perderia tudo que lhe faz ser.


Dessa forma, quem toma o controle devido a calma aceitação do fim, é Justine. Lars diz que a reação de Claire representa a maioria das pessoas, já Justine, que se abala com acontecimentos aparentemente banais e sem grande significado, não se preocupa com o fim de tudo. Outro personagem que vale a pena citar é Kiefer, marido de Claire, que passa o filme todo como o homem da ciência e sempre confiante, tem um final trágico e um comportamento muito mais desesperado que o das duas mulheres, apesar de contido e silencioso.

A trilha sonora do filme, pra deixá-lo ainda mais tenso e aflito, mesmo que não haja grandes discussões ou cenas de explosão e gente gritando pelas ruas (que é o que estamos acostumados a ver quando se trata de filme sobre o fim do mundo), é o prólogo da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner. Quem conhece a música, mas ainda não assistiu o filme, já começa a entender e imaginar como ele é e como nos sentimos quando estamos de frente à tela. O roteiro foi baseado na peça "As Criadas" de Jean Genet, que conta a história de duas empregadas que acabam matando a patroa. Outra citação de arte é uma das mais marcantes cenas do filme, onde mostra Justine com seu vestido de noiva sendo levada pela correnteza do rio, referência à pintura Ophelia, de John Everett Millais.

É dessa forma serena que segue o fim do mundo. Sem grandes movimentações, acontecimentos ou notícias preocupantes. O mundo simplesmente acaba, e esse nem é o ponto principal do filme, que é alimentado unicamente pelo comportamento e reação de cada um diante o inevitável. Lars conseguiu mostrar que é possível falar sobre, e até demonstrar pânico junto com calmaria diante do que poderíamos considerar como a pior das catástrofes.

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