Recordando a Carreira: 75 anos de Rosamaria Murtinho
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Escalada |
Rosamaria
Murtinho tinha 18 anos e acabara de voltar de uma temporada nos Estados Unidos
pensando em se dedicar seriamente à carreira de bailarina ou ao curso de
direito quando Paulo Francis mudou sua vida. O jornalista era o diretor do
Studio 53, grupo de teatro amador de seu irmão, Carlos Murtinho, e sugeriu que
ela substituísse uma atriz que ficara doente 15 dias antes da estreia de uma
peça. “Ele falou assim: 'Ah, Murtinho, não tem ninguém para botar, bota tua
irmã mesmo'. E nunca mais saí”. Não saiu mesmo: pouco depois, Silveira Sampaio,
dono do Teatro de Bolso de Ipanema, a contratou como atriz profissional. Em
seguida, ela foi convidada por Maria Della Costa para trabalhar na companhia
dela em São Paulo e fazer uma excursão à Portugal.
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Pecado Capital |
Rosa Maria Pereira Murtinho (Pereira de Mendonça, depois de casada) nasceu no
dia 24 de outubro de 1939, em Belém, no Pará, mas sua família se mudou para o
Rio de Janeiro quando ela tinha 3 meses de idade. Desde 1959, é casada com o
ator Mauro Mendonça, com quem teve três filhos: o diretor Mauro Mendonça Filho,
o ator Rodrigo Mendonça, e o produtor musical João Paulo Mendonça. Estreou como
atriz profissional em 1955, com a peça Sua Excelência em 26 Poses, de
Silveira Sampaio e Delmo Vasconcelos. Depois, participou de várias companhias e
atuou em espetáculos como A Rosa Tatuada(1957), de Tennessee Williams,
pela companhia de Maria Della Costa; A Gaivota (1959), de Anton
Tchecov, e Os Pequenos Burgueses (1962-1963), de Máximo Gorki,
encenadas pelo Teatro Oficina, do diretor José Celso Martinez Corrêa.
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Jogo da Vida |
Sua estreia na televisão aconteceu em 1960, no programa semanal de Vitor
Berbara, o Teatro de Variedades Moinho de Ouro, na Tupi carioca,
ao lado de Tônia Carrero, Paulo Autran e Magalhães Graça, que fazia o seu par.
“Eram sempre as peripécias dos dois casais. A gente ensaiava a semana toda para
se apresentar, porque era ao vivo”, conta. Sua primeira novela foi A Moça
que Veio de Longe(1964), de Ivani Ribeiro, na Excelsior. Rosamaria interpretou
a protagonista e sua atuação lhe valeu o prêmio Roquete Pinto de Melhor Atriz.
“Era uma espécie de Cinderela: eu era uma empregada doméstica que casava
com o filho do dono da casa. Foi um estouro.”
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A Próxima Vítima |
Em 1966, transferiu-se para a TV Tupi, onde estrelou telenovelas de grande
sucesso como A Inimiga(1966), de Geraldo Vietri, Somos Todos Irmãos (1966),
de Benedito Ruy Barbosa, e Paixão Proibida(1967). Ao lado de Mauro
Mendonça, esteve no elenco de A Muralha, de Ivani Ribeiro, baseada no
livro de Dinah Silveira de Queiroz, na TV Excelsior, em 1968. No
mesmo ano, estreou na Globo em O
Santo Mestiço (1968), de Glória Magadan, ao lado de Sérgio Cardoso. A
novela foi produzida em São Paulo, nos estúdios da TV Paulista, recém adquirida
pela Globo. “Havia três grandes duplas na Globo: a Yoná Magalhães com o Carlos
Alberto, a Glória Menezes com o Tarcísio Meira, e eu com Sérgio Cardoso. Foi
uma novela difícil, porque eu era uma policial e o Sérgio, um padre. No momento
em que ele pegava na minha mão, o clero inteiro reclamava, e também havia a
censura”.
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Salsa e Merengue |
Rosamaria voltou a atuar ao lado de Sérgio Cardoso em O
Primeiro Amor, (1972) de Walther Negrão. Seria a última vez que os dois
trabalhariam juntos: o ator morreu, vítima de um infarto fulminante, durante as
gravações da novela. “Eu havia ido passar o fim de semana em uma praia em São
Paulo e ouvi pelo rádio. Foi muito difícil, porque era um companheiro de muitos
anos. Muita gente trabalhou com o Sérgio, mas ninguém mais do que eu. Lembro
quando a gente estava representando, se ele notava que eu estava no escuro, me
botava na luz. Era de um cavalheirismo!”, relembra. O ator foi substituído por
Leonardo Villar nos capítulos finais.
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Estrela Guia |
Nos anos seguintes, a atriz atuou nas novelas Carinhoso (1973),
de Lauro César Muniz, e O
Espigão(1974), de Dias Gomes; e Escalada, de
Lauro César Muniz, Cuca
Legal, de Marcos Rey, e Pecado
Capital, as três em 1975. Na última, interpretou Eunice. “Minha personagem
se casava com o Francisco Cuoco, que era o protagonista. Ela se metia em muitas
trapalhadas e acabava matando uma pessoa”, relembra. Com a Arlete de Nina (1977),
novela de Walter George Durst baseada na obra de Galeão Coutinho, ganhou o
prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). “Eu
era a antagonista da Regina Duarte. Arlete era filha de um aristocrata, o Mário
Lago, que se apaixona pelo filho do imigrante, que era o Antonio Fagundes, que
ganhou o prêmio de Melhor Ator da APCA.”
