Autor: Warren G. Haris
Editora: Nova Fronteira
Número de Páginas: 306
Editora: Nova Fronteira
Número de Páginas: 306
“O que é preciso para você se tornar uma estrela de verdade é um elemento extra
que Deus pode lhe dar ou não. Você já nasce com ele. Não pode aprender. Deus
beijou o rosto de Audrey Hepburn, e ali estava ela”. (p. 9).
A
feliz frase que abre esta resenha crítica foi dita pelo diretor Billy Wilder,
um dos diretores que teve o privilégio (ou seria o contrário?) de trabalhar com
a atriz Audrey Hepburn. A afirmação também é a nota de abertura do primeiro
capítulo do livro “Audrey Hepburn – Uma Biografia”, escrito por Warren G.
Harris. A obra, que está dividida em 9 capítulos, cobre toda a vida de
uma das mais adoradas e queridas atrizes da história da indústria
cinematográfica e, por quê não, um dos seres humanos mais belos (interior e
exteriormente) que Deus colocou no mundo.
Poucas
atrizes de Hollywood podem se dar ao luxo de terem sido tão icônicas quanto
Audrey Hepburn. A força de sua persona pública – e da imagem que é associada a
ela – é tanta que Audrey conseguiu transpor as barreiras dos filmes que
estrelou e está imortalizada, não só em imagens de obras clássicas como “A Princesa e o Plebeu”, “Cinderela em Paris”, “Sabrina” e/ou “Bonequinha de Luxo”; bem
como através de sua importância para a moda (através de uma longínqua parceria
com Hubert de Givenchy e, na fase final de sua vida, com Ralph Lauren), uma vez
que ela criou um estilo próprio e que, até hoje, serve como modelo para
mulheres de todo mundo; e no pioneirismo do uso da celebridade para causas
nobres. Hoje, se fala muito sobre o trabalho de Angelina Jolie como
embaixadora da ONU, mas quem abriu as portas foi Audrey Hepburn, a qual
dedicou a fase final
de sua vida à causa da Unicef, trabalhando arduamente (até mesmo quando a
doença que lhe tirou a vida já lhe atingia) em prol das crianças de todo o
mundo, especialmente aquelas que são mais necessitadas.
Como
bem mostra o livro escrito por Warren G. Harris, a vida de Audrey Hepburn
poderia – veja a ironia! – ser um filme estrelado por ela mesma. A existência
de Audrey tem ares de um conto de fadas, com todas as alegrias, tristezas e
sacrifícios inerentes a esse tipo de fábula. Nascida em uma família de berço
aristocrático, em 4 de maio de 1929, desde muito jovem, viu o sofrimento de
cara. Ainda nenê, quase morreu de uma coqueluche. Por toda a sua infância e
parte da juventude, foi testemunha ocular e viveu pessoalmente todos os efeitos
catastróficos (fome, violência, miséria, dor e luto) da II Guerra Mundial.
Abandonada pelo pai, passou toda a sua vida achando que ele não a amava. Por
causa de sua altura (ela tinha mais de 1,70m), teve que abandonar o sonho de se
tornar uma bailarina. Despertou tarde demais pro amor e beijou muitos sapos até
encontrar o seu verdadeiro príncipe (o ator holandês Robert Wolders), aquele
homem que daria o amor tranquilo que ela tanto necessitava.
O
mais lindo nessa jornada toda é que Audrey pode retribuir em vida tudo aquilo
que foi feito por ela. Ela tinha uma necessidade enorme de dar amor, muito mais
do que receber este sentimento em troca. E ela fez questão de certificar a
todos aqueles que lhe eram tão queridos – especialmente seus dois filhos, a
mãe, os irmãos e o parceiro Robbie – disto. Ela pode fazer pela Unicef aquilo
que esta instituição fez por ela após o término da II Guerra Mundial. Ela pode
deixar sua marca no mundo e ela nos inspira a querermos ser alguém melhor.
Mesmo sem querer receber em troca, ela teve que aguentar isso: Audrey foi – e
continua sendo – amada, até mesmo por pessoas que nunca a viram na vida – e ela
sempre ficava muito surpresa de ver o efeito que causava nas pessoas em
geral.
Um
dos pontos altos da leitura de “Audrey Hepburn – Uma Biografia” são os capítulos
em que Warren G. Harris retrata a ascensão profissional da atriz em Hollywood,
especialmente os períodos de 1953, quando ela estreou em “A Princesa e o
Plebeu”, até 1967, com “Um
Clarão nas Trevas”, que muitos consideram ser o papel mais desafiador de
sua carreira. O autor desta biografia repete muito, neste relato, a palavra
sorte. E Audrey teve mesmo isto de sobra. Ela não era uma atriz treinada e
contou com o fortúnio de trabalhar com excelentes diretores (notadamente
William Wyler, o já citado Billy Wilder e Stanley Donen), que souberam
aproveitar a naturalidade e o carisma que lhe eram tão característicos em prol
dos personagens que ela interpretava – talvez, por estas duas razões que ela nos
encanta tanto. Trabalhar como atriz era para Audrey um ofício extenuante e que
tirava todas as suas forças – ela passava meses descansando entre um papel e
outro para se recuperar por completo.
O
descanso entre um papel e outro se converteu em aposentadoria após Hepburn
começar a “interpretar” aquele que seria o papel de sua vida: o de mãe de Sean
e de Luca, nascidos de seus casamentos com o ator Mel Ferrer (critiquem-no o
quanto quiserem por causa dos ciúmes que ele sentia do sucesso dela, por causa
do temperamento horrível dele e do sofrimento que ele a causou, mas verdade
seja dita: Audrey deve muito a ele, pois ele a instigou a aceitar papeis que
ela recusou de cara, como o de “Bonequinha de Luxo”) e com o psicanalista
Andrea Dotti. Entrando nesta seara mais pessoal da vida de Audrey, chama também
a atenção o fato de ela ter se casado com dois homens bem parecidos, no sentido
de que eles tinham uma personalidade forte. A trajetória de ambos os
relacionamentos também é a mesma, uma vez que Audrey prolongou os dois
casamentos e estendeu a sua infelicidade por causa dos filhos – o término só
veio quando os caminhos de Audrey e de seus ex-maridos já estavam completamente
distantes e opostos. Tanto que a sensação entre os amigos dela era a de que
nenhum deles era merecedor da Audrey. Ela era muito melhor que eles.
Pensando
assim, Audrey foi muito melhor que todos nós. Nas 298 páginas deste livro, não
existe uma palavra desabonadora sobre o caráter e a pessoa de Audrey Hepburn.
Todos, e faço questão de frisar, todos são unânimes em dizer o quanto que
ela era especial, o quanto ela era verdadeira, o quanto ela era desprovida de
vaidade, o quanto ela se doou para os outros. No livro, o produtor Janis
Blackshleger expressa muito bem essa sensação: “Todos sabíamos que Audrey
Hepburn era um mito. Mas ela era muito mais do que isso, era um grande ser
humano. Quando você estava com ela, se sentia mais bonito, melhor consigo mesmo
e com suas próprias possibilidades”. Eu me senti assim entrando em contato com
este livro. Audrey tem esse poder sobre a gente. Eu queria tê-la conhecido e
ver mesmo se ela era de verdade ou se ela, para citar Richard Dreyfuss (com
quem ela trabalhou no seu último filme, “Além da Eternidade”), “era um sonho.
(…) aquele tipo de sonho que você lembra quando você acorda sorrindo”.
Retirado de: http://cinefilapornatureza.com.br/2010/09/06/lendo-audrey-hepburn-uma-biografia/
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