domingo, 16 de setembro de 2012

Especial Novelas - Pecado Capital (1975)


Primeira novela em cores transmitida às 20h, Pecado Capital buscou tratar com realismo o universo suburbano carioca a partir de um triângulo amoroso formado por um taxista, um viúvo rico e uma jovem operária que sonha em melhorar de vida. A autora da trama, Janete Clair, inovou ao fazer do chofer de táxi um herói não convencional das telenovelas, que morre no fim da história.

Carlão (Francisco Cuoco) é um motorista de táxi que vive um drama de consciência depois que assaltantes de banco em fuga esquecem em seu carro uma mala com o dinheiro roubado: não sabe se a entrega à polícia, correndo o risco de ser acusado de cúmplice do roubo, ou se usa o dinheiro para resolver seus problemas. Ele é noivo de Lucinha (Betty Faria), com quem tem uma relação apaixonada, mas tumultuada por brigas e ciúme, por conta do seu machismo.


- Lucinha é uma jovem sonhadora que trabalha como tecelã em uma fábrica de confecções, de propriedade do industrial Salviano Lisboa (Lima Duarte). Escolhida para estrelar uma campanha publicitária, começa a fazer sucesso como modelo, com o nome de Luci Jordan. Sua circulação por ambientes mais sofisticados, aliada à rudeza de Carlão, afastam-na da realidade do subúrbio, levando-a a se envolver com Salviano, homem gentil e sensível, cujos modos contrastam com os do ex-noivo. Os dois se apaixonam, e Lucinha é obrigada a enfrentar a desconfiança e a hostilidade dos filhos do empresário para concretizar seu amor: além de não aprovarem a relação do pai com uma mulher mais jovem e de outra classe social, eles estão certos de que a moça está interessada apenas no dinheiro da família.
Carlão não se dá conta de que não é o dinheiro, mas a distância cultural, representada por valores conflitantes, que o separa de seu amor. Para provar à ex-namorada que é capaz de competir com Salviano, ele compra uma frota de táxis com a quantia do assalto e dá início a sua ascensão social como empresário suburbano, ajudando moradores de sua comunidade. Passa a ser chamado de “Rei do Méier”. Penalizado, casa-se com Eunice (Rosamaria Murtinho), involuntariamente envolvida no assalto ao banco e que, com o sumiço da mala com o dinheiro, corre o risco de ser presa como cúmplice do roubo. O ex-taxista, porém, começa a gastar muito dinheiro. Para não perder o status, e por conta de sua obsessão por Lucinha, envolve-se em transações ilícitas com Sandoval (Alfredo Murphy), um perigoso marginal, que passa a ameaçá-lo, cobrando a dívida de um empréstimo.

No final da trama, Carlão decide ficar com Eunice. Redimido, vende a frota de táxis para devolver o dinheiro do assalto e, em seguida, entregar-se à polícia. Sandoval (Alfredo Murphy), porém, sequestra e tortura Elisete (Leina Krespi), que acaba revelando os planos do irmão. Carlão deixa a mala com o dinheiro nas obras de implantação do metrô do Largo da Carioca, no Centro do Rio, e avisa à polícia, sem saber que é seguido por Sandoval e seu comparsa. Ao avistar os bandidos, Carlão corre atrás dos dois e consegue recuperar a mala, mas é morto a tiros. Os bandidos são presos. Lucinha e Salviano se casam no mesmo dia.


