Recordando a Carreira: 56 anos de Cássia Kiss
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Pantanal |
Filha caçula de um mecânico semi analfabeto e uma dona de
casa, Cassia Kis Magro nasceu no dia 6 de janeiro de 1958, em São Caetano do
Sul, interior de São Paulo. Chegou a prestar vestibular para a faculdade de
História, cismou de cursar matemática, mas optou mesmo foi pelo teatro, que já
a havia conquistado desde os tempos de escola. Após uma dica de uma professora
de literatura, matriculou-se na Fundação das Artes, então uma das mais
conceituadas escolas de música e artes da América Latina, que abrira uma filial
em São Caetano do Sul. Participou de uma companhia de teatro amador, rodou a
cidade apresentando peças e participou de festivais amadores pelo Estado, até
que conheceu o hoje respeitado diretor Ulysses Cruz, que a convidou para atuar
em Alice, o Que uma Menina Bonitinha como Você Faz
num País como Este?, de Paulo Afonso Grisolli. “Eu cantava 15 músicas,
com 15 coreografias, cercada de adultos. Fiz tudo na intuição. Foi bárbaro,
lindo”, emociona-se.
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Barriga de Aluguel |
A atriz estava definitivamente apaixonada pelas
artes cênicas, mas uma paixão mais humana, pelo diretor teatral Marcelo Souza,
mudou o rumo da sua vida, trazendo-a para o Rio de Janeiro. “No Rio, fiz parte
do grupo do Marcelo. Ficamos casados apenas um ano. Na época, eu sobrevivia do
sanduíche natural que eu fazia e vendia na Praia da Barra. Levava, também, para
vender no teatro, na coxia, aos meus colegas. Eu trabalhava na cozinha de um
restaurante natural, no Leblon, em troca de alimentação e do dinheiro da
condução. Não ganhava nada, não tinha salário”, relembra. Amigo de Cassia, o
ator Luiz Armando Queiroz, já falecido, indicou-a para o ator Flávio
Migliaccio, que protagonizava a série Tio Maneco na TV Educativa. Ela
já tinha experiência, pois fizera, na TV Bandeirantes, em São Paulo, a
novela Cara a Cara, em 1979. Foi aprovada e trabalhou um bom tempo fazendo
de tudo na programação da emissora estatal.
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Vale Tudo |
Em 1984, fez um teste para atuar em Livre
para Voar, de Walther Negrão, na Globo. “Eu e Miguel Falabella fizemos juntos
nosso primeiro teste na Globo”, pontua. Não passou, mas a atriz que ficara com
a vaga, Eliane Giardini, acabou desistindo, e o diretor Wolf Maya a convidou
para atuar. “Lembro do meu entusiasmo, da minha alegria, fiquei pulando de felicidade.
Agarrei aquela personagem com unhas e dentes, uma entrega absoluta, um brilho
no olhar”, garante. É claro que deu certo. A partir daí, atuou em episódios do
programa Caso Especial e foi convidada para o
elenco da minissérie Padre Cícero (1984),
de Aguinaldo Silva e Doc Comparato. Mas foi logo em seguida, em 1985, que ela
viveu seu primeiro grande sucesso: a Lulu das Medalhas, em Roque Santeiro,
de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. “Foi um marco na história da telenovela. Foi
realmente um divisor de águas, um sucesso estrondoso. Eu fiz uma personagem que
repercutiu muito. Era a novela das oito, e eu estava em três, quatro capas de
revista por semana. Foi interessante, porque eu ainda estava muito envolvida em
fazer as coisas do dia a dia: andava de ônibus e ainda ganhava muito pouco,
apesar de trabalhar na novela das oito, que fazia um sucesso fantástico”,
recorda.
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Quem é Você? |
Cassia foi convidada para protagonizar Roda
de Fogo, de Lauro César Muniz, mas não aceitou porque estava em cartaz,
dividindo a cena com Fernanda Montenegro. Não seria possível assumir ambos os
compromissos. Mas foi chamada para atuar em Brega & Chique, de
Cassiano Gabus Mendes, em 1987. Em seguida, viveu Leila, em Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e
Leonor Bassères. Um detalhe fundamental: Leila foi quem matou Odete Roitman. “A
novela também teve um sucesso avassalador. A morte de Odete Roitman tomou
tamanha dimensão, só se falava nisso, teve até concurso na televisão para
adivinhar quem havia matado Odete Roitman. No dia seguinte, eu estava estampada
na primeira página de todos os principais jornais do país, como a assassina de
Odete Roitman. Foi marcante, histórico!”, empolga-se, mais com a personagem do
que sua própria atuação.
