segunda-feira, 6 de julho de 2015

Especial Novelas: Fera Ferida (1993)


A vingança e a cobiça eram os temas de Fera Ferida, cuja trama se baseava no universo ficcional de Lima Barreto. O prefeito da fictícia Tubiacanga, Feliciano Mota da Costa (Tarcísio Meira), acredita que a cidade esconda preciosas minas de ouro. Ao seu lado estavam os companheiros Major Emiliano Bentes (Lima Duarte), Professor Praxedes (Juca de Oliveira) e Numa Pompílio de Castro (Hugo Carvana). Para provar ao povo de Tubiacanga que está certo, Feliciano mostra uma enorme e brilhante pepita de ouro em plena praça pública, causando um rebuliço entre os tubiacanguenses. Com a pedra nas mãos, o prefeito consegue convencer a todos a entregar-lhe suas economias para a construção de uma empresa de mineração na cidade.

Giulia Gam e Edson Celulari
O destino de Feliciano, no entanto, não seria tão promissor como parecia. A notícia de que a cidade estava cheia de ouro se espalha, e Tubiacanga é invadida por garimpeiros. Dos males esse seria o menor. Quando Feliciano volta da capital com a riqueza da cidade revertida em dólares, revela-se que a pepita que ele mostrara ao povo não era de ouro. Enfurecida, a população se volta contra ele. Para piorar sua situação, a mala com o dinheiro que trouxera da capital desaparece misteriosamente, e seus companheiros acabam ficando contra ele, acusando-o de ladrão. Feliciano, na realidade, fora enganado pelo assessor Demóstenes (José Wilker). Em meio a uma revolta popular, o prefeito se vê obrigado a fugir com a mulher, Laurinda (Lucinha Lins), e o filho, Feliciano Júnior (Diogo Bandeira), de canoa. Perseguidos, ele e a mulher são atingidos por um pistoleiro e morrem afogados. Feliciano Júnior enterra os pais e jura se vingar. Essa parte da história é mostrada no primeiro capítulo da novela e, ao longo da trama, em flashback.

Susana Vieira e Hugo Carvana
Quinze anos depois da desgraça, Feliciano Júnior retorna à Tubiacanga, sob a identidade de Raimundo Flamel (Edson Celulari). Alquimista, cheio de mistérios sobre seu ofício e seu passado, ele aguça a ambição e a cobiça dos moradores da cidade ao se dizer capaz de transformar ossos humanos em ouro. Decidido a vingar a morte do pai, Flamel usa diversas estratégias para acabar com os responsáveis pela tragédia de sua família. Ele não contava, entretanto, que se apaixonaria perdidamente por Linda Inês (Giulia Gam), sua namorada de infância e filha do prefeito Demóstenes, seu principal inimigo. O segundo alvo de Flamel é o Major Bentes, um homem ambicioso e prepotente, que teve um filho bastardo, Cassi Jones (Marcos Winter), com a perigosa Salustiana Maria Tibiriçá (Joanna Fomm) e vive perturbado por esse passado. Os dois travam uma verdadeira disputa pelo poder, usando como pretexto o filho que Salustiana jura ser dele. O filho legítimo de Major Bentes, Guilherme (Rúbens Caribé), é apaixonado por sua namorada Linda Inês, mas a moça não tem o mesmo sentimento por ele. O vereador Numa Pompílio de Castro e o Professor Praxedes de Menezes são os outros alvos da vingança de Flamel. Ao lado de Flamel estão Genival Gusmão (Ewerton de Castro), seu secretário e ouvinte, e Margarida Pestana (Arlete Salles), irmã de Laurinda e madrinha de Flamel, a quem ele revela seu segredo.