TRAMAS PARALELAS
Carlão e Eunice
Envolvida involuntariamente no assalto ao banco por causa de Miguel (Zanoni Ferrite), desconhecido com quem inicia um flerte, Eunice (Rosamaria Murtinho) é pressionada pelo marido, Ricardo (Moacyr Deriquém), a sair do país e abandonar o filho, Paulinho (Fábio Mássimo). Mas ela não suporta a separação e retorna, sendo denunciada à polícia, pelo próprio Ricardo, como cúmplice do roubo. Eunice depõe na delegacia, mas não consegue identificar o taxista em cujo carro foi deixada a mala com o dinheiro roubado. Auxiliada por seu advogado, aguarda o inquérito em liberdade. Paralelamente, seu marido morre em um acidente. Chantageada por Jurandir (Gilson Moura), um dos assaltantes, que ameaça a vida de Paulinho em troca da mala, Eunice o mata. Carlão (Francisco Cuoco) se sente culpado pela situação de Eunice e aproxima-se dela e de seu filho para oferecer ajuda como amigo, sem revelar que é o taxista procurado pela polícia. Eunice, porém, descobre a verdade, e os dois se casam. Ela se apaixona realmente por Carlão e, de ex-moradora de Copacabana, passa a morar no subúrbio com o filho, na mesma casa de Raimundo (Gilberto Martinho) e Elisete (Leina Krespi), pai e irmã de Carlão. Sofre ao constatar que Carlão ainda ama Lucinha (Betty Faria), mas não o denuncia, incentivando-o a devolver o dinheiro do assalto.

Emilene e Virgílio
Muito jovem e inexperiente, Emilene (Elizangela) ainda é uma adolescente que não sabe que rumo dar a sua vida. Chega a se envolver com Vicente (Luiz Armando Queiroz), o filho mais velho de Salviano (Lima Duarte), que seduz várias garotas com promessas de casamento. Mas ela se apaixona mesmo por Virgílio (Lauro Góes), que enfrenta a tentação de abandonar sua vocação religiosa em nome do que sente pela irmã de Lucinha. Através do personagem, Janete Clair discutiu o celibato religioso. Os telespectadores aprovaram o casal mas, ao final da novela, Virgílio opta pela batina. A convivência com Virgílio faz Emilene amadurecer, e ela decide estudar Enfermagem.
 
Vilma
Vilma (Débora Duarte) é um dos principais obstáculos à relação de Salviano (Lima Duarte) e Lucinha (Betty Faria). Carente, insegura e perturbada, ela nunca aceitou a morte prematura da mãe, uma das razões por que é desajustada. A filha caçula de Salviano anda com jovens
transgressores e gosta de se expressar através dos desenhos que cria. Em seus momentos de fuga da realidade, fala uma língua estranha – que atribui a um fictício país – e conversa com os animais. A cena em que conversa com uma lesma causou tanta repercussão que Janete Clair escreveu outra cena da personagem contracenando com o molusco. O único que consegue lidar com Vilma é o seu psiquiatra, Percival (Milton Gonçalves), que gradualmente conquista sua confiança e a ajuda a entender e vencer seus medos
 

Vitória e Percival

Janete Clair ensaiou um romance do psiquiatra Percival (Milton Gonçalves) com a filha mais velha de Salviano (Lima Duarte), Vitória (Theresa Amayo), cujo casamento com o dominador Hernani (Dary Reys) entra em crise. Vitória não é feliz no casamento e anseia por maior liberdade, além de não aprovar as atitudes discutíveis do marido, que tanto bajula quanto trama contra o sogro. Percival chega a mudar-se para o mesmo prédio de Vitória, e os dois ficam mais próximos, principalmente por conta dos problemas de Vilma (Débora Duarte). O relacionamento de um negro com uma branca seria uma forma de abordar a discriminação racial no Brasil, mas o público reagiu mal, e a história entre os dois não aconteceu.
 

CURIOSIDADES
- Em 1975, estava tudo pronto para a exibição da primeira versão de Roque Santeiro, quando, às vésperas da estreia, a Censura vetou a novela, instaurando uma crise na programação da Rede Globo. Um compacto de Selva de Pedra (1972) foi levado ao ar enquanto a emissora estudava sinopses que pudessem ser produzidas no curto prazo de três meses. Janete Clair, que já passara pela experiência de escrever uma sinopse em tempo recorde – O Semideus (1973) –, ofereceu-se para repetir a façanha. Para criar a sinopse de Pecado Capital, Janete Clair deixou Bravo!, a novela das sete que escrevia na época, a cargo do colaborador Gilberto Braga. A maior parte do elenco de Pecado Capital era formada por atores escalados para a primeira versão de Roque Santeiro. Janete Clair escreveu sua trama substituta pensando neles, porque temia que permanecessem muito tempo desempregados. Na novela censurada, Francisco Cuoco interpretava Roque, Betty Faria era a Viúva Porcina, e Lima Duarte vivia Sinhozinho Malta (papel que voltou a interpretar na versão de Roque Santeiro levada ao ar em 1985).

