terça-feira, 7 de agosto de 2012

Entretenimento - Especial Novelas Censuradas



Assistir novelas, um dos grandes hábitos do brasileiro, sobreviveu à ditadura, mas não sem algumas cicatrizes. Para não esquecer o passado e, assim, não repetir os erros no futuro, no último dia 3 de agosto foi comemorado o fim da censura no Brasil, de acordo com a Constituição Brasileira de 1988.

Confira a seguir algumas obras que foram vetadas ou modificadas



O ano é 1975. Pouco depois do jantar, a família se reúne na sala. Com a TV ligada, assiste ao final do telejornal e espera pelo início da nova novela das 20h. É então que o apresentador Cid Moreira lê um editorial que marca um dos momentos mais emblemáticos da repressão à produção cultural brasileira: assinado pelo presidente da Rede Globo, Roberto Marinho, o texto anuncia o veto à novela "Roque Santeiro", que estrearia em seguida. Censurada, ela só vai ao ar 10 anos mais tarde, com elenco reformulado - José Wilker e Regina Duarte assumem os lugares de Francisco Cuoco e Betty Faria como Roque e viúva Porcina. Essa decisão do governo militar foi apenas uma de uma série capaz de tirar o sono de atores, diretores e roteiristas.

Escrita por Janete Clair, “Irmãos Coragem” fazia uma analogia entre a política brasileira da época e a postura arbitrária do coronel de Coroado, onde se passava a trama. O coordenador do Núcleo de Análise da Teledramaturgia (NAT) da Universidade do Vale Do Rio dos Sinos (Unisinos), no sul do País, Andres Kalikoske, lembra a candidatura do personagem Jerônimo Coragem à prefeitura da cidade. 'Como a novela atingia tanto a audiência feminina quanto a masculina, tornou-se um trunfo para os políticos esquerdistas, que engambelaram os populares para que anulassem seus votos. Foi assim que, durante as eleições de 1970, em que se elegeriam senadores e vereadores, grande parcela da população brasileira anulou seu voto votando em 'Jerônimo Coragem', diz. Segundo a TV Globo, a censura fez com que a autora criasse várias tramas, que a ajudaram a modificar o roteiro de acordo com a pressão exercida pelo governo.


Também escrita por Janete Clair, “O Homem que deve morrer” tratava da história de um homem com trajetória semelhante à de Jesus Cristo. Com o argumento vetado pela censura e os scripts dos dez primeiros capítulos proibidos, a autora foi obrigada a se basear no livro 'Eram os Deuses Astronautas?', de Erich Von Däniken. De acordo com a TV Globo, essa foi a estratégia para que Janete pudesse abordar os poderes mediúnicos de Ciro relacionando-os aos extraterrestres, tema abordado pelo escritor suíço.

 
Mais uma novela das 20h, Selva de Pedra, escrita por Janete Clair, tratava de reencarnação, intolerância e preconceito - temas polêmicos para a realidade da época. A produção também sofreu modificações do DCDP: de acordo com a TV Globo, a sinopse apontava o casamento entre Cristiano (Francisco Cuoco) e Fernanda (Dina Sfat) depois que Simone (Regina Duarte) fosse considerada morta em um acidente de carro. O departamento, no entanto, vetou a união sob o argumento de que a personagem estava viva e que o casamento consistiria em bigamia. Como resultado, a autora teve de reestruturar a novela, reescrevendo 22 capítulos - sete em um único fim de semana. Fernanda acabou abandonada no altar.


A trama de Dias Gomes, O Bem Amado sofreu restrições no vocabulário dos personagens. A censura proibiu que alguns personagens fossem chamados de ‘coronel’, como o folclórico prefeito Odorico Paraguaçu, ou Capitão, apelido de Zeca Diabo. A justificativa era de que o tom era pejorativo e atingia os militares. O tema de abertura também teve que ser substituído: saiu uma música do Toquinho com o Vinícius de Moraes e entrou uma genérica, gravada pelo coral da Som Livre. De acordo com a TV Globo, a música original era 'Paiol de Pólvora', proibida pela censura devido ao verso “estamos sentados em um paiol de pólvora”.


"Dinheiro na mão é vendaval". Pecado Capital, trama exibida às 20h, girava em torno de um triângulo amoroso formado por um taxista, um rico viúvo e uma jovem operária que sonhava mudar de vida. A história de Carlão (Francisco Cuoco), escrita por Janete Clair, é uma obra da ditadura. Isso porque o sucesso nasceu da necessidade de encontrar uma substituta para "Roque Santeiro", tarefa para a qual escreveu uma sinopse em tempo recorde. À época, a Globo transmitia um compacto de "Selva de Pedra", que deu lugar a uma das produções de maior audiência na história da emissora.


Em uma história de quedas e superações, a novela Escalada de Lauro César Muniz retratava períodos importantes da história do Brasil, como a construção de Brasília. A censura federal, no entanto, impediu a menção ao nome do ex-presidente Juscelino Kubitschek, um dos responsáveis pela criação e execução do projeto. Segundo a TV Globo, há episódios em que outras indicações do DCDP foram ignoradas - como na cena em que o personagem Horácio, interpretado por Otávio Augusto, lia a carta-testamento de Getúlio Vargas. O diretor Daniel Filho não levou o veto adiante e a cena, considerada fundamental para a trama, foi ao ar - sem qualquer manifestação do governo a respeito.


A primeira versão de Roque Santeiro foi completamente censurada. Dez capítulos estavam editados e cerca de 30 finalizados quando a Censura do Regime Militar impediu que a história de Dias Gomes fosse exibida. Justificaram que mensagens subliminares contidas na narrativa poderiam ofender a moral, os bons costumes e a Igreja. A Globo enfrentou um enorme prejuízo, uma vez que a novela do horário nobre é o produto de maior rentabilidade da emissora. Betty Faria perdeu o que talvez fosse o maior papel de sua carreira, mas Regina Duarte o defendeu muito bem, em 1985, com uma impagável interpretação da viúva Porcina. A segunda versão, produzida em 1985, era praticamente igual à primeira. Segundo a TV Globo, não houve introdução de personagens, nem intervenções substanciais na história central.

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