Recordando a Carreira: 85 anos de Fernanda Montenegro
|
Baila Comigo |
A
grande dama do teatro brasileiro também é uma grande atriz da televisão e do
cinema. Foi a única brasileira indicada ao Oscar e a primeira contratada pela
TV Tupi do Rio de Janeiro em janeiro de 1951. Fernanda Montenegro, nome
artístico de Arlette Pinheiro Esteves da Silva, nasceu em 16 de outubro de
1929, no Rio de Janeiro, no bairro do Campinho. Começou sua carreira aos 15
anos, como redatora, locutora e radioatriz da Rádio MEC. “Desde cedo, eu
trabalho muito. E a rádio foi a universidade que eu não tive”, conta. Pisou num
palco pela primeira vez com oito anos, para participar de uma peça na igreja de
seu bairro; mas sua estreia oficial no teatro aconteceu em dezembro de 1950, ao
lado de Fernando Torres, seu parceiro de toda a vida, em 3.200 Metros de
Altitude, de Julian Luchaire.
|
Brilhante |
Na Tupi, participou, por dois anos, de cerca de 80 peças, exibidas nos
programas Retrospectiva do Teatro Universal e Retrospectiva do
Teatro Brasileiro. Ganhou o prêmio de Atriz Revelação da Associação Brasileira
de Críticos Teatrais, em 1952, por seu trabalho em Está Lá Fora um
Inspetor, de J.B. Priestley, e Loucuras do Imperador, de Paulo Magalhães.
Já casada com Fernando Torres, mudou-se para São Paulo em 1954, onde fez parte
da Companhia Maria Della Costa e do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Lá, o
casal formou sua própria companhia, o Teatro dos Sete – com Sergio Britto,
Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida –,
que fez sua estreia, com imenso sucesso, em 12 de dezembro de 1959, com O
Mambembe, de Artur Azevedo, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. “Muita
gente acha um espetáculo histórico. Porque era como se nós tivéssemos concluído
50 anos de uma era: a mudança para Brasília, a contracultura que estava vindo,
uma outra estrutura libertária de vida estava sendo proposta”, conta.
|
Guerra dos Sexos |
De volta à Tupi carioca, atuou em mais de 160 peças do Grande Teatro Tupi,
de 1956 a 1965. Na TV Rio, estreou nas novelas, em 1963, em Pouco Amor Não
é Amor e A Morta sem Espelho, ambas de Nelson Rodrigues. Na
recém-criada TV Globo, participou do programa 4
no Teatro (1965), série de teleteatros sob a direção de Sérgio Britto.
No ano seguinte, na Tupi, foi a Amália, de Calúnia, novela de Talma de
Oliveira. E em 1967, estreou na TV Excelsior como Lisa, em Redenção, de
Raimundo Lopes. A novela teve 596 capítulos e se tornou um marco na história da
televisão brasileira.
|
Cambalacho |
A atriz deixou a Excelsior em 1970, e se manteve afastada da televisão durante
nove anos, intervalo durante o qual atuou em apenas dois trabalhos: no
teleteatro A Cotovia (1971), de Jean Anouilh, da Tupi, e num Caso
Especial da Globo, Medeia (1973), uma adaptação de Oduvaldo
Vianna Filho da tragédia de Eurípedes. O programa acabou superando em audiência
a estreia de Chacrinha na Tupi. A volta definitiva aconteceu em Cara a
Cara (1979), de Vicente Sesso, na TV Bandeirantes. Fernanda Montenegro estreou em novelas da Globo em 1981, em Baila
Comigo, de Manoel Carlos. A personagem, Sílvia Toledo Fernandes, foi
escrita especialmente para ela. No mesmo ano, viveu a pérfida milionária Chica
Newman de Brilhante,
de Gilberto Braga. “Chica Newman foi ótima, porque era a bandida da história.