Joana Fomm
Flamel tenta, de todas as formas, evitar o amor que sente por Linda Inês. A jovem, por sua vez, sente-se atraída por Flamel assim que o vê, sem saber que ele é Feliciano Júnior, seu namorado de infância. Os dois jovens vivem uma relação conflituosa, pois apesar de amá-la, Flamel evita esse sentimento, obstinado em cumprir sua missão. Quando Linda Inês descobre a verdadeira identidade de Flamel e seu plano de vingança, fica dividida entre o amor que sente por ele e seu pai, Demóstenes, o alvo principal de Flamel. O alquimista desperta, a cada dia, a curiosidade dos poderosos de Tubiacanga. Em determinado momento da história, ele conta a Numa que é capaz de transformar ossos em ouro, atiçando a cobiça do vereador. Mesmo avisado por seu mestre, Nicolau (Ivan de Albuquerque), para não prosseguir com a experiência, Flamel não desiste. O químico chega a ter uma visão do pai, Feliciano, que pede a ele que não leve adiante a ideia da vingança, mas o moço diz que não tem como voltar atrás. Demóstenes, Major Bentes e Praxedes ficam sabendo sobre a mina de ouro de Flamel, a notícia acaba se espalhando por toda a cidade, e os moradores de Tubiacanga passam a violar as sepulturas em busca de ossos.

José Wilker, Juca de Oliveira e Lima Duarte
Flamel volta a repetir a experiência de transformar ossos em ouro, e seu mestre, Nicolau, decide castigá-lo: tudo o que Flamel toca passa a transformar-se em ouro. Para seu desespero, ele transforma Linda Inês em uma estátua do metal dourado. Enquanto isso, Demóstenes incita o povo a invadir o casarão do alquimista, e, enfurecidos, os tubiacanguenses destroem não só a casa de Flamel, como a cidade, em busca de ossos. Em meio à confusão, Major Bentes aponta uma arma contra Flamel, exigindo a poderosa fórmula em troca de sua vida. Orestes atira no major, e ele morre. Aos poucos, tudo volta à normalidade: mestre Nicolau faz os objetos transformados em ouro voltarem ao que eram antes e decide tirar os poderes de alquimista de Flamel. No último capítulo, Linda Inês entrega-se ao amor que sente por seu namorado de infância, e os dois se casam na igreja da cidade, tendo Ilka Tibiriçá (Cassia Kis Magro) e Ataliba Timbó (Paulo Gorgulho), Maria dos Remédios (Luiza Tomé) e Genival Gusmão, Sigfrida (Deborah Evelyn) e Áureo (Cláudio Fontana) e Margarida Pestana e Orestes Fronteira (Cláudio Marzo) como padrinhos.

Tramas Paralelas:

Cássia Kis Magro
Ilka Tibiriçá
A cômica e sensível Ilka Tibiriçá (Cássia Kis Magro) rendeu bons momentos de humor à trama. Cássia Kis Magro criou trejeitos e lançou mão de um visual anos 1960 para compor sua personagem. Cheia de regras e manias e fissurada no filme O Candelabro Italiano (1932), de Delmer Daves, Ilka conhece Ataliba Timbó (Paulo Gorgulho), um ex-jogador de futebol que sofre de impotência sexual. Dona Ilka decide ajudá-lo a resolver o problema e, para isso, elabora pratos especiais, usando receitas exóticas. A atriz lembra que já deu o tom da personagem – uma solteirona elétrica – no primeiro dia de gravação. O diretor Dennis Carvalho, de início, achou exagerado, mas logo viu que aquele era o caminho.

Cláudia Ohana
Realismo fantástico
Traço característico na obra de Aguinaldo Silva, o realismo fantástico se fez presente em alguns personagens da história. Além das mágicas de Flamel (Edson Celulari), com explosões, raios e fumaça, o coveiro Orestes Fronteira (Cláudio Marzo) fala com os mortos e guarda os segredos de todas as famílias de Tubiacanga. Orestes é um personagem fundamental na história, pois através dele, Flamel consegue se comunicar com seu pai. A personagem Camila (Claudia Ohana), sobrinha do professor Praxedes, completa a temática mística de Fera Ferida. Camila é um anjo que dorme durante meses e, de repente, acorda levitando, depois de sentir o cheiro de sua comida favorita: estrogonofe de bacalhau. Aguinaldo Silva conta que o diretor artístico Paulo Ubiratan ousou na gravação da cena de levitação da personagem. O autor escreveu a passagem para que ela levitasse no quarto, acordasse e descesse as escadas em direção à cozinha. Paulo Ubiratan quis mais e fez com que ela levitasse até a cozinha, onde só então acordou.

