domingo, 2 de setembro de 2012

Especial Novelas - Vale Tudo (1988)


Corrupção e falta de ética foram enfocadas em Vale Tudo, que denunciava a inversão de valores no Brasil no final dos anos 1980. Os autores centraram a discussão sobre honestidade e desonestidade no antagonismo entre mãe e filha: a íntegra Raquel Accioli (Regina Duarte) é o oposto da filha Maria de Fátima (Glória Pires), jovem inescrupulosa e com horror à pobreza que, logo nos primeiros capítulos da novela, vende a única propriedade da família, no Paraná, e foge com o dinheiro para o Rio de Janeiro com o objetivo de se tornar modelo. Raquel vai atrás da filha e conhece o administrador de empresas Ivan Meirelles (Antonio Fagundes), por quem se apaixona. Para ganhar a vida, passa a vender sanduíches na praia, com a ajuda do amigo Audálio (Pedro Paulo Rangel), conhecido como Poliana.


- Enquanto a mãe batalha para sobreviver honestamente, Maria de Fátima se alia a César (Carlos Alberto Riccelli), um mau-caráter que a estimula a seduzir o milionário Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes), de olho na fortuna do rapaz. Afonso é namorado da jornalista Solange (Lídia Brondi), que acolheu Maria de Fátima quando esta chegou ao Rio, e filho da poderosa empresária Odete Roitman (Beatriz Segall), diretora da Companhia Aérea TCA. Odete também é mãe de Heleninha (Renata Sorrah), artista plástica frágil e insegura, que sofre com o alcoolismo. A rica executiva manipula a vida dos filhos e trata mal os empregados, além de se achar superior a todos.
 
- Obstinada em se casar com Afonso, Maria de Fátima aceita a proposta indecorosa de Odete, que pede que a jovem separe Raquel de Ivan, prometendo fazer seu filho casar-se com ela. A vilã quer Ivan disponível para se casar com sua filha Heleninha. Maria de Fátima faz mais uma de suas armações e consegue acabar com o relacionamento e a felicidade de sua mãe, que rompe com Ivan, acusando-o de desonestidade. Magoado, Ivan se casa com Heleninha.


- No acordo firmado com Odete Roitman, Maria de Fátima teria direito à fortuna de Afonso após dois anos de casamento. O tempo passa, mas, dois meses antes do prazo, Odete descobre o romance da nora com César, com quem ela própria mantinha um caso. Desmascarada, sem o apoio da vilã, Maria de Fátima fica sem nenhum tostão e vai procurar Raquel, agora proprietária de uma rede de restaurantes. Raquel, após muitas decepções, recusa-se a ajudar a filha.

- A novela mostrou um final inusitado, ao não punir os personagens de má índole: Maria de Fátima se casa com um nobre italiano gay, em mais um plano idealizado por seu amante César; e Marco Aurélio, depois de aplicar um grande golpe financeiro, foge do país com Leila, dando uma banana para o Brasil, em cena que virou uma das mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira.


Quem matou Odete Roitman?
No capítulo 193, que foi ao ar no dia 24 de dezembro de 1988, véspera de Natal, a vilã Odete Roitman (Beatriz Segall) foi assassinada com 3 tiros. Apesar do mistério do assassino ter durado apenas 13 dias, o assunto dominou as conversas pelo país, lançando a pergunta "Quem matou Odete Roitman?". No último capítulo, revela-se que Odete Roitman havia sido morta, por engano, por Leila (Cássia Kiss), que pensa estar atirando em Maria de Fátima (Glória Pires), a qual havia se tornado amante de seu marido, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), ex-genro de Odete. A cena do disparo foi gravada no dia em que o último capítulo foi ao ar. A identidade do assassino foi revelada na sexta-feira, dia 6 de janeiro de 1989, nem os próprios atores tiveram acesso ao verdadeiro final, que foi gravado em cinco versões diferentes. No dia da exibição da morte de Odete, em pleno sábado de Natal, a novela registrou 81 pontos no Ibope, com picos de 92. No último capítulo, a novela teve 86 pontos com picos de 94.

TRAMAS PARALELAS  
Uma banana para o Brasil

- O personagem Marco Aurélio (Reginaldo Faria) foi um dos destaques de Vale Tudo. Braço direito de Odete Roitman (Beatriz Segall) nos negócios, foi casado com Heleninha (Renata Sorrah), com quem tem um filho, Tiago (Fábio Villa Verde). Marco Aurélio vive um drama pessoal, pois desconfia que o filho seja gay. Mau-caráter, ele desvia dinheiro da empresa para sua própria conta. Ao longo da trama, ele se casa com Leila (Cássia Kiss), ex-mulher de Ivan (Antonio Fagundes).