Era aquela mulher terrível, rica, horrenda, mau-caráter, todas as distorções
que se projeta na gente da alta estirpe. Gilberto me deu dois papéis
maravilhosos: esse e a Olga (de O
Dono do Mundo).”
|
O Dono do Mundo |
Seu
maior sucesso até hoje na televisão, porém, foi em Guerra
dos Sexos (1983), novela de Silvio de Abreu, dirigida por Jorge
Fernando e Guel Arraes. A atriz protagonizou cenas hilariantes e inesquecíveis
ao lado de Paulo Autran, como os primos Charlô e Otávio. Obrigados a conviver
sob o mesmo teto e a trabalhar na mesma empresa, devido ao testamento de um
tio, os dois viviam em pé de guerra. “O encontro com o Paulo foi maravilhoso.
Nós entramos numa sintonia de comediantes e nunca tínhamos trabalhado juntos.”
Pela novela, Fernanda ganhou o prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de
Críticos de Arte (APCA). Do mesmo autor, também fez Cambalacho (1986), Sassaricando (1987), Rainha da Sucata (1990), As
Filhas da Mãe (2001), Belíssima (2006),
quando viveu outra vilã famosa, a Bia Falcão, e Passione (2010).
|
Renascer |
Atuou
também em duas novelas épicas de Benedito Ruy Barbosa: Renascer (1993)
e Esperança (2002),
na qual pôde reencontrar suas origens, no papel de uma avó italiana: “Eu tenho
avós italianos, que vieram para cá como imigrantes, no fundo de um navio, em
1897. Até meus 18 anos, quando a minha avó morreu, eu fui praticamente criada
por ela. Como convivi muito com ela. Ela queria me impregnar com toda uma
história, uma experiência passada oralmente. De certa forma, talvez seja eu a
última memória dessa minha avó”, diz. A atriz participou também de minisséries
como Riacho
Doce (1990),Incidente
em Antares (1994), O
Auto da Compadecida (1999) e Hoje é Dia de Maria (2005).
|
Riacho Doce |
Em
mais de 50 anos de teatro, a atriz ganhou diversos prêmios, por espetáculos
como A Moratória(1955), de Jorge Andrade, Mary, Mary (1963), de
Jean Kerr, Mirandolina (1964), de Carlo Goldoni, A Mulher de
Todos Nós (1966), de Henri Becque, É... (1977), de Millôr
Fernandes, As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant (1982), Rainer
Werner Fassbinder, Dona Doida (1987), de Adélia Prado, e The
Flash and Crash Days (1993), de Gerald Thomas, quando atuou ao lado da
filha, Fernanda Torres.
|
As Filhas da Mãe |
Estreou no cinema com A Falecida (1964), de Leon Hirszman, que lhe
deu o prêmio de Melhor Atriz na I Semana do Cinema Brasileiro (futuro Festival
de Brasília). Do mesmo diretor, fez também o clássicoEles Não Usam Black-Tie (1980),
adaptação da peça de Gianfrancesco Guarnieri. Em Redentor (2004), foi
dirigida por seu filho, Cláudio Torres; e também atuou na produção
internacional O Amor Nos Tempos do Cólera (2007), de Mike Newell,
como Tránsito Ariza, mãe do personagem do ator espanhol Javier Bardem. Além da
indicação ao Oscar, Central do Brasil (1999) lhe rendeu o Urso de
Prata do Festival de Berlim, entre vários outros prêmios.
|
Esperança |
Em
1999, Fernanda Montenegro foi condecorada com a maior comenda que um brasileiro
pode receber da Presidência da República, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do
Mérito, “pelo reconhecimento ao destacado trabalho nas artes cênicas
brasileiras”. Na época, uma exposição realizada no Museu de Arte Moderna (MAM),
no Rio de Janeiro, comemorou os 50 anos de carreira da atriz. Em 2004, aos 75
anos, recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Tribeca, em Nova York.
|
Belíssima |
Na
novela Passione,
de Sílvio de Abreu, Fernanda Montenegro viveu a personagem Bete, em 2010. Dois
anos depois, foi protagonista do último capítulo da minissérie As
Brasileiras como a artista Mary Torres no episódio Maria do
Brasil. Em 2012, protagonizou o especial de fim de ano Doce
de Mãe e garantiu o prêmio de Melhor Atriz no 41° Emmy Internacional. Em
2013, interpretou Dona Cândida Rosado, a Candinha, no remake de Saramandaia,
de Ricardo Linhares.
|
Passione |
|
Saramandaia |
Nenhum comentário:
Postar um comentário