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Rainha da Sucata |
Patrícia Gadelha
Pillar nasceu no dia 11 de janeiro de 1964, em Brasília e passou boa parte da
infância mudando de cidade. “Morei dois anos em cada lugar, então, não tinha
raízes e quando voltei para o Rio definitivamente estava com essa necessidade
de encontrar a minha turma. No teatro encontrei um lugar aberto onde a gente
podia discutir as coisas de forma clara, franca, livre. Um espaço de liberdade
e de discussão, onde você podia colocar as relações familiares, amorosas, do
mundo”, relembra a atriz.
Patrícia
Pillar estudou Comunicação Social na CUP, atual Faculdade da Cidade, e na
Facha. Queria ser jornalista, “mas fui atropelada pelo desejo de ser atriz”,
pontua. Como não havia feito faculdade de teatro se matriculou na Casa de Arte
Laranjeiras (CAL) – que estava começando na época. Lá teve aulas com
professores que foram importantes para sua carreira. “O Aderbal Freire Filho
foi um farol na minha vida. O Rubens Correia foi uma pessoa importantíssima
para mim, que me deu as primeiras referências lúdicas que eu me lembro. E a
Juliana Carneiro da Cunha, que é uma grande atriz e bailarina”.
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Sinhá Moça |
Também
teve aulas com Paulo Reis, que havia dirigido, entre outras peças, Despertar da
Primavera e Happy End, e com ele criou o grupo
Marx Mellow. Sua primeira peça foi O Banho do Vladimir Maiakovisk em que
interpretava um pintor. “Nós montávamos coisas como Brecht, Arrabal,
Maiakovisk. Era uma aventura porque a gente fazia de tudo, imprimia as
filipetas, montava o cenário, fazia divulgação. O ator participava de todo o
processo. Fiz alguns espetáculos com esse grupo, então, o começo foi no teatro.
Até ir para o cinema e, por fim, televisão”, comenta Patrícia.
Seu
primeiro filme foi Para Viver um Grande Amor, de
Miguel Faria, baseado no Pobre Menina Rica, de Vinicius de
Moraes e Carlos Lyra. Na TV, começou em 1985, na Manchete, com o programa de
videoclipes FMTV e, no mesmo ano, foi para Globo para
fazer a novela Roque Santeiro. “Quem me chamou
foi o Paulo Ubiratan, que era uma grande figura de televisão, um cara pelo qual
eu tenho o maior carinho, a maior saudade e ele me ensinou muita coisa, não
sabia nada de televisão. Lembro que ele me convidou para fazer essa personagem,
que era a Linda Bastos, uma atriz de televisão, um pouco distraída, um pouco
sem formação, uma menina meio ingênua. Tive companheiros maravilhosos que me
ampararam porque eu era totalmente verde e eu lembro com muito carinho dessa
novela, a oportunidade que foi para mim de ver esses atores espetaculares,
acontecendo ali na minha frente, como Lima Duarte, Regina Duarte e José
Wilker”.
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Renascer |
Na
sequência fez Ana do Véu, na primeira versão de Sinhá Moça (1986), que marcou o início de sua
parceria com Benedito Ruy Barbosa, um autor com quem trabalhou diversas vezes
ao longo da carreira. “É um autor encantador, um cara absolutamente inspirado,
um amante do Brasil, dos brasileiros, da maneira de ser da gente, um grande
contador de histórias, um cara sensível, emotivo, parceiro. Nossa, tenho o
maior amor pelo Benedito é ali que tudo começou com Ana do Véu, que era uma
personagem interessante, porque ela era uma menina já virando mulher”. Vinte
anos depois, Patrícia também participou do remake da novela, mas interpretando
outra personagem, a Baronesa de Araruama, Cândida Ferreira. Seu antigo papel
foi interpretado por Isis Valverde.
Em
1987, fez Brega e Chique de autoria do Cassiano Gabus Mendes.
Era a história de duas mulheres, uma muito rica e a outra muito pobre e isso se
invertia ao longo da novela. As protagonistas eram Glória Menezes e a Marília
Pera, que fazia o papel da mãe de Patrícia. “Foi uma das novelas que eu me
concentrei menos na minha personagem, porque eu ficava realmente fascinada com
o trabalho dela (Marília Pera), que era lindo, uma “ídola” e ela foi
muito carinhosa comigo”.
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O Rei do Gado |
Em Rainha da Sucata (1990), Patrícia interpretou a Alaíde,
que era uma empregada doméstica. “Ela era ciente dos seus direitos e, ao mesmo
tempo que gostava de dançar e era divertida, era muito petulante também. Lembro
que ela bancava muito a patroa e tinha o Raul Cortez, que fazia o mordomo e ela
batia de frente com ele, e era uma delícia bater de frente com Raul e nós já
éramos amigos nessa época e eram cenas muito divertidas”. Renascer (1993)
e Rei do Gado (1996) foram duas novelas marcantes na
carreira da atriz. Ambas assinadas por Benedito Ruy Barbosa e dirigidas por
Luiz Fernando Carvalho. Na primeira, Patrícia interpretava Eliana. “Ela era
meio sem caráter, não era má, não era uma vilã, mas era uma mulher que gostava
da vida e gostava de dinheiro e não tinha muito escrúpulo, mas era muito
divertida. Lembro que eu tinha uma fala com a Eliane Giardini, que era casada
com o coronel e estava separada no momento, e minha personagem perguntava para
se ela queria o marido ainda, se ela não quisesse, ela queria”. Já em Rei do Gado, Patrícia viveu a boia-fria Luana, que
exigiu uma preparação especial antes de começar a novela.
