segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Especial Novelas: Saramandaia (1976)


Juca de Oliveira
Os habitantes do fictício vilarejo de Bole-Bole estão mobilizados em torno de um plebiscito para a troca do nome da cidade para Saramandaia. Duas facções promovem uma intensa campanha. O coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) lidera os “tradicionalistas”, usando justificativas históricas para a conservação do nome original. Os “mudancistas”, liderados pelo coronel Tenório Tavares (Sebastião Vasconcelos), têm o apoio do vereador João Gibão (Juca de Oliveira), autor do projeto: eles alegam vergonha do nome Bole-Bole, relacionado a um episódio ocorrido com D. Pedro II na cidade.

Sônia Braga
Inspirado no realismo fantástico, Dias Gomes apresentou um painel de personagens exóticos para, por meio da ficção, abordar questões políticas, culturais e socioeconômicas, transformando a cidade fictícia da novela em um microcosmo do Brasil. O coronel Zico Rosado põe formigas pelo nariz; Dona Redonda (Wilza Carla) explode de tanto comer; a sensual Marcina (Sônia Braga) provoca queimaduras com o calor do corpo; o professor Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura) se transforma em lobisomem nas noites de quinta-feira. Além disso, sob a aparente corcunda, o pacato João Gibão esconde um par de asas.
No primeiro capítulo da novela, durante uma discussão sobre a mudança do nome da cidade, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) fica tão vermelho que o coração vai parar na boca. Ele consegue engoli-lo de volta, mas é dado como morto – o povo acha que ele não engoliu direito. Como era contra a substituição do nome Bole-Bole, os tradicionalistas logo passam a considerá-lo como o primeiro mártir de sua causa, dizendo que ele morreu de “indignação cardíaca”. O defunto, porém, volta à vida durante seu cortejo fúnebre.

Eloísa Mafalda
Interesses políticos e econômicos estão por trás da discussão sobre a mudança do nome da cidade. O coronel Tenório Tavares defende a troca, pois pretende lançar no mercado a cachaça Saramandaia, nome que fez questão de registrar antes mesmo da realização do plebiscito. A bebida será concorrente da cachaça Bole-Bole, produzida por seu inimigo, Zico Rosado, defensor ferrenho da manutenção do nome da cidade. A briga, extensiva aos partidários de um e outro, reflete a disputa política entre os dois coronéis, que agem através de meios lícitos e ilícitos para se manter no poder.

No capítulo 13, são apurados os votos do plebiscito, que dá vitória ao nome Saramandaia, em uma disputa apertada. Os tradicionalistas tentam impedir a mudança, e pedem ao professor Aristóbulo para entrar com um mandado de segurança para anular o plebiscito mas, alguns meses depois, o resultado é homologado. Como vários acontecimentos trágicos se sucedem – a explosão de Dona Redonda, uma seca interminável e a morte do filho do prefeito –, o povo é induzido a atribuir o azar à troca do nome da cidade, levando Zico Rosado a se aproveitar da fé popular para tentar fazer com que Saramandaia volte a ser Bole-Bole. Mas o novo nome é mantido.

Tramas Paralelas

Antônio Fagundes
João Gibão e Marcina:
João Gibão (Juca de Oliveira) e Marcina (Sônia Braga) são apaixonados, mas ele se esquiva dela para não revelar que tem asas, levando-a a acreditar que não é amada. A moça também tem suas esquisitices: volta e meia é acometida por uma febre muito alta que a deixa com o corpo em brasa, não raro provocando queimaduras em quem a toca. Até seu lençol carrega a marca do calor. Dr. Rochinha (José Augusto Branco) receita-lhe casamento como cura. Diante da frieza de João, que evita uma maior aproximação para que ela não descubra suas asas, Marcina passa a provocar-lhe ciúmes. Os dois terminam o namoro, e ela se aproxima do delegado Petronilho (Carlos Gregório). Seus pais logo querem vê-la casada com o rapaz que, no entanto, não está disposto a romper seu voto de castidade. Não suportando ficar distante de sua amada, João a pede em casamento, e o pai da noiva, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho), embora um “tradicionalista”, acaba aceitando. É somente na lua de mel que Marcina descobre o segredo de João, e acaba revelando a descoberta para sua mãe, Maria Aparadeira (Eloísa Mafalda).