Dois anos depois, em Pai
Herói, de Janete Clair, a atriz viveu Valquíria, personagem que sofria de
esquizofrenia. “Eu recebi uma carta que valeu por um prêmio. Era de uma senhora
dizendo que a filha dela era esquizofrênica, e que a filha não saía de casa
porque tinha medo das crises. Por causa da Valquíria, ela tinha perdido o medo
e estava levando uma vida normal”, conta. Em 1981, finalmente pôde exercitar o
seu talento para a comédia em Jogo
da Vida, de Silvio de Abreu, no papel da vilã Loreta Pires de Camargo, que
formava dupla com o Carlito de Raul Cortez. “Eu já fazia muita comédia em
teatro, mas em televisão minhas personagens eram todas sofredoras”, diz.
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Chocolate com Pimenta |
Ainda na década de 1980, a atriz deu vida à personagem Tarcila em Eu
Prometo (1983), a última telenovela escrita por Janete Clair, que
morreu antes de concluí-la, sendo substituída por sua assistente Gloria Perez.
Em Vereda
Tropical (1984), de Carlos Lombardi e Silvio de Abreu, foi a esnobe
Bárbara. Em seguida, participou da novela Jogo do Amor (1985), de
Aziz Bajur, no SBT. No ano seguinte, de volta à Globo, trabalhou em mais uma
novela de Silvio de Abreu, Cambalacho,
como a aristocrata e blasé Cecília “Céci” Pereira. “As novelas do
Silvio são tão boas que não consigo só ler o personagem, tenho que ler o
capítulo todo, porque é muito engraçado”.
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Sete Pecados |
Transferiu-se para a TV Manchete em 1989, participando de grandes produções da
extinta emissora, como Kananga do Japão (1989), de Wilson Aguiar
Filho, e Pantanal (1990), de Benedito Ruy Barbosa, na qual
interpretou a personagem Zuleika. Em seguida, afastou-se da televisão por
quatro anos, quando presidiu o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos
de Diversão (Sated-RJ). Apesar de afastada das telenovelas, Rosamaria continuou se dedicando ao teatro,
tendo atuado nas peças Direita, Volver! e Um Retrato de Corpo
Inteiro, de Claúdio Torres Gonzaga, e A Partilha, de Miguel Falabella. Em
1994, retornou à Globo, onde participou da minissérie Memorial
de Maria Moura, adaptação de Jorge Furtado e Carlos Gerbase da obra de
Rachel de Queiroz, quando foi dirigida pela primeira vez por seu filho Mauro
Mendonça Filho. “A minha personagem era uma víbora. No primeiro dia de
gravação, eu tinha que subir um morrinho, com uma botinha de salto, uma saia
comprida, batendo num menino, e acabou. Mas ele me mandou repetir três vezes. É
filho, mas ali ele era diretor.”
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O Astro |
Em seguida, participou de mais uma novela de Silvio de Abreu, A
Próxima Vítima (1995), como Romana, uma mulher que se orgulhava de
sustentar o amante, vivido por Alexandre Borges. “Era a vingança das mulheres,
não é? Porque homem pode dar tudo para a amante. Mulher, não”, diz. Depois,
esteve em Salsa
e Merengue (1996), que marcou a estreia da dupla de autores Miguel
Falabella e Maria Carmem Barbosa. Como Bárbara, mulher do personagem de Walmor
Chagas, a atriz viveu o drama de uma mulher de 60 anos que é trocada por uma
jovem, vivida por Cristiana Oliveira. E em Vila
Madalena (1999), de Walther Negrão, interpretou a divertida Margô,
contracenando com Ary Fontoura, no papel de Menezes. Ainda em 1999, fez uma
participação especial como a Princesa Isabel na minissérie Chiquinha
Gonzaga (1999), de Lauro César Muniz. Um ano antes, no teatro, a atriz
dera vida à própria Chiquinha, numa superprodução dirigida por Charles Möeller.
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Amor à Vida |
Na novela Estrela-Guia (2001),
de Ana Maria Moretzsohn, Rosamaria viveu a trambiqueira Carlota Salles, que
tinha como parceira de golpes Lucrécia (Lucinha Lins). “Era um personagem tão
engraçado que as crianças começaram a gostar. Como elas não podiam ficar
impunes, eles bolaram um final como se fosse desenho animado: a gente ficava
numa ilha deserta”, conta. Também viveu a Margot de Chocolate
com Pimenta (2003), escrita por Walcyr Carrasco; a Naná do seriado
infantojuvenil Malhação(2005); a Otília de Sete
Pecados (2007), de Walcyr Carrasco, na qual voltou a contracenar com
Ary Fontoura; e a Tia Madga, do remake de O
Astro (2011), escrito por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, a
partir do original de Janete Clair. Em 2013, a atriz interpretou Tamara na
novela Amor
à Vida, de Walcyr Carrasco. Rosamaria
Murtinho fez poucos filmes, mas ganhou o Kikito de Melhor Atriz do Festival de
Gramado de 1988 por Primeiro de Abril, Brasil, de Maria Letícia.
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