Cecília e Laís
- Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) mantinham um romance na novela. Cecília era irmã de Marco Aurélio (Reginaldo Faria), que, sob nenhuma hipótese, aceitava o relacionamento dela com outra mulher. Cecília morre em um acidente de carro e deixa seus bens para Laís, mas Marco Aurélio faz o possível para impedir que a moça receba a herança. O autor da novela, Gilberto Braga, disse em entrevista que , na época, o público torcia para que Laís encontrasse um novo amor.     

Aldeíde Candeias
Irmã de Poliana (Pedro Paulo Rangel) e secretária de Marco Aurélio (Reginaldo Faria), Aldeíde Candeias (Lilia Cabral) se casa com um português rico e herda várias quintas. Como sempre quis ser famosa, grava um comercial, no qual não vende nada, apenas diz: “Aldeíde Candeias: ‘Ainda vou incendiar essa cidade’.” 
 CURIOSIDADES
- Os autores aumentaram o clima de suspense escrevendo cinco versões diferentes para o último capítulo, ao qual o elenco só teve acesso durante a gravação da cena. O mistério da identidade do assassino de Odete Roitman, embora tenha durado apenas 11 capítulos, povoou as conversas pelo país. Houve até um concurso, patrocinado por uma indústria alimentícia, para premiar quem acertasse o nome do assassino.


- Segundo Aguinaldo Silva, que assinou a autoria da novela com Gilberto Braga e Leonor Bassères, a escolha de Leila (Cássia Kiss) como a assassina foi uma decisão tomada de última hora pois, da forma como a cena foi armada, vários personagens poderiam ter praticado o crime.

- Odete Roitman conquistou grande popularidade e se transformou em uma das mais destacadas vilãs da teledramaturgia. A personagem marcou a volta de Beatriz Segall à TV Globo após cinco anos longe da emissora. Seu último trabalho havia sido na novela Champagne (1983), de Cassiano Gabus Mendes, na qual interpretou Eunice, uma mulher pobre e humilde, que contrastava com os papéis de grã-fina que se acostumara a fazer na TV.


- A autoria de Vale Tudo é normalmente atribuída só a Gilberto Braga. Poucos lembram que a trama também foi assinada por Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. O próprio Braga faz questão de salientar a importância dessa colaboração. Aguinaldo Silva, por exemplo, era o responsável por fazer as escaletas (estruturas do roteiro).


- Vale Tudo marcou a estreia dos atores Marcello Novaes e Flávia Monteiro na TV Globo. Um dos destaques foi o ator Fábio Vila Verde. A novela foi reapresentada entre maio e novembro de 1992, em Vale a Pena Ver de Novo. Em 2010, Vale Tudo foi reprisada no Canal Viva, veiculado na TV fechada, e voltou a fazer enorme sucesso, apesar do horário em que era exibida: de segunda a sexta, às 0h45. A reprise da trama trouxe à tona novamente as discussões e os dramas vividos pelos personagens, além de mostrar ao público os modos e costumes do final dos anos 80. Chamou a atenção o visual dos atores, todos 22 anos mais jovens.
 
 AÇÕES SOCIOEDUCATIVAS
- Além de tratar de problemas sociais e discutir valores como ética e honestidade, a novela abordou o drama do alcoolismo, mostrando o processo de recuperação dos dependentes por meio da frágil artista plástica Heleninha Roitman (Renata Sorrah), que tem medo de enfrentar a mãe e se submete às suas manipulações. Odete Roitman (Beatriz Segall) faz a filha acreditar que é a responsável pela morte de seu irmão, e vive alimentando sua culpa. Ao fim da trama, em cena esclarecedora sobre o processo de recuperação dos dependentes e de suas dificuldades, Heleninha recorre à ajuda dos Alcoólicos Anônimos. O diretor Dennis Carvalho chegou a fazer uma participação na trama como William, que leva Helena a reuniões do AA, e os dois se tornam namorados. Fora da ficção, como brincadeira, o nome da personagem acabou sendo incorporado pelo público como sinônimo de alcoólatras ou pessoas embriagadas.
 
CENSURA
- O tema do homossexualismo feminino, protagonizado por Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin, sofreu intervenção da Censura Federal: vários diálogos entre Laís e Cecília, suas personagens, tiveram de ser reescritos, depois que foi vetada a cena em que as duas contavam a Heleninha (Renata Sorrah) sobre os preconceitos de que eram vítimas por causa de seu relacionamento. 

Abertura da Novela Vale Tudo (1988)

Chamada de elenco Oficial - Vale Tudo (1988)

Morte de Odete Roitman (Beatriz Segall)

Leila (Cássia Kiss) é a assassina de Odete Roitman (Beatriz Segall)

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