O primeiro transplante de coração foi feito em 1967 na
África do Sul, e desde então as técnicas para proteger o receptor do coração e
o transporte do coração doado evoluíram. A sobrevinda dos receptores aumentou e
hoje os efeitos colaterais dos medicamentos imunossupressores (que impedem a
rejeição do órgão recebido) são muito menores e permitem uma vida
completa. A insuficiência cardíaca é uma doença
progressiva, e ainda que hoje seja possível estacionar os sintomas ou melhorar
a maioria dos pacientes, alguns evoluem para um quadro grave, onde a falta de
ar acontece mesmo em repouso. Nesses, alternativas de tratamento são o
ressincronizador cardíaco, os implante de "bombas" auxiliares ao
coração ou então o transplante cardíaco.
O transplante depende da retirada do coração de uma
pessoa que faleceu por morte encefálica. O coração pode ser transplantado desde
que esteja funcionando e em bom estado e seja compatível com o receptor em
características diversas, desde o tipo sanguíneo até peso e altura. Quando a
morte encefálica é confirmada pelos exames clínicos e de imagem e não existe
possibilidade do cérebro voltar a funcionar, o médico aciona a equipe de
procura de órgãos que atende o hospital. A equipe da procura de órgãos, com
profissionais altamente treinados, acompanha e verifica a realização dos
exames, avalia as condições clínicas do doador e, se considerado elegível,
conversa com a família e entende os desejos deles sobre o destino do parente
falecido. Se a família aceitar, são coletados novos exames para detecção de
doenças proibitivas. Ao sair os resultados dos exames é feita a oferta do órgão
pelo Sistema Estadual de Transplantes (Central de transplantes) à equipe
responsável pelo receptor que ocupa a primeira posição mais compatível com o
doador ofertado. A equipe transplantadora então deverá julgar a aceitação, se
sim, o receptor é avisado para comparecer ao hospital, caso ainda não esteja
internado. Além disso, o paciente é orientado a não beber ou comer mais nada a
partir do telefonema.
O receptor deve ter indicação de transplante e nenhuma
contraindicação. Deve ser credenciado em algum serviço de transplante
cadastrado no Ministério da Saúde, morar próximo ao centro de transplante e
passar na avaliação da equipe multiprofissional. Ele recebe um número de
cadastro e pode acompanhar seu lugar na fila.
Já na fila, deve esperar o chamado da equipe de
transplante. Quando houver um doador disponível compatível, ele deve comparecer
muito rapidamente ao hospital. Há um trabalho sincronizado entre a equipe de
captação e de transplante, de forma que quando a equipe de retirada oferece ok
para equipe de transplante, o receptor deverá iniciar a cirurgia o mais rápido
possível, uma vez que o coração fora do corpo consegue ser preservado por no
máximo quatro horas.
As principais indicações são insuficiência cardíaca
grave (falta de ar a pequenos esforços) que não responde ao tratamento e arritmia
ventricular sem possibilidade de tratamento documentada por testes clínicos e
exames laboratoriais (teste ergoespirométrico e teste de caminhada de 6
minutos). Contraindicações absolutas são doença hepática grave, doença pulmonar
grave, incompatibilidade com o doador, doença cerebral ou periférica graves e
possibilidade de não usar os remédios imunossupressores (doença psiquiátrica
grave ou dependência química).
Infelizmente pelos poucos doadores temos uma fila que
pode durar meses. Quando alguma pessoa interna e não consegue ter alta por
insuficiência cardíaca, necessita de drogas pra manter o coração batendo ou de
algum aparelho apenas por causa do coração sem força suficiente, ela vira
prioridade, pelo risco iminente de morte.
Pense em quem está esperando um coração, um rim, um
fígado ou córneas há anos. Pense se fosse você. O que justificaria você
não ser doador? Se você é doador avise sua família, só ela poderá
consentir a doação. Esse texto teve a contribuição inestimável da
enfermeira Amanda Bezerra, que é uma das enfermeiras do Serviço de
Procura de Órgãos e Tecidos do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Texto: Bruno Valdigem - cardiologista
Publicado em MSN.com
Texto: Bruno Valdigem - cardiologista
Publicado em MSN.com
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