Curiosidades:
Cláudio Marzo
Fera Ferida foi construída inspirada na obra de Lima Barreto, mais especificamente nos romances Clara dos Anjos, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá e em personagens dos contos Nova Califórnia e O Homem que Sabia Javanês. A novela foi livremente inspirada nos personagens e contos do autor e também era uma metáfora das condições políticas do Brasil na época.

Além de ter se baseado no universo ficcional de Lima Barreto,Aguinaldo Silva homenageou o autor através do poeta Afonso Henriques, personagem interpretado por Otávio Augusto, cujo nome completo era Afonso Henriques de Lima Barreto, homônimo do homenageado. Além disso, havia uma foto de Lima Barreto com a faixa presidencial no gabinete do prefeito de Tubiacanga.

Vera Holtz e Cássia Kis Magro
Ainda em homenagem a Lima Barreto, os nomes das praças e ruas de Tubiacanga faziam referência aos romances e personagens criados pelo autor: praça Policarpo Quaresma, rua Gonzaga de Sá, entre outras.

As receitas de D. Ilka Tibiriçá (Cassia Kis Magro) fizeram sucesso entre os telespectadores. A emissora recebia enxurrada de cartas pedindo que os capítulos em que a personagem fazia os pratos afrodisíacos fossem reprisados para que as receitas pudessem ser anotadas. Os pratos eram adaptações de receitas verdadeiras, extraídas do livro Comer e Amar, escrito em 1986 pela empresária martiniquenha Lauretta Marie Josephe e pelo jornalista Okky de Souza. A única receita que não foi retirada do livro era o famoso Sarapatel das Delícias. Esse prato foi uma sugestão do veterinário Edson Ramos da Siqueira, professor do departamento de produção animal da Universidade de Botucatu, em São Paulo. Edson Ramos auxiliava a equipe de Aguinaldo Silva nas cenas em que Linda Inês (Giulia Gam) lidava com os carneiros. Além do Sarapatel, outras receitas famosas de Ilka Tibiriçá eram mexilhões com abóbora-menina, maionese de ovos de codorna com codornas assadas e frango com gengibre. Depois de gravadas as cenas, o elenco e a produção comiam todos os quitutes. 

Edson Celulari
O ator José Wilker contou que as improvisações eram permitidas e incentivadas na novela. Ele se lembra de ter dito frases em latim para a personagem de Cassia Kis Magro, a Ilka Tibiriçá, e de ter brincado com a sua função de prefeito, a de despachar, no sentido de desembargar. Um dia, ele pediu a um contrarregra para lhe arrumar uma tigela com farofa, um frango, uma vela e uma garrafa de pinga. A atriz Giulia Gam, que entraria em cena para contracenar com ele, foi pega de surpresa com o “despacho” que ele fazia.

Paulo Gorgulho e Cássia Kis Magro
Otávio Augusto também destacou a liberdade para improvisar. Durante a novela, o ator inspirou-se no filme Cyrano de Bergerac (1990), de Jean-Paul Rappeneau, e em citações do poeta para enriquecer as falas de Afonso Henriques. O ator achou que os acréscimos expressariam bem a tristeza do personagem ao ser dispensado por Camila (Claudia Ohana). - As cenas em que Rubra Rosa (Susana Vieira) e Demóstenes (José Wilker) fazem amor, quando tudo o que está ao redor dos dois pega fogo, foram inspiradas na personagem Marcina (Sônia Braga), da novela Saramandaia (1976), de Dias Gomes, que ardia em febre quando ficava excitada.

Marcos Winter
A pedido do diretor Paulo Ubiratan, a atriz Carolina Dieckmann, que vivia a doce Carol, teve de deixar a novela antes do final. O diretor escalou a atriz, iniciante na época, para viver uma personagem importante na novela Tropicaliente (1994) e pediu que Aguinaldo Silva a liberasse. Em 2005, Carolina Dieckmann voltou a atuar em uma novela de Aguinaldo Silva, dessa vez, como uma das protagonistas: a atriz estrelou Senhora do Destino.