Dina Sfat, Natália do Valle e Ary Fontoura
Risoleta e o lobisomem:
O romance de Risoleta com Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura) é um dos chamarizes da novela. Em vez de sentir medo do professor, que todos desconfiam virar lobisomem, a dona da pensão se sente atraída por ele e não descansa até descobrir a verdade. Por várias vezes, em noites de lua cheia, tenta segurá-lo em sua pensão até depois da meia-noite, mas o professor sempre dá um jeito de escapulir. Até que a própria Dona Pupu (Elza Gomes), mãe dele, revela tudo. Risoleta tanto faz que conquista Aristóbulo. Nos capítulos finais, ele passa uma noite de lua cheia com ela e, no dia seguinte, dorme profundamente. O professor não dormia há quase dez anos.

Wilza Carla
Seu Encolheu e dona Redonda:
Dona Redonda (Wilza Carla) e Seu Encolheu (Wellington Botelho) formam um dos casais exóticos da cidade. Ele prevê o tempo com uma simples dor nos ossos, ela não para de comer. Engorda tanto que, um dia, literalmente explode. Tempos depois de sua explosão, nasce uma rosa vermelha no buraco aberto na praça central. A flor, que chega a ficar do tamanho de um guarda-chuva, exala um cheiro forte e nauseabundo – segundo o povo, a gordura de Dona Redonda serve como fertilizante –, fazendo com que os moradores queiram destruí-la. O povo não aguenta mais o odor, que obriga os comerciantes próximos a fecharem as portas e acabou com a feira livre que existia no local. O único a não querer se desfazer da flor é Seu Encolheu, saudoso de sua esposa. Para evitar que ela seja arrancada, ele passa a fazer vigília na praça, armado. A flor, no entanto, é destruída no momento em que, convencido por Padre Romeu (Francisco Dantas) a ir a seu encontro na igreja, Seu Encolheu a deixa sob os cuidados do prefeito Lua (Antonio Fagundes). Ele não percebe a aproximação de um grupo de feirantes e vaqueiros, que dá fim à planta. Tempos depois, Dona Bitela (Wilza Carla), irmã de Dona Redonda, chega à cidade, e começa a engordar muito. Seu Encolheu se apaixona pela cunhada e os dois marcam casamento.

Castro Gonzaga
O ataque das formigas:
A situação do coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) é cada vez mais assustadora: ele não para de botar formigas pelo nariz. Um engenheiro é chamado para avaliar o estado de sua casa, cujas paredes estão cheias de rachaduras, e confirma que a construção corre o risco de desabar, pois as formigas cavaram túneis no assoalho, abalando os alicerces. Carlito (Milton Moraes), Dalva (Ana Maria Nascimento) e Santinha (Ana Ariel) decidem deixar a casa, mas Rosado não quer abandoná-la, já que é uma herança de família. No final da novela, a casa desaba e o coronel é engolido por um enorme buraco, desaparecendo nos escombros.

Curiosidades
Em sua autobiografia, Apenas um Subversivo (Bertrand Brasil, 1988), Dias Gomes declara que Saramandaia foi a novela que mais lhe deu prazer de escrever, embora não esteja entre as mais bem produzidas porque “exigia muitos efeitos especiais, uma tecnologia que a televisão só viria a dominar alguns anos mais tarde".

Yoná Magalhães e Sebastião Vasconcellos
O ator Pedro Paulo Rangel, que pela primeira vez interpretou um galã, aprendeu a andar de moto para viver seu personagem, Dirceu. No primeiro dia de gravação, caiu e quebrou a perna. A direção recorreu a um dublê, e Pedro Paulo passou a fazer suas cenas encostado, já que não podia se sentar.

Dias Gomes incluiu no enredo de Saramandaia personagens criados inicialmente para a novela Roque Santeiro, que havia sido censurada em 1975.

Tarcísio Meira e Francisco Cuoco fizeram participações especiais na trama, respectivamente como D. Pedro I e Tiradentes.

A novela marcou a estreia de Antonio Fagundes na TV Globo.