- A sinopse original de Janete Clair previa que Lucinha terminaria a novela com Carlão, que devolveria o dinheiro no fim da trama. Mas isso não aconteceu. O diretor Daniel Filho conta que as várias modificações que sugeriu para o roteiro levaram a novela para outro rumo. Uma vez que o romance de Lucinha com Salviano havia indiscutivelmente ganhado força na história e conquistado o público, o diretor ponderou com a autora que seria um erro desfazer o casal. Considerou, ainda, que um amor como o da tecelã e do taxista só deixaria de existir graças a uma tragédia. Para Daniel Filho, a condição para que Lucinha ficasse com Salviano era que Carlão morresse. Janete Clair acabou concordando que era preciso provar ao telespectador que a televisão era capaz de surpreendê-lo.

- Daniel Filho teve de convencer Betty Faria – sua esposa, na época – a aceitar o papel de Lucinha. A atriz, que interpretaria a Viúva Porcina na primeira versão de Roque Santeiro, não se entusiasmou de imediato com a personagem, julgando-a parecida demais com as mocinhas clássicas que marcaram a carreira de Regina Duarte. Ironicamente, Lucinha acabou sendo um dos seus maiores sucessos na televisão.

- Pecado Capital estreou com enorme audiência nas maiores cidades do Brasil, e é considerada por muitos a melhor novela de Janete Clair. Em sua coluna diária no Segundo Caderno do jornal O Globo, espaço onde falava sobre televisão, o jornalista Artur da Távola considerou Pecado Capital uma das novelas que constitui a trinca de ouro da obra de Janete Clair, ao lado de Irmãos Coragem (1970) e Selva de Pedra (1972). Mas posicionou Pecado Capital como a mais madura e contida das três produções.


- Um remake de Pecado Capital foi produzido e apresentado pela Rede Globo, em 1998, no horário das 18 horas. A novela, assinada por Gloria Perez, teve direção de núcleo de Wolf Maya, e tinha no elenco Carolina Ferraz, como Lucinha, e Eduardo Moscovis, como Carlão. Francisco Cuoco também atuou nessa segunda versão, desta vez, no papel de Salviano Lisboa. Vilma, personagem que havia sido de Débora Duarte, foi entregue à sua filha, Paloma Duarte. André Valli, que na primeira versão viveu o personagem Claudius, interpretou Orestes, o pai de Lucinha, na segunda versão da novela. Mário Lago também atuou nas duas novelas, no mesmo papel: o do advogado que defende Eunice (Rosamaria Murtinho/Cássia Kiss) no inquérito sobre o assalto ao banco. Na primeira versão, ele se chamava Peres. Na segunda, Amato. A segunda versão de Pecado Capital contou com as participações especiais de Betty Faria, como uma trocadora de ônibus que tem um breve diálogo com Lucinha, e Lima Duarte, como o bandido que mata Carlão no desfecho da trama.

O último capítulo de Pecado Capital foi exibido no mesmo dia do incêndio ocorrido no prédio da TV Globo, na rua Von Martius, no Jardim Botânico, em 4 de junho de 1976. O fogo começou às 13 horas e só foi apagado à noite, o que fez com que a programação da emissora fosse gerada de São Paulo durante a tarde e a noite do incidente. No dia seguinte ao incêndio, a partir das 18h, a programação voltou a ser gerada da sede da emissora, no Rio de Janeiro.

Abertura da Novela Pecado Capital (1975)

Último capítulo da novela pecado Capital (1975)

Cena Antológica - A Morte de Carlão

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