Dennis Carvalho saiu no decorrer da novela para dirigir Pátria Minha (1994). A direção-geral de Fera Ferida foi assumida por Marcos Paulo.

Tarcísio Meira
Aguinaldo Silva fez uma referência à sua cidade natal na novela. Assim como Carpina, município brasileiro do estado de Pernambuco, Tubiacanga tinha a fama de ter o quinto melhor clima do mundo.

No último capítulo de Fera Ferida, o cinema da cidade de Tubiacanga anunciava a estreia da próxima atração das 20h da TV Globo, a novela Pátria Minha (1994), de Gilberto Braga.

Elenco:
Edson Celulari – Raimundo Flamel / Feliciano
Giulia Gam – Linda Inês
José Wilker – Demóstenes
Susana Vieira – Rubra Rosa
Lima Duarte – Emiliano
Joana Fomm – Maria Salustiana
Tarcísio Meira – Feliciano
Cássia Kiss Magro – Ilka Tibiriçá
Hugo Carvana – Numa
Arlete Salles – Margarida
Juca de Oliveira – Praxedes
Lucinha Lins – Laurinda
Cláudio Marzo – Orestes
Vera Holtz – Querubina 
Paulo Gorgulho – Ataliba Timbó
Cláudia Ohana – Camila
Otávio Augusto – Afonso
Cláudia Alencar – Perla
Marcos Winter – Cassy
Deborah Evelyn – Zigfrida
Rubens Caribé – Guilherme
Luiza Thomé – Maria dos Remédios
Odilon Wagner – Weber
Cláudio Fontana – Áureo
Maria Helena Dias – Júlia
Tonico Pereira – Chico da Tirana
Anna de Aguiar – Isolda
Giuseppe Oristânio – Maxwell
Camila Pitanga – Teresinha
Murilo Benício – Fabrício
Isadora Ribeiro – Dona Marquesa
Norton Nascimento – Votan
Julciléa Telles – Ivonete
Tuca Andrada – Carlos
Rosane Gofman – Vaina Marina
Ivan de Albuquerque – Mestre Nicolau
Maria Gladys – Lucineide
Ewerton de Castro – Genival
Maria Ceiça – Engrácia dos Anjos
Pedro Vasconcelos – Etevaldo
Cléa Simões – Cleonice
Antônio Pompeo – Joaquim
Daniela Faria – Daiana
Clemente Viscaíno – Juca
Carolina Dieckmann – Carol
André Gonçalves – Vivaldo
Bruno de Luca – Uilsinho
Fernanda Lobo – Belmira

Trilha Sonora

Nacional
Capa: Giulia Gam

Rio de Janeiro (Isto é o Meu Brasil) - João Bosco
Flor de Ir Embora - Fátima Guedes
Mon Amour - Rita Lee
Noites Com Sol - Flávio Venturini
Al Di Là - Emilio Pericoli
Corrupião - Edu Lobo
Fera Ferida - Maria Bethânia
Sangue Latino - Renata Arruda
Da Cor do Pecado – Fagner
Rosa - Marisa Monte
Sensual (Palácio Fácil) - Zé Ramalho
Corpo e Luz - Ithamara Koorax
Pálida - Vânia Bastos
Um Dia, Uma Música - Léo Gandelman

Internacional
Capa: Luiza Tomé

Eu Só Penso Em Você - Zezé Di Camargo & Luciano
Pessoa – Marina
Cobra de Chifre – Amelinha
Ao Poeta/ Primavera/ Deixa/ Marcha da Quarta-feira de Cinzas - Leila Pinheiro
Irmandade - Maria Ceiça
Velho Chorinho Novo - Aécio Flávio
Outra Noite - Chico Buarque
Você é Linda - Caetano Veloso
Minueto - Celso Adolfo
Garotos II: O Outro Lado – Leoni
Ao Watanabe - César Machado
Na Cadência do Samba - Waldyr Calmon



Abertura

Chamada

Capítulo 1

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