A Hofer S.A. lançou, na época da novela, a cachaça Saramandaia, consumida pelos personagens.

Para interpretar o professor Aristóbulo Camargo, que virava lobisomem, Ary Fontoura se inspirou na lenda do boitatá, a partir de um episódio ocorrido com um empregado de sua avó.

A cidade da novela tem uma cadeia atípica. Confortável, possui quadros nas paredes e vasos com flores. As celas ficam com as portas abertas, mas nunca houve um caso de fuga. Os presos são muito bem tratados e bebem até cerveja.

Milton Moraes e Rafael de Carvalho
Dias Gomes demonstrou cuidado para que a novela não virasse um melodrama. Ele deixa isso claro em nota no capítulo 58, referente a cenas em que Zélia (Yoná Magalhães) tenta convencer Lua (Antonio Fagundes) a autorizar que o filho seja submetido a uma transfusão de sangue. A nota do autor Dias Gomes dizia: “Em toda esta sequência existem cenas que podem facilmente descambar para o melodrama. Peço, por isso, a maior contenção”.

O autor deixou uma mensagem carinhosa para a equipe ao colocar o ponto final no último capítulo da novela: “Diretores, produtores, técnicos, atores e a todos que participaram desta produção. Quando lerem este capítulo, estarei voando, não com as minhas próprias asas, como Gibão, mas com as asas de um DC-10. Mas deixo aqui a minha sincera gratidão e o meu caloroso aplauso pelo brilho e pelo entusiasmo com que atuaram nesta novela. Até breve. Dias Gomes”.


Um incêndio no prédio da TV Globo, na rua Von Martius, no Jardim Botânico, quase inviabilizou a exibição da novela. Alguns cenários foram queimados e, por pouco, as fitas com o material gravado não foram consumidas pelo fogo, junto com fitas de outros programas. Com o incidente, Saramandaia passou a ser gravada em um dos estúdios da TV Educativa. Saramandaia passou a ser editada, respectivamente, em São Paulo e Porto Alegre, indo ao ar com imagens geradas em São Paulo. Os programas do Jornalismo também foram editados em São Paulo, e gerados de lá.

Elenco:
Juca de Oliveira – João Gibão

Sônia Braga – Marcina
Castro Gonzaga – Zico Rosado
Yoná Magalhães - Zélia
Antônio Fagundes – Lua Viana
Dina Sfat – Risoleta
Ary Fontoura – Professor Aristóbulo
Wilza Carla – Dona Redonda
Sebastião Vasconcellos – Tenório Tavares
Eloísa Mafalda – Maria Aparadeira
Rafael de Carvalho – Seu Cazuza
Elza Gomes - Pupú
Pedro Paulo Rangel – Dirceu
Milton Moraes – Carlito Prata
Lídia Costa – Leocádia Viana
Ana Ariel – Dona Santinha Rosado
Francisco Dantas – Padre Romeu
Marília Barbosa – Bia
Wellington Botelho – Seu Encolheu
Darcy de Souza – Juju Pimenta
Natália do Valle – Dora
Carlos Gregório – Petronílio
Stênio Garcia – Detetive Geraldo
Alzira Andrade – Fernanda
Cosme dos Santos – Giuseppe
Reynaldo Gonzaga – Epaminondas
Maria Pompeu – Ana Bruta
Ivan de Albuquerque – Germano
Brandão Filho – Maestro Cursino
Chica Xavier – Maria das Dores
José Augusto Branco – Rochinha
Wanda Kosmo – Dona Fifi
Carlos Eduardo Dolabella - Homão

Trilha Sonora

Capim Novo - Luiz Gonzaga

Sou o Estopim - Sônia Braga
Malaksuma - Geraldo Azevedo
Pra Não Morrer de Tristeza - Ney Matogrosso
Canção da Meia-noite – Almôndegas
Borboleta Sabiá - Alceu Valença
Pavão Mysteriozo – Ednardo
Chão Pó Poeira – Gonzaguinha
Jeca Total - Gilberto Gil
Juritis Borboletas - Geraldo Azevedo
Bole-Bole - Wálter Queiróz
Caso Você Case - Marília Barbosa
Xamêgo - Fafá de Belém

Abertura


Explosão de Dona Redonda

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