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Cabocla |
“Passei
umas duas semanas morando numa casinha pequena de algum funcionário de uma
fazenda e a gente acordava quatro horas da manhã, começava um trabalho de corpo
e depois saía com os boias-frias. Fui aprender a cortar cana, a entender como
que é a vida daquelas pessoas e eu ter me aproximado dessa realidade foi
fundamental para eu ter noção do espírito, do que está por trás daquela
história. A Luana tinha uma vida muito triste, que fez com que ela se tornasse
uma menina valente e, ao mesmo tempo, muito arredia. Então, a princípio, podia
ser um personagem que não tivesse o meu perfil, mas é tão bom quando um autor e
um diretor não olham para você de maneira óbvia e te dão uma oportunidade de
ser atriz. A Luana foi das primeiras que eu senti uma gratidão mesmo e foi
muito interessante, porque o processo de trabalho do Luiz (Fernando Carvalho)
te dá condições de você ir se aproximando da personagem”.
Por
cinco anos, Patrícia deixou de fazer novelas e só voltou em 2001, em Um Anjo Caiu do Céu. Em 2004
fez Cabocla, em 2006, Sinhá Moça e em 2009, A Favorita, novela
que rendeu muitos prêmios à atriz, pela personagem Flora, sua primeira vilã.
“João Emanuel é um autor escandaloso. Ele não teve medo, ele arriscou muito.
Flora era uma doente, eu a compreendia, eu não a absolvia, mas eu a entendia.
Ela teve uma infância normal, até que a família da vizinha morreu num acidente
e os pais dela levam a menina órfã para morar em casa, que era a personagem da
Claudia Raia. E ela começa a desenvolver um complexo de inferioridade infinito,
porque a Donatela era muito exuberante, muito desinibida. Ela começa a criar um
ambiente de fantasia, masoquista que se transforma em sadismo depois, muito
louco, o processo de doença”, comenta a atriz. Em 2013, Patrícia Pillar
interpretou uma mãe dominadora e preconceituosa, a vilã Constância, em Lado a Lado. A novela
conquistou o prêmio Emmy do ano.
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Um Anjo Caiu do Céu |
No
período que esteve fora das novelas, Patrícia fez por dois anos o seriado Mulher (1998),
ao lado de Eva Wilma. As duas interpretavam médicas de uma clínica especializada
em atendimentos a mulheres. “A coisa mais deliciosa do mundo era a parceira com
Eva Wilma. Que mulher bacana, que atriz maravilhosa, uma companheira
espetacular. Nós fomos muito felizes ali. A série mostrava duas maneiras de
lidar com as mesmas questões e essas duas maneiras eram discutidas ali no
processo de trabalho da própria clinica, era muito legal. Era muito bacana,
porque eram uns textos com questões e comportamento, falava de certos tabus,
mas ao mesmo tempo não era chato”.
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A Favorita |
A
atriz também fez outras séries, como Divã (2012), Carga Pesada (2003) e As Brasileiras (2012), no episódio A Viúva do Maranhão. “Foi muito
gostoso, uma personagem divertida, que estava numa situação terrível, viúva já
há um tempo, doida para namorar e só que ela tinha um marido que era muito
querido na cidade, um cara muito poderoso e que os pretendentes não seguravam a
barra quando sabiam que ela era a viúva do cara. Então, ela acaba com a
reputação do marido, para finalmente conseguir namorar o personagem do Marcelo
Anthony”.
Apresentou
programas como Vídeo Show, logo no início de sua carreira na Globo, em 1986, e
Som Brasil, em 2011. No cinema, atuou em filmes como Pequenas Histórias (2007), Zuzu Angel (2006), Se eu Fosse Você (2006), O Quatrilho (1995), O Noviço Rebelde (1996), entre outros. E também se
arriscou como diretora em Waldick Sempre no Meu Coração (2007). “Fiz Zuzu Angel, um pouco
antes de começar o filme do Waldick. Um personagem muito difícil fazer. Um
filme pesado, mas bacana, poder ter feito essa mulher muito sofrida, que tinha
uma carreira como estilista, uma das primeiras brasileiras que levou a moda
nacional para fora do Brasil, aí tem esse filho militante do MR8 desaparecido e
que nunca foi encontrado. Depois me envolvi com a direção do filme que eu fiz,
que não foi só o filme, foi dirigir o show do Waldick (Soriano), produzir o
show, dirigir o DVD desse show e depois dirigir um documentário. Então foram
quatro, cinco anos que eu também fiquei bem envolvida com todo o processo
disso”, comenta a atriz.
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Lado a Lado |
Para
Patrícia, a escolha pela profissão de atriz se deu porque ela gosta de
trabalhar com as pessoas. “Eu me interesso por gente, tenho curiosidade, tenho
amor, tenho compaixão”. Quando tem que responder qual foi a personagem que mais
gostou de fazer e qual foi a mais difícil, Patrícia é categórica: “São duas
coisas que caminham juntas, a que eu mais gostei e a mais difícil. Acho que foi
a Flora na televisão porque foi muito radical, mas é difícil não falar da importância
da Luana do Rei do Gado para mim, das personagens do Benedito.
Não gostaria de me lembrar apenas de um momento, queria me lembrar de todos os
outros também”, finaliza.
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