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Porto dos Milagres |
Contratada por obra, no entanto, foi para a TV
Manchete fazer Kananga do Japão, de Wilson Aguiar Filho (1989), e
participar de Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa (1990), outro marco na TV
brasileira. Sua entrega era total, como não podia deixa de ser em se tratando
de Cassia Kis Magro: “Fiquei 40 dias no Pantanal e lembro que estava tão
impregnada daquela região que ficava com meu figurino, uma camisola, dia e
noite. Meus pés eram lama só; as unhas, pretas. Era uma loucura. Toda picada de
mosquito. Não tinha maquiagem, não tinha nada; meu cabelo comprido, meio
ensebado. Eu estava totalmente integrada ao lugar. Então, na hora de gravar, eu
não tinha que me concentrar em nada, já era dona daquela história. Foi lindo
fazer aquela novela no Pantanal”, relata.
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Por Amor |
Em seguida, voltou para a Globo para atuar em Barriga
de Aluguel, de Gloria Perez (1990), mais um sucesso em sua carreira. Também
atuou em diversos Casos Especiais e minisséries, e
emprestou sua voz para a narração em off do Criança Esperança. A atriz gosta de destacar o
episódio Mamãe Coragem, de Você Decide, como “uma das histórias mais lindas” de
que já participou: “Posso garantir que foi uma das coisas mais bonitas que vi
em televisão.” Na trama, Cassia era uma catadora de lixo que tinha cinco filhos
e se via num impasse: ou vendia um filho para salvar os demais ou assumia
aquela vida, cheia de percalços e miséria. “Eu gosto de contar uma história do
jeito mais verdadeiro possível, viver as experiências de forma intensa. Se vou
fazer o papel de catadora de lixo, quero viver aquilo; só falta ir morar embaixo
da ponte”, afirma.
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Eterna Magia |
Uma série de novelas e minisséries, além de
participações especiais, completam seu currículo na Globo: Quem é Você? (1996),
de Solange Castro Neves e Lauro César Muniz; Por Amor (1997), de
Manoel Carlos; o remake de Pecado Capital (1998), assinado
por Gloria Perez a partir do original de Janete Clair; Esplendor (2000),
de Ana Maria Moretzsohn. Em Porto dos Milagres (2001), de Aguinaldo
Silva e Ricardo Linhares, viveu a vilã Adma, mulher do inescrupuloso Félix,
personagem de Antonio Fagundes. Voltou a viver uma vilã em Eterna Magia (2007), de Elizabeth Jhin. Participou de outras
duas novelas da autora, Escrito nas Estrelas (2010)
e Amor Eterno Amor (2012). A atriz
também atuou em Sabor da Paixão (2002),
de Ana Maria Moretzsohn, Agora é Que São Elas (2003),
de Ricardo Linhares, Cobras & Lagartos (2006),
de João Emanuel Carneiro, Paraíso (2009),
adaptada por Edmara e Edilene Barbosa a partir do original escrito pelo pai
delas, Benedito Ruy Barbosa, Morde & Assopra (2011),
de Walcyr Carrasco, e Amor Eterno Amor (2012), de Elizabeth Jhin.
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Paraíso |
No teatro, já foi dirigida pelos principais
nomes da direção teatral brasileira, como Ulysses Cruz, Augusto Boal e José
Possi Neto, em inúmeras peças. Participou, ainda, de 17 longas-metragens, entre
os quais Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky
(2000), quando ganhou o Troféu Passista de atriz coadjuvante, do Festival de
Recife, e o Prêmio Qualidade Brasil 2001, de melhor atriz. Cassia Kis Magro emprestou sua imagem, ainda,
para duas campanhas sociais de grande alcance popular: em 1989, estrelou uma campanha
do Ministério da Saúde sobre a prevenção do câncer de mama; em 2006, foi
madrinha, no Brasil, da Semana Mundial do Aleitamento Materno, promovida pelo
